Na rede

quarta-feira, agosto 14, 2002

Defcon reúne 'hackers', 'geeks' e 'coders' em Las Vegas: Evento consagra os novos conceitos que fundem o ativismo digital no concreto

Dando um descanso para o tema das ameaças ciberbéticas (voltaremos oportunamente a elas), vamos falar um pouco sobre os "cerébros" da resistência libertária na rede - hackers, os legítimos - e de seu "braço armado": a comunidade geek.

*Geek = alguém que faz uso social do seu computador (chat, multiuser games, grupos, blogs, sites etc.). Quem só trabalha com computador não é Geek.

E o momento é propício pois aconteceu em Las Vegas, entre os dias 2 e 4 deste mês, o Def Con 10, conhecido como "o maior encontro underground de segurança na Internet do planeta". Algo assim como a convenção internacional dos hackers.

Vários temas na pauta, desde a possibilidade de tranformar um Dreamcast (console de videogame) numa ferramenta para invasão de sistemas corporativos, apresentada por Chris Davies, da RedSiren Technologies, até a discussão ética sobre possíveis "contra-ataques" cibernéticos a servidores que emitem vírus através de seus protocolos de e-mail, promovida por Timothy Mullen, da AnchorIS.

Desafiando o FBI, que no ano passado neste mesmo evento, e por muito menos, "grampeou" o nosso simpático russo Sklyarov, Adam Bresson mostrou ao público como fazer cópias caseiras de DVDs e vídeos com um aparelho chamado Canopus. A mensagem é a mesma: todos têm direito de fazer cópias de trabalhos que adquiram legalmente, e este direito está sendo ameaçado pelas proteções que estão sendo desenvolvidas pelas corporações do entretenimento. A palestra foi devidamente gravada por Adam e seus advogados para uso em possível ação judicial.

Mas o assunto do momento, na Def Con e nos sites da comunidade "geek", são mesmo as redes sem fio (Wi-Fi) que operam com base no padrão 802.11b. Esta tecnologia tornou-se muito competitiva em termos de preço nos últimos meses (Cheap Residential Gateways), e na pressa de se livrarem dos cabos de conxão, empresas, indivíduos, e seus respectivos ambientes de rede estão se tornando vulneráveis a um novo tipo de intrusão. O fato é que o novo contexto tem criado novos comportamentos, e todo mundo mundo só fala em "war driving", "warchalking" e "redes públicas de Wi-Fi". O que é isso? Aí vai uma pequena atualização para os que ainda não estão familiarizados com os conceitos.

Ao transitar por qualquer cidade relativamente bem aparelhada em termos tecnológicos, e neste caso estamos falando principalmente de Estados Unidos e Europa, você estará entrando e saindo das chamadas "bolhas" de conectividade. Se você entrar em algumas dessas "bolhas" e estiver portando um PDA ou um notebook equipado com um cartão Wi-Fi (conexão sem fio), um pequeno ícone irá aparecer em algum lugar da sua tela informando que, epa!, você está conectado à rede - e de graça!

Mas afinal, porque estas bolhas de conectividade estão dando sopa? As bolhas são projetadas por pontos de acesso Wi-Fi nos prédios ao redor, e são ocasionadas por dois tipos de administrador de sistemas:

  1. o relapso, que foi incapaz de configurar a capacidade do ponto de acesso em eliminar o acesso não-autorizado, e
  2. o altruísta, que acredita na "distribuição da riqueza" e por vezes instala potentes antenas para aumentar o raio de alcance de sua própria bolha, e assim disponibilizar acesso gratuito a mais gente.

E aí chegamos em "war driving", derivado de "war dialing" - que consiste na ultrapassada estratégia hacker de programar o sistema para chamar milhares de números de telefones em busca de conexões dial-up desprotegidas. WarDriving, termo cunhado por Peter Shipley, é circular pelas ruas da cidade de notebook com cartão de conexão Wi-Fi ligado a uma antena Lucent, e um receptor GPSanexo para anotação das coordenadas - em poucas horas este kit hacker pode localizar mais de 80 redes abertas para conexão numa cidade como San Francisco.

A Def Con 10, como não poderia deixar de ser, promoveu um concurso de WarDriving paralelo aos Foruns e às (famosas) FESTAS (foto ao lado) que caracterizam o evento. Os resultados assinalando os locais e as características das redes detectadas, os quais ainda serão consolidados para melhor divulgação, já podem ser acessados na rede. Não passou desapercebida aos simpáticos contraventores inscritos no concurso de WarDriving a tentativa do FBI em monitorar seus passos - interceptaram mensagem de um agente alertando a corporação sobre o plano da turma.

E a novidade agora é WarChalking, pois melhor seria se estas bolhas de alguma forma se tornassem visíveis aos usuários. E se de repente, andando pela rua, você encontra sinais marcados em giz (chalk) lhe dando todas as dicas sobre como conectar a rede ali disponível? Warchalking (www.warchalking.org) é um movimento para mobilizar a comunidade "geek" a decidir uma iconografia padrão para a "rede Wi-Fi pública". Partindo da iconografia hobo, que marcou época nos EUA como meio informal de comunicação para viajantes, a turma do WarChalking já está mapeando a "rede pública" e gratuita de acesso à Internet de posse dos cartões (modelo ao lado) que são disponibilizados em arquivo pdf.

Não estamos realmente diante de um novo meio ambiente? No caso do WarChalking, a esfera digital se confunde com o concreto e manifesta a a sua virtualidade nas paredes e muros das grandes cidades. Sinais do futuro?