Na rede

quinta-feira, abril 29, 2004

Creative Commons no Brasil: FGV, ITI e MinC na frente da revolução

Aconteceu ontem aqui em Brasília, no Blue Tree, o coquetel de lançamento do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas. Na verdade, isto significa a chegada oficial do Creative Commons ao Brasil, com aval e suporte do Prof. Joaquim Falcão (FGV e UFRJ), e tendo como diretor Ronaldo Lemos - a quem tive o prazer de conhecer.

O evento teve como principal objetivo apresentar a versão em português dos filmetes CC, que há tempos já vêm fazendo a cabeça de muitos no ciberespaço, e que serão apresentados para o grande público no esperado 5º Forum Internacional de Software Livre em Porto Alegre (2 a 5 de junho). Bem que tentei vazar o material via blogosfera, mas nesse ponto a turma não se mostrou tão aberta.

O Prof. Joaquim Falcão, que recentemente esclareceu a posição do Supremo ao sustar os efeitos da lei gaúcha que dava preferência ao uso do software livre na administração pública, saudou os participantes anunciando que nesta nova equação do Software Livre o Centro buscará garantir o fator "LIVRE", enquanto as comunidades de desenvolvimento cuidam do fator "SOFTWARE".

Entre os presentes, vários interessantes como o Marco Figueiredo, ex-engenheiro da NASA que hoje toca o projeto Gemas da Terra - Rede Rural de Telecentros Comunitários, e muitos participantes da 1ª Semana de Capacitação e Desenvolvimento em Software Livre, que agitou Brasília nos últimos dias.

Durante o coquetel, em conversa com o Ronaldo Lemos, pude tomar conhecimento do trabalho de William Fisher, profressor de leis em propriedade intelectual em Harvard que está desenvolvendo um trabalho chamado "Promises to Keep". Um dos capítulos disponíveis online propõe um revolucionário sistema de compensação alternativa ("An Alternative Compensation System") - recompensa direta aos criadores e produtores baseado no registro da circulação digital das obras - um sistema administrado pelo governo (comunismo em Harvard?).

Claudio Prado, representante do Ministro Gil no tema cultura digital, saudou a iniciativa e reforçou a promessa de engajamento do MinC em revolucionar o cenário da produção cultural no que diz respeito aos direitos autorais. Na sequência, Sérgio Amadeu carimbou o evento com a chancela do ITI-PR, e após reclamar da presença de sistema operacional alienígena no notebook que fazia a apresentação no Blue Tree, juntamente com Marcelo D'Elia Branco (PSL-Brasil) e outros hackers presentes realizou a conversão do mesmo ao Kurumin.

quarta-feira, abril 07, 2004

Democracia Open Source
- Como o universo online está transformando a política offline

O
site Demos publicou
o ótimo
"Open
Source Democracy
" de Douglas
Rushkoff
, e convida ao debate.
O autor destaca a ênfase na colaboração coletiva originária
do movimento open source, que tem promovido com sucesso a inovação
através do conhecimento compartilhado, e compara ao declínio da
participação pública nos processos eleitorais tradicionais
- que ainda são determinados pela influência da "velha mídia"
e apresentam mínimas possibilidades de real interação.


A pergunta é: e se "abríssemos o código" de
nossos sistemas democráticos para que pudessem melhor cumprir seus objetivos
de participação inclusiva? A comunidade do software livre aprendeu
que soluções emergem da interação e participação
de muitos, e não de um planejamento central.



"... nossa resposta renascentista para a imprensa é o computador
e sua habilidade de agir em rede. Assim como a imprensa deu a todos o acesso
à leitura, o computador e a Internet possibilita a todos o acesso à
autoria. O primeiro Renascimento nos tirou da posição de recipientes
passivos para intérpretes ativos. Nosso Renascimento atual nos tira
do papel de intérprete para o papel de autor. Somos os criadores.


Enquanto programadores de jogos e não jogadores, criadores do
testemunho e não crentes no testamento, começamos a acordar
para o quanto da nossa realidade é uma fonte aberta e pronta para ser
discutida. Aquilo que parecia um hardware impenetrável é na
realidade software pronto para ser reprogramado. As histórias que usamos
para entender o mundo parecem menos explicações e mais colaborações.
Elas são grupos de regras, servem apenas para explicar os padrões
históricos ou prever padrões futuros.
"

Open
Source Democracy - Douglas Rushkoff



Estou em contato com a turma da Demos para providenciar uma tradução
e publicar lá no Ecologia Digital.
Por enquanto, vale mandar mais um trechinho:



"...certamente nossas visões de mundo e perspectivas políticas
e religiosas não estão funcionando como deveriam quando nos
dão respostas superficiais para as maiores perguntas da vida. O desafio
para todos que pensam é resistir a tentação de cair em
outra postura polarizada, nacionalista ou, Deus nos perdoe, sagrada. Mais
do que retroceder a crenças simplistas e infantis, ainda que temporariamente
tragam certa confiança de volta, de que as respostas já foram
escritas junto com a história de toda humanidade, temos que nos comprometer
a participar ativamente da escrita da história. Não basta voltar
para nossos velhos modelos, particularmente quando eles se revelaram impróprios
para explicar a complexidade da condição humana.


É muito tarde para o mundo ocidental recuar em um fundamentalismo
cristão, acelerando o conflito global em um esforço para trazer
a era messiânica. É muito tarde para empurrar cegamente em direção
a um modelo de puro capitalismo da cultura humana. Há simplesmente
muita evidência que os lucros a curto prazo não suprem as necessidades
das pessoas ou do meio-ambiente. Existem diversos valores alternativos e linhas
culturais submissas à eficiência do lucro que ainda não
provaram ser vitais para nosso ecossistema cultural.


Ao contrário, temos que trabalhar na difícil mas necessária
tarefa de inventar novos modelos, usando técnicas colaborativas que
aprendemos ao longo da última década, e baseadas nas evidências
reais que nos circundam.
"

Open
Source Democracy - Douglas Rushkoff



Vale à pena conferir.