Na rede

terça-feira, março 30, 2004

Em Brasília...
O Brasil na Cúpula da Sociedade da Informação

Passei
rapidamente pelo Blue
Tree
para ver a abertura da "Mostra
de Soluções em Tecnologia da Informação e Comunicações
Aplicadas ao Setor Público
", que começa hoje e vai até
1º de abril (quinta). Já havia blogado
o evento
no ano passado, onde o novo governo apresentava seus planos para
a TI governamental. Pode-se dizer que o coffe-break este ano teve um upgrade
considerável.


Estive assistindo ao primeiro painel: "Buscando
um novo modelo globalizado de TIC
", onde foi comentada a participação
brasileira
na Cúpula
da Sociedade da Informação
ocorrida recentemente em Genebra.
Entre os panelistas, 3 estavam presentes às reuniões da Cúpula
(Sérgio Rosa
- Serpro, Antonino Marques - MRE, e Arthur
Pereira Nunes
- MCT), que teve como resultado dois documentos referenciais:
a "Declaração
de Princípios
" e o "Plano
de Ação
".


Pelas apresentações ficou claro que os temas centrais de discussão
na Cúpula foram:



  1. Conceitos: Propriedade Intelectual X Compartilhamento do Conhecimento

  2. Preferência às plataformas em software livre para os projetos
    de inclusão digital

  3. Representatividade na governança da Internet (veja
    forum online
    )

  4. Criação de um "Fundo
    de Solidariedade Digital
    "


O representante do MCT, Arthur Pereira Nunes, comentou como a receita dos países
ricos para a inclusão digital (A Cúpula), aparentemente uma "intenção
generosa", mostrou-se claramente como um plano de recuperação
de prejuízos das corporações de TI e Telecom. Ou seja,
vamos incluir digitalmente todo mundo, mas implementando as regras implacáveis
de propriedade intelectual vigentes, utilizando software proprietário,
e sem contar com nenhum fundo de apoio aos países em desenvolvimento.
E ainda por cima mantendo a autoridade da Internet na mão do setor privado
americano.


Foi bom ver que a delegação
brasileira
realizou uma boa partida por lá, e agora ficamos ligados
nos desenvolvimentos para Tunis
2005
. O site do CgeCon (MRE)
está com fóruns de discussão sobre o assunto.

quarta-feira, março 10, 2004

Viva a TV Digital
- Morra a "broadcast flag"

O FCC americano regulamentou em 4 de novembro último que aparelhos capazes de receber o sinal da TV digital (DTV) deverão implementar tecnologias de controle de conteúdo requeridas pela indústria do entretenimento, de forma a restringir o uso do aparelho e a manipulação do conteúdo. Se não for questionado, o mandato da "broadcast flag" irá vigorar a partir de 1º de julho de 2005.

Isto significa que todos os aparelhos de TV vendidos nos EUA serão equipados com um circuito eletrônico que irá procurar, nos programas que você recebe em seu aparelho, por uma pequena marca eletrônica (flag). Se a marca estiver presente, sua TV entrará em modo especial de "alta-segurança" que desativará as saídas (outputs) digitais de alta qualidade. Se você quiser gravar um programa com a "flag", terá que fazer em fita analógica ou em um DVD especial de baixa resolução.

A EFF está processando o FCC:

"O mandato da DTV é um passo na direção errada porque iriá fazer a TV digital custar mais, e não menos, desestimulando a inovação, o uso justo, e a competição", disse Fred von Lohmann, Consultor de Propriedade Intelectual da EFF, "O FCC ultrapassou os limites de sua atuação, restringindo indevidamente consumidores e a indústria com a criação da "broadcast flag".

Isto nos recorda do ano de 1978 quando a Universal Studios moveu ação contra a Sony, afirmando que o aparelho de vídeo-cassete Betamax poderia seria usado para piratear ilegalmente filmes transmitidos pelas ondas do ar. Caso não houvesse acontecido a vitória da Sony, não teria acontecido a revolução das camcorders, as produções de vídeo amador, e a proliferação do cinema independente, e Hollywood também não teria produzido as receitas do mercado de aluguel de vídeos - lucrando pesado com a tecnologia que tentou eliminar.

