Na rede

terça-feira, dezembro 25, 2007

David Byrne: estratégias de sobrevivência para artistas emergentes - e megastars

David Byrne - Wiredtradução de artigo de DAVID BYRNE na Wired

Esclarecimento:
Eu já fui proprietário de um selo (gravadora). Este selo, Luaka Bop, ainda existe, mas eu não estou mais envolvido em sua administração. Meu último disco saiu pela Nonesuch, uma subsidiária do império Warner Music Group. Eu também já publiquei música através de gravadoras independentes como Thrill Jockey, e imprimi CDs para venda em tours. Eu faço tours regularmente, e não vejo isto como uma forma de promover a venda de CDs. Portanto, eu experimentei este negócio de ambos os lados. Ganhei dinheiro, e também fui explorado. Tive liberdade para criar, e também fui pressionado para gerar hits. Tive que lidar com ‘divas’ do mundo da música, e vi discos geniais de artistas maravilhosos serem completamente ignorados. Eu amo a música. Eu sempre amarei. A música salvou a minha vida, e eu aposto que não sou o único a dizer isto.

O que chamamos de música hoje, entretanto, não é o negócio da produção musical. Em um certo momento se tornou o negócio de vender CDs em estojos plásticos, e esta indústria estará acabada em breve. Mas isto não é uma má notícia para a música, e certamente não é má notícia para os músicos. De fato, com todas estas novas formas de acesso a audiências, nunca antes tantas oportunidades estiveram disponíveis para os artistas.

Qual o fim disso? Bem, alguns mapas mostram tendências inexoráveis:

Indústria da Música - Wired

O fato do Radiohead haver lançado seu último álbum online, e de Madonna debandar da Warner Bros. para a Live Nation, uma empresa que promove concertos, é visto como um sinal do fim do negócio da música como o conhecemos. De fato, estes são apenas dois exemplos de como os músicos estão cada vez mais em condições de trabalhar fora do tradicional relacionamento com as gravadoras. Não há um caminho único para se fazer negócio estes dias. Pelas minhas contas, existem pelo menos seis modelos viáveis. Esta variedade é positiva para os artistas, pois promove novas formas de recompensa ao trabalho dos músicos. E á bom também para os diversos públicos, que terão maior quantidade — e qualidade — musical disponível. Vamos dar um passo atrás para termos uma melhor perspectiva.

O que é música?

Primeiramente, uma definição dos termos. De que afinal estamos falando? O que exatamente está sendo comprado e vendido? No passado, música foi algo que você escutava e vivenciava — era um evento social além do puramente musical. Antes do advento da tecnologia de gravação, você não podia separar a música de seu contexto social. Canções e baladas épícas, trovadores, espetáculos para a corte, musica em igrejas, cantos xamânicos, cantorias em pubs, música ceremonial, música militar, música para dança — estavam todas de alguma forma ligadas a funções sociais específicas. Era uma atividade comunitária, e quase sempre cumprindo uma função. Você não podia levar a música para casa, copiá-la, vendê-la como uma commodity (a não ser como partitura, mas isto não é música), ou mesmo ouvi-la novamente. Música era uma experiência, intimamente casada com a sua vida. Você poderia pagar para ouvir música, mas depois de pagar, já era, foi — tornou-se uma memória.

A tecnologia mudou tudo isto no século 20. A música — ou, pelo menos, seu artefato de gravação — tornou-se um produto, algo que poderia ser comprado, vendido, trocado, e tocado infinitamente em qualquer contexto. Isto transformou a economia da música, mas nossos instintos humanos permaneceram intactos. Eu passo muito tempo com fones nos ouvidos escutando música gravada, mas ainda curto poder estar no meio do público em um concerto. Eu canto para mim mesmo, e, sim, eu toco um instrumento (nem sempre bem).

