Na rede

terça-feira, janeiro 05, 2010

Google vende o 'Nexus One' direto na web: um dia para ficar na história?

Para reativar o ecodigital, era mesmo preciso acontecer um cataclisma de tal magnitude. Ou sou só eu que enxerga este 'bypass' do Google nas operadoras no processo de venda de um telefone celular como símbolo da definitiva fusão da web com o universo mobile? Alguém discorda tratar-se de um cataclisma no setor? Ou ainda, a partir de hoje, como definir este setor do qual tratamos: telecom, mídia, conteúdos digitais, web?

Nas últimas semanas, em férias e longe do ministério, tenho mergulhado no mundo dos smart-phones em parceria com os meus filhos Gabriela e Miguel. Demorei para dedicar a necessária atenção à dimensão mobile do ambiente digital, mas a imersão que começou com o Symbian no Nokia N95 do MinC, e seguiu no iPhone que comprei*, e no Android (Motorola Dext) da Gabih, em pouco tempo gerou um fluxo de sacações definitivas.

Para começar, a experiência dos últimos dias mostrou que já é totalmente possível prescindir de um notebook e contar apenas com um 'celular esperto' no dia-a-dia. Para alguém que há mais de 4 anos carrega consigo um notebook em standby, isto é muito significativo.

E é preciso dizer que foi o iPhone que teve o mérito de me apresentar, pela primeira vez, uma real experiência de uso da web no celular. A sensação de estar 'solto na rede' através de um telefone, mais os truques multi-toque de interação com o conteúdo pela tela sensível, resultam na sensação (quase adictiva) de que todo o potencial da web está incorporado na sua (cyber) pessoa, tornando-se, agora sim, portátil.

Entretanto, como esperado, a experiência com o iPhone não foi só alegrias. O primeiro trauma foi descobrir que o bluetooth nativo do aparelho é desativado via software. Debater o tema com a atendente da operadora foi o dissabor extra, exasperante e inútil.

Da mesma forma, as primeiras explorações no mundo dos 'iPhone apps' indicaram o potencial do cenário, mas o outro lado da moeda se mostra na 'mão de ferro' de Jobs no controle do que pode ser oferecido / instalado, além da irritante diferenciação entre o que é disponibilizado nas diferentes 'iTunes stores' dos diversos países.

Ler um post sobre o 'Tap Tap Revenge', para depois descobrir que o aplicativo que eu quero instalar no meu celular não está disponível no Brasil foi a gota d'água. Como assim Steve, isto aqui é a web ou o quê?!

Foi então que o 'jailbreak' se tornou uma opção interessante, apenas para tornar o iPhone naquilo que ele pretende, ou se propõe a ser -- um web-phone. Após alguns dias de exploração com os 'meninos', conheci o fabuloso blackra1n, o supreendente Cydia, e o incrível Installous. Aí sim foi possível vislumbrar o que o cenário mobile aberto apresenta. Impressionante!

Enquanto isso, brincando com o Android da Gabih, a impressão é de que a liberdade que precisa ser conquistada à força no ambiente iPhone é default no OS mobile do Google. Mas o fato é que não dá para comparar a experiência de uso propocionada pelo hardware do Motorola Dext com o projeto maduro do 3Gs da Apple. Fetiches e fanatismos à parte, é inegável a competência do design embarcado no iPhone. E aqui voltamos para o tema do título do nosso post: o lançamento de um telefone celular, o 'Nexus One', hoje, pelo Google.

O título do post no Google blog que anuncia o lançamento é indicativo: "Nossa nova abordagem à compra de um telefone celular". Ou seja, mais importante do que o aparelho em si, o que está sendo lançado é a 'web store', e um modelo de negócio. Um pouco de atenção nas etapas do processo de compra no site mostra que você escolhe seu aparelho primeiro (inicialmente apenas o Nexus One está disponível), e só depois seleciona sua operadora. Hoje somente a T-Mobile está disponível, mas outras estarão por lá em breve, pode apostar.

Qual a grande diferença? O Google torna-se o operador principal no novo cenário, pautando o desenvolvimento do software e do hardware, impulsionando o uso de seus serviços 'gratuitos', e constrangendo as telecoms a oferecer apenas transporte de dados e voz.

Desde o surgimento dos primeiros rumores sobre o Gphone (Google Phone), muito se falou sobre a chegada de um aparelho extra-classe, que iria impactar o mercado com funcionalidades revolucionárias. O que vimos hoje foi o lançamento de um bom aparelho, mas que de forma alguma justifica o hype embutido.

Mas o essencial do anúncio não era o aparelho! O que deveria chamar a atenção de todos que acompanham as movimentações do ambiente digital, é o fato de estarmos diante de uma ambiciosa estratégia do Google para se reposicionar no mercado neste momento em que a internet móvel se torna uma realidade global.

Enfim, 'Web meets phone' (a web se encontra com o telefone). Tendo a concordar, e para mim, sem dúvida, trata-se de um momento importante na definição do que será o ambiente digital no futuro. Comentários?