Como afirma Lawrence Lessig, em seu já clássico artigo na Wired (extraído de seu novo livro, "Free Culture: How Big Media Uses Technology and the Law to Lock Down Culture and Control Creativity"):

"Se pirataria significa o uso da propriedade criativa de outros sem permissão, então a história da indústria de conteúdo é a história da pirataria. Todo e qualquer setor importante da mídia hoje - filme, música, rádio e TV a cabo - nasceu de alguma forma de pirataria. A história se define pela forma como cada geração se comporta com os piratas da nova geração. Assim tem acontecido - até hoje."

E George Scriban:

"A indústria do cinema, as TVs, comercial e a cabo, e o rádio, além de fazer uso liberal do domínio público por longo tempo, são filhos bastardos da pirataria, tendo se apropriado do conteúdo existente para seus próprios fins e sem nenhuma permissão específica. Como é sempre o caso quando evoluímos da revolução para a instituição, quando a classe operária ocupa o castelo, imediatamente sobe a ponte levadiça atrás de si."

Aqui no Brasil a classe operária ocupou o castelo, e creio que ainda não subiu a ponte levadiça. Cabe ao governo ficar atento às questões ideológicas que permeiam as regulamentações tecnológicas, principalmente na implementação da TV digital. É certo que esta tecnologia irá sacudir inúmeros setores da economia e pode, em ação articulada com os projetos de inclusão digital, alavancar um salto na inovação tecnológica e na produção cultural nacionais. É preciso que tenhamos a ponte da cidadania firme em seu lugar, permitindo livre acesso ao castelo. Algo assim como o Projeto Olido.

Update Via LigaNóis: Mais sobre o Projeto Olido no wiki Articuladores (plantas e fotos).

sexta-feira, março 05, 2004

Sun X IBM
- A batalha pelo novo mercado

Recentemente Eric Raymond
(A Catedral e o Bazar)
enviou uma carta
aberta
endereçada ao CEO da Sun,
Scott McNealy, solicitando
que (já que a Sun é
"amiga" do open-source
) "libere o Java" (let
Java go
). A resposta
da Sun
foi um indicador de que não
existem planos de Java sob GPL
neste momento.


Por outro lado, a IBM reforçou a pressão sobre a Sun com outra
carta aberta,
enfatizando a necessidade de uma implementação Java open-source
oficial:



"Um Java open-source iria acelerar a adoção de serviços
web em Java e a arquitetura orientada a serviços. Estamos firmemente
convencidos que a comunidade open-source iria se mobilizar em torno deste
esforço, e também contribuir substancialmente
".

Rod
Smith
,
IBM vice president of emerging Internet technologies
.



Parece que IBM e SUN estarão conversando sobre o assunto nos
próximos dias
. Mas a Sun defende bem sua posição, com
habilidade no discurso:



"O Linux tem bifurcado tanto que hoje só existe uma distribuição
Linux relevante (Red Hat) na América do Norte - o
modus operandi
do movimento Linux foi diversificar a escolha. No mundo Java temos a motivação
oposta, que é assegurar que compatibilidade seja a regra do dia
".

Jonathan
Schwartz
,
Sun’s executive vice president for software



O tal Schwartz é bem esperto ao colocar o Java/Sun como uma terceira
posição na batalha do open-source (open-source
X open-standards
), acusando a IBM de tentar conduzir o mercado para seu
único benefício. E está claro que a
IBM depende
da consolidação das regras
do Java
para definir suas estratégias.


E como a Microsoft entra nesta equação? Uma implementação
Java open-source teria o efeito de reduzir os investimentos em implementações
Java / Windows, ameaçando ainda mais a hegemonia de Redmond no desktop.
Sir
Bill
, por seu lado, só tem a ganhar com a discórdia entre
seus concorrentes.


Entretanto, ao apresentar recentemente a audaciosa estratégia de preços
por-cidadão
(para o Java enterprise
e desktop systems),
a Sun apresentou exemplo de custo de até 40 cents por cidadão
para países menos desenvolvidos. Isto demonstra o apetite da empresa
em desafiar o Windows em outras frentes globais, e aí, mostra-se novamente
"amigo do open
source
":



"Muitas nações no mundo, especialmente na América
do Sul e na Ásia, vêm a Microsoft como o símbolo do monopólio
americano. Há muito pouco que a Microsoft possa fazer para reverter
este movimento. E o movimento não é da Sun, é do Congresso
brasileiro - é o poder legislativo que está declarando que todas
as tecnologias tem que ser open source. A Microsoft irá fazer isto?
Não. A Sun irá fazer isto? Pode apostar.
"

Citizen
Schwartz
, in Steve
Gillmor´s blog in EWeek



De fato, o mercado de software está em transição e as
empresas estão apresentando suas armas para "a guerra" - e
aprendendo com a experiência.
Talvez em algum momento percebam que a chave para o novo paradigma é
COLABORAÇÃO.
Por ora, vemos que muitos recursos ainda serão gastos - em meio a contas
de advogados, lobistas, compra de senadores e cotas de publicidade na mídia
falida - na tentativa forçada de manter funcionando o carcomido modelo
de negócio do software proprietário.


Em tempo, via Doc:

Memo interno
da SCO
demonstra pagamentos da Microsoft à empresa na marca de 100
milhões (!!) de dólares.

UPDATE!! (11/03) - O Microsoft
blogger
cita fontes
internas
para negar qualquer envolvimento de Bill com a SCO (e depois se
justifica
). Mas a Business Week
em matéria
de hoje (11/03)
confirma indícios de envolvimento da Microsoft com
a BayStar, fundo de investimento
que colocou 50 milhões na SCO em outubro último.

segunda-feira, março 01, 2004

Valor e ideologia - O vai-e-vem da pressão monopolista sobre o software livre

O Valor publica hoje duas matérias que ilustram o embate que está sendo travado nos bastidores do mercado de software nacional. O Zé Dirceu é o homem que está respaldando a revolução do software livre no Brasil, e repito, pois já disse antes, que devemos estar atentos para denunciar a movimentação das corporações no sentido de sabotar o movimento. A notícia abaixo apresenta o fato:

Governo federal acelera utilização do software livre
Em novembro, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, enviou circular a todos os ministérios e órgãos públicos, sugerindo que, nas novas aquisições de hardware (computadores), os gestores avaliem a "conveniência de utilização preferencial do software livre". Sérgio Amadeu, presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), uma autarquia ligada à Casa Civil, disse ao Valor que, por enquanto, o governo está sugerindo, mas que, dentro de um ou dois anos, a sugestão vai se transformar em obrigatoriedade. "Neste momento, estamos fazendo um trabalho cultural, de convencimento", advertiu Amadeu.

Valor Econômico - 01/03/2004

Enquanto isso, Luiz Sette, o diretor jurídico e de assuntos corporativos para a América Latina da Microsoft, em entrevista telefônica diretamente de Miami, expressa a posição do monopolista ("Não tenha a menor dúvida de que estamos preocupados..."):

Microsoft teme decisões com base ideológica
O grande receio do setor é a adoção de leis que dêem preferência aos softwares livres. "Se o governo decidir com base em aspectos técnicos, temos plenas chances de competir. Mas se for por aspectos ideológicos, teremos dificuldades", diferenciou Luiz Sette, diretor-jurídico e de Assuntos Corporativos da Microsoft para a América Latina, por telefone (direto de Miami, onde trabalha).

Valor Econômico - 01/03/2004

Quem já viu um discurso do Sérgio Amadeu (veja vídeo), e / ou acompanha o que está acontecendo em Brasília em relação ao Software Livre, sabe que estamos falando de uma mudança cultural induzida pelo Governo. A ideologia presente é a certeza de que o rumo é correto, acrescida da coragem em enfrentar a força bruta corporativa em parceria com a mídia cooptada. É preciso clareza na argumentação e firmeza de propósitos.

"Não estamos defendendo um produto, mas um modelo", diz o presidente do ITI, Sérgio Amadeu".
Valor Econômico - 01/03/2004

TODO APOIO AO ZÉ DIRCEU!! mesmo que ele não queira...