Sempre iremos querer utilizar a música como parte de nosso tecido social: para nos reunir em concertos e em bares, mesmo que o som esteja uma droga; para transmitir música de mão em mão (ou pela Internet) como uma forma de moeda social; para construir locais onde ‘a nossa gente’ possa escutar música (teatros para óperas e sinfonias); para saber mais sobre os nossos ‘bardos’ favoritos — sua vida amorosa, suas roupas, suas crenças políticas. Tais contextos revelam um impulso inato para um cenário além do artefato plástico. Pode-se dizer que este impulso faz parte de nossa estrutura genética.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Em 2008: redes sociais abertas para todos

Muito se tem falado do choque de gerações que está acontecendo, entre a galera que está entrando no mercado de trabalho tendo convivido intimamente com a Internet e explorado as possibilidades das redes sociais durante toda a adolescência, e a turma mais velha, os que ainda se escandalizam com a "despudorada" exposição que enxergam nos perfis de seus filhos no orkut.

Tenho lidado com a capacitação para o uso corporativo das ferramentas web, e portanto venho observando o fenômeno. O resultado prático é que, hoje, fica muito mais fácil contratar uns 'meninos' para as funções que precisam ser desempenhadas do que 'convencer' os mais velhos a se apropriarem das ferramentas de comunicação e colaboração disponíveis. A solução têm sido juntar um especialista experiente (curador) com um 'blogueiro', um 'menino' que saiba publicar e fazer uso das redes sociais e das múltiplas possibilidades de comunicação em tempo real. É bom frisar que estes desta galerinha se apresentam não só familiarizados com a tecnologia, mas também dispondo de uma habilidade de composição editorial multimídia 'em tempo real' que torna-se um diferencial.

Hoje li um artigo -- 'The Rediscovery of Discretion', na ótima edição da Economist (The World in 2008) -- que me chamou a atenção. Entre as previsões para o próximo ano está a aproximação desta turma dos mais velhos às possibilidades das redes sociais, e o autor afirma que isto será fruto de evoluções na tecnologia. Alguns trechos me pareceram bem interessantes:

Durante os primeiros 200 milênios das espécies, as redes sociais humanas permaneceram tecnologicamente estáveis. As pessoas se sentavam em círculo em torno a fogueiras, contavam estórias e cultivavam relações. A literatura e as cartas, e mais tarde o telefone, ajudaram a extender esta possibilidade à distância. Mas a questão mais complicada sempre foi encontrar o equilíbrio certo entre divulgar de mais ou de menos à rede, e entre ser demasiado arrojado ou tímido na busca de novas amizades, parcerias e alianças.

Então, durante a primeira década do século 21, a internet pareceu resolver temporariamente esta dificuldade ao gerar as várias redes sociais online -- trazendo nomes como MySpace e Facebook -- que tiveram forte apelo junto às psiques frágeis de uma geração, denominada "Y", e deixaram a geração precedente, chamada "X", perplexa e horrorizada.

O que atraiu os "Y"s foi a trementa escalabilidade do meio (promovendo enormes ganhos de eficiência na busca de relacionamentos amorosos), sua vocação para a propaganda pessoal (com fotos 'selvagens' para, digamos, anunciar popularidade), e acima de tudo, a suspensão temporária das dificuldades que surgem no trato das relações sociais na vida real. Os velhos escrúpulos em questões de discreção pareceram tecnologicamente obsoletos. Entretanto, foi exatamente o uso relaxado destas 'funcionalidades' pelos "Y"s que deixaram os "X"s perplexos, e depois horrorizados, ao aterrisarem nestas redes no papel de 'pais e/ou responsáveis' realizando jornadas inquisidoras...

... Isto vai mudar em 2008, na medida em que a tecnologia das redes sociais se adapte à natureza humana, ao invés de forçar a natureza humana a se adaptar à tecnologia. Os líderes da indústria em 2007 foram estes antiquados 'walled gardens' (jardins murados). Eles surgiram com templates genéricos, com os aspectos sociais cruciais -- qual informação fornecer em um perfil, etc. -- pre-determinados por programadores. Sim, eles permitiram que os usuários customizasem suas páginas iniciais, mas isto já era possível nos 'walled gardens' do início dos anos 90, em serviços online como AOL ou Compuserve.

Estes serviços fechados faliram e deram espaço, após a revolução do Netscape e seus emuladores, à Web aberta e polivalente. A mesma coisa irá acontecer em 2008 no mundo das redes sociais. No lugar dos 'jardim murados' para incapacitados, irão surgir kits de ferramentas abertas que permitirão a qualquer um, com alguns poucos e simples clicks, criar sua própria rede social, que será uma extensão das relações existentes na vida real.
No final do artigo o autor menciona o Ning como um exemplo destes kits de ferramentas, e nós poderíamos falar também que a iniciativa Open Social do Google vai na mesma direção, e talvez mencionar o artigo no GigaOm que fala das possibilidades do Wordpress como plataforma para redes sociais. Ou seja, várias indicações de um movimento forte na direção das plataformas abertas 'centradas-na-pessoa', customizáveis para atender às perspectivas particulares de como interagir na rede e passíves de se conectar de variadas formas a outras redes e plataformas.

Troque seu Orkut por um Blog


Neste clima de otimismo para o próximo ano, e buscando traduzir estas tendências globais em uma mensagem pertinente para o público local, só posso relembrar a campanha lançada pelo meu amigo Roberto Taddei em abril de 2006, e que a cada dia se torna mais atual.
  • Pelo uso inteligente do tempo online.
  • Pela (re)afirmação da cultura.
  • Pela interatividade real.
  • Pela inteligência colaborativa.
  • Pela conquista do espaço virtual aberto e livre.
  • Pela manutenção e recriação do português.
  • Pelo não ao voyeurismo tímido.
  • Pela cara a tapa.
  • Pela contribuição milionária de todos os pontos de vista.
  • Pelo mundo ao contrário.
  • Participe você também da campanha “Troque seu orkut por um blog”.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

WordPress no MinC: "Equipe Antenada"

Deu no WebInsider ("Ministério da Cultura adota Wordpress"):

"Equipes antenadas podem fazer o governo economizar uma boa quantia de dinheiro público adotando soluções abertas nos casos em que elas se encaixam bem."
E a equipe (da Gerência de Informações Estratégicas - DGE / SE) é antenada mesmo: Guilherme Aguiar (Coord. de Interface e Integração de Serviços), Marcelo Mesquita (Coord. de Suporte e Aplicações), Thatiana Dunice e Guilherme Barcellos (Relacionamento com Públicos), e Fabiano Rangel (Layout e Interface), contanto ainda com participações muito especiais de Hozielt Huston (Layout e Interface) e Rogério Pereira (Design e Arquitetura da Informação).

Posso dizer que o grande mérito da equipe foi o arrojo e a competência em bancar a implementação de uma solução que atende radicalmente aos requisitos e conceitos que alguns anos de experiência no ramo web governamental ajudaram a consolidar. A saber:
  • Ferramenta open source, preferencialmente do grupo LAMP (Linux, Apache, MySQL, PHP), e com uma comunidade de desenvolvimento já amadurecida;
  • Portfolio variado de funcionalidades implementáveis modularmente e facilmente customizáveis;
  • Facilidade de desenvolvimento de novas funcionalidades modulares (plugins);
  • Grande portfolio de plugins e templates (temas) disponíveis para estudo e adaptações;
  • Facilidade no desenvolvimento de layouts e templates customizados; e
  • Usabilidade intuitiva do sistema por parte dos usuários publicadores.

O fato do WordPress ter sido desenvolvido para gerenciar blogs -- o que caracteriza a presença online 'centrada na pessoa' -- confere à plataforma um alto grau de flexibilidade de customização para os usuários que publicam os conteúdos, seja em termos de layout e diferentes funcionalidades (plugins), seja na implementação de arquiteturas de informação específicas em seções secundárias. O conceito se encaixa perfeitamente na estratégia de descentralização da produção interna de conteúdo no órgão, e no movimento de apropriação da web como ferramenta de comunicação e prestação de serviços para com o público usuário da instituição.

Ao facilitar a vida dos editores de conteúdo com interfaces simples (óbvias, eu diria), e disponibilizar um leque de opções de customização contando com os últimos 'features' da blogosfera, o WordPress se torna automaticamente um sucesso junto à crítica (usuários internos / publicadores), e conseqüentemente, o resultado em termos de conteúdo gerado agrada em cheio ao público final (usuários externos).

Algumas adaptações tiveram que ser desenvolvidas para adequar o WordPress às demandas específicas do site institucional do MinC, entre elas a definição de privilégios de usuários para áreas específicas, uso diferenciado das categorias como áreas, e a possibilidade de dispor os posts de forma não-linear e por ordem de importância (livre edição de capas). Tais questões foram resolvidas de forma satisfatória com o desenvolvimento de plugins específicos, e como resultado obtivemos uma plataforma com capacidade de atender tanto às demandas centrais de integração dinâmica do conteúdo e gerenciamento de usuários, como também às customizações solicitadas pelos programas e ações do MinC em suas diversificadas estratégias para a web.

Em síntese, o que observamos no processo de implementação do WordPress como CMS do site institucional do Ministério da Cultura foi a vitória indiscutível da simplicidade, e isto tem chamado à atenção de muita gente. Desde o lançamento, temos recebido inúmeros contatos de outros órgãos de governo interessados em conhecer o modelo de implementação, e nossa idéia é compartilhar tudo o que desenvolvemos aqui no MinC -- temos todo o interesse em alavancar uma comunidade de desenvolvimento wordpress.gov.br.

Enquanto isso, o fato da notícia sobre a implementação do WordPress no MinC ter emplacado no dashboard do wp acabou gerando reações na blogosfera global. Não poderia deixar de registrar o movimento por aqui, não é mesmo? Afinal, no espírito do Global Voices, 'o mundo está falando, você está ouvindo?'.
Brazilian Ministry of Culture uses WordPress to manage their site. I really like the way they have put together various features and plugins to make the site more usable. Since I was introduced to BRIC, I have started to notice how the BRIC countries have started to become more involved in online media and publication.
[O Ministério da Cultura brasileiro utiliza WordPress para gereciar seu website. Gostei muito da forma como eles conseguiram reunir várias funcionalidades e plugins de forma a incrementar a usabilidade do site. Desde que fui introduzido ao BRIC, tenho notado como estes países (Brasil, Rússia, Índia, China) têm evoluído em termos de mídia online e publicação web]
Ministério da Cultura - Weblog Tools Collection

Das brasilianische Kultusministerium hat seine Seite komplett mit Wordpress gestaltet. Diverse Plugins und Erweiterungen und ein spaltiger Aufbau lassen die Seite alles andere als ein Blog wirken.
[O Ministério da Cultura do Brasil lançou seu novo website completamente gerenciado em Wordpress. Com inúmeros novos plugins e extensões, e um layout em 3 colunas, o site parece tudo menos um blog.]
Das brasilianische Kultusministerium nutzt Wordpress - Weblogs und Wikis

Mentre qui spendiamo carriolate di soldi per l’orribile portale italia.it, in Brasile il Ministero della Cultura, per fare il proprio sito, si affida a Wordpress. Stiamo vivendo in un paese in via di sottosviluppo.
[Equanto por aqui gastamos caminhões de dinheiro para desenvolver o horrível portal italia.it, no Brasil o Ministério da Cultura publica seu website em WordPress. Estamos mesmo vivendo em um país a caminho do subdesenvolvimento.]
Ministério da Cultura - Anonimo Italiano

Non so quanto sia costato, ma non credo i milioni di euri… Per piacere, troviamo un musicista, magari un chitarrista e facciamogli fare il ministro della cultura e anche dell’innovazione!
[Eu não sei quanto custou (o site em WordPress), mas certamente não foram milhões de euros... Por favor, encontrem um músico, talvez um guitarrista, e façamo-lo Ministro da Cultura e da Inovação!]
Ministério - Manicalarga.net

Wiedzieli wy, że plebejskiego Wordpressa używają nawet takie zacne instytucje jak np. brazylijskie Ministerstwo Kultury?
[não consegui traduzir... acho que é polonês]
wordpress.gov - Off the Record

Skillnaden mellan det svenska och brasilianska kulturdepartementet oroar. Ser vi skillnaden mellan dels ett piggt och vaket land, dels ett land som i fornstora dagar var en framträdande webbnation men som nu stagnerat?
[isto eu acho que é sueco... alguém sabe traduzir?]
Webben utvecklas - Sverige tittar förvånat på - Webbrådgivaren Fredrik Wacka

Come non rimanere affascinati da un progetto simile? Un blog che comunica tutta la vivacità di un paese caldo ed esuberante.
[Como não ficar fascinado com um tal projeto? Um blog que comunica toda a vivacidade de um país quente e exuberante.]
Il ministero della cultura brasiliano e l’esempio da seguire - Questo non è un Blog
Valeu equipe!! Vamos manter as antenas ligadas e seguir em frente.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

A trajetória de um webmaster governamental

Passadas duas semanas do lançamento da nova versão do website do Ministério da Cultura em Wordpress (ao lado), creio que agora dá para falar com um pouco mais de calma sobre o projeto, a novidade que ele traz para o governo, e o significado que enxergo em tudo isso na perspectiva da Ecologia Digital.

Mas quero antes mencionar um pouco da minha bagagem como 'webmaster' governamental, que pode adicionar informação relevante para o que desejo comunicar. Ainda em 1996, no antigo MARE (Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado), tive a oportunidade de juntamente com Roberto Dantas, realizar o registro do domínio brasil.gov.br e publicar a primeira proposta de integração do conteúdo web governamental. Ou seja, sou jurássico no pedaço. Desde então aprendi a defender o conceito de que a Internet no governo merece ser pensada com dedicação exclusiva, por um setor específico na instituição que possa conceber e implementar o uso qualificado das possibilidades da web pelas diversas áreas fins.

Na época, eu e Claudio Sato montamos a Assessoria Especial de Informações Institucionais do MARE, criada pelo então ministro Bresser Pereira para pensar a rede e propor usos estratégicos no âmbito do projeto de reforma do estado. O entusiasmo e a percepção do Bresser no tema era muito estimulante, e chegamos a realizar algo que até hoje ninguém repetiu no governo: um chat onde o ministro respondia diretamente às questões dos servidores sobre as mudanças no Regime Jurídico Único (RJU). Isto foi em fins de 1996!

Depois estive no Ministério da Ciência e Tecnologia, onde novamente trabalhei em um setor especializado em Internet que se chamava Coordenação Geral de Informação e Difusão Científica. Assim como aconteceu no MARE e novamente por influência direta do Bresser, a área não estava subordinada nem à Comunicação Social nem à Tecnologia da Informação, e sim ligada à Secretaria Executiva -- ou seja, próximo ao centro de decisão. No restante do governo a Internet seguiu seu destino incerto, ora tocada à base de releases burocráticos típicos das 'ascoms' da esplanada, ora subordinada às interfaces herméticas da turma dos 'CPDs'. Arrisco dizer que a situação permanece mais ou menos igual...

Depois de alguns apuros após a entrada do Lula, naquele momento em que os técnicos de governo foram 'perseguidos' politicamente como se todos tucanos fossem, fui 'descoberto' pelo Claudio Prado, amigo de Gil, através deste blog (é isto que eu chamo de monetização). O encontro de Claudio com Letícia Schwarz, minha colega dos tempos do Bresser, viabilizou a minha ida para o Ministério da Cultura. A proposta era ser Gerente de Informações Estratégicas -- mais uma denominação criativa para disfarçar que nosso foco principal é a rede -- e estar localizado na Diretoria de Gestão Estratégica da Secretaria Executiva, trabalhando diretamente com a Letícia e com Juca Ferreira, o vice de Gil.

Devo dizer que foi no MinC de Gil que os conceitos da Ecologia Digital embutidos na minha atuação dentro do governo encontraram respaldo e fruição total. E posso dizer também que a recente publicação do website institucional do ministério em Wordpress traduz a vitória de um conceito fundamental: o de que a utilização da web como ferramenta de comunicação pública pelos órgãos de governo é tão importante e estratégica que não pode ser terceirizada -- deve ser apropriada organicamente pela instituição. E também não pode ficar refém de concepções limitadoras, como em geral o são as visões clássicas da comunicação e da TI governamentais. É preciso estar preparado para inovar, e neste sentido o 'do it yourself' (DIY) proposto pelo movimento open source é o caminho a seguir.

Entretanto, é preciso fazer ressalvas. A experiência demonstrou que escolher uma solução open source qualquer não basta. No segundo semestre de 2003, recém chegado ao MinC e bastante influenciado pelas movimentações que o Sergio Amadeu realizava para a adoção de software livre no governo, me engagei no GT de Compartilhamento e Otimização de Recursos do Comitê Técnico de Gestão de Sítios e Serviços Online -- que foi uma tentativa da SECOM-PR em colocar alguma ordem nos sites governamentais. Me propus a realizar uma pesquisa entre os 'webmasters' da esplanada (dos ministérios) para saber o que cada um utilizava, e o objetivo era propor uma estratégia comum para adoção de rumos tecnológicos na questão da gestão de conteúdo web.

Ao cabo de minha pesquisa de campo, me dispus a apresentar os resultados obtidos em um evento promovido pelo Serpro, em dezembro de 2003. Mal sabia eu que o tal evento cumpria o objetivo de apresentar para o Comitê Técnico o Zope-Plone como o CMS (content manager system) ideal para o governo, e que os dados de minha apresentação eram absolutamente dissonantes com o hype promovido pelos donos da casa e seus poderosos parceiros naturais -- os Ministérios do Planejamento e da Fazenda. O argumento principal do meu discurso na ocasião era o de que todas as equipes de desenvolvimento dos órgãos eram formadas em asp, e a migração natural no emergente contexto do software livre no governo seria o php. Apresentar como solução geral uma aplicação (Zope) desenvolvida em Phyton, e com um banco de dados específico, levaria fatalmente ao seguinte cenário: manter os webmasters nas mãos de especialistas externos, o que praticamente inviabilizava o modelo 'do it yourself'. Conheço instituições governamentais que pagaram 1 milhão de reais(!) para terem seus websites desenvolvidos e implementados em Zope, e hoje não conseguem evoluir porque não têm mais como pagar a conta.

Mas mesmo o 'do it yourself' tem suas ressalvas. Minha frustração em conseguir uma aliança de governo em torno de um CMS integrador viável me levou a buscar uma solução php/mysql simples que viabilizasse a formação de uma comunidade de desenvolvimento open source intencional -- de governo. Foi então que embarcamos no Waram, uma solução simples gerada pelo Maratimba na prefeitura de sampa (Marta). Resultado: com as enormes restrições de equipe no MinC, e a mudança de governo em sampa, ficamos presos solitários em uma plataforma sem comunidade, sem condições de desenvolver e configurar novas possibilidades. Foram dois anos de ralação para entender o que havia dado errado no conceito, e o passo seguinte não poderia errar o alvo. Ou seja, 'do it yourself', mas nem tanto.

Foi aí que chegamos ao Wordpress, mas isto já é assunto para outro post...

domingo, novembro 25, 2007

Ainda sobre o IGF-Rio: a relevência está nas pontas

Depois de desabafar a minha frustração pessoal em relação ao IGF no post anterior, fica mais fácil avaliar os aspectos gerais do evento de maneira mais objetiva. É fato que não pude acompanhar os conteúdos, pois estava concentrado em fazer o hack funcionar. Mas ainda assim foi possível captar a movimentação geral, já que fiquei 4 dias internado no Windsor Barra -- ao lado, foto do lobby do hotel durante uma madrugada de trabalho.

Um aspecto destacado por alguns blogs foi a marcante migração das ações relevantes do fórum para os eventos periféricos, como os workshops propostos por grupos organizados, as reuniões das coalizões dinