"As redes virtuais constituem um plano de imanência. Elas são transcendentais. Tanto as produções digitais como a cultura digital fazem parte do plano de imanência cuja proliferação as precipitam numa potencialização sem precedentes. Há um processo constante de heterogenização que se dá principalmente por replicações livres e por procedimentos de alteridade através de devires descodificados. Disto advém o principal acontecimento da cultura da imanência que é o anarqui-culturalismo, ele é o jogo livre entre todas as performances que ocorrem no mundo da imanência, libertando-se das instituições transcendentes baseadas na autoridade e na unicidade provocando por todos os lados um descontrole que não se pode capturar. Deste modo, só podemos falar de "arte digital" no sentido metafórico, pois no anarqui-culturalismo a "arte digital" significa todas as demais disciplinas potencialmente intercruzadas num processo de transcodificação. O anarqui-culturalismo ocorre, quando a autoridade cultural não pode mais exercer nenhum poder sobre as manifestações culturais ou sobre os seus produtores; quando os seus produtos não são mais comercializados; quando o valor do produto cultural não repousa sobre a sacralização ou sobre a propriedade, mas na sua capacidade de potencializar os agentes que com ele se conectam; quando o produtor cultural liberta-se de seu ego, liberta-se de seu nome, liberta-se da pretensão inócua de entrar para a história e, então, ao se desterritorializar pode participar de um plano mais complexo, onde o sentido construído pelo autor é substituído pelas estratégias de múltiplos sentidos em co-autoria com seus interagentes; quando o produto cultural deixa de ser linear e analógico e passa a ser um sistema ubíquo de complexidade interativa enfatizando seus aspectos imersivos e bioculturais, tornando-se portanto máquina de transformação cultural; quando não há mais o mundo próprio das artes, das ciências ou de qualquer outra disciplina, mas o jogo livre entre seus códigos, o jogo livre das diagonais que atravessam todos os planos, todas as disciplinas e que entrelaçam as multiplicidades heterogêneas num jogo livre das conexões. A cultura da imanência procede por replicação. Este é um acontecimento que aproxima o mundo virtual das redes ao mundo da vida, tanto um quanto o outro são digitais."
Ricardo Barreto e Paula Perissinotto
Organizadores do FILE - festival internacional de linguagem eletrônica
No FILE2003 poderão ser feitas inscrições relativas aos trabalhos hipemidiáticos: webarts, netarts, vida artificial, narrativas hipertextuais, web cam arte, animações computadorizadas, desing digital, tele-conferências, realidades virtuais, filmes interativos, e-videos de robótica on line. No FILE SYMPOSIUM poderão ser feitas inscrições relativas a "papers" teóricos, a apresentação de trabalhos, que participe do FILE e a performances tecno-digitais. No HIPERSÔNICA poderão ser feitas inscrições relativas aos trabalhos que exploram as sonoridades: música eletrônica erudita, música eletrônica pop(techno; drum'n'bass; trance; hardcoretechno; breakbeat...), música biológica, música genética, instalações sonoras, performances sonoras, c música, dramaturgias radiofônicas, rádio arte, paisagens sonoras, robótica sonora, video música e poesia sonora.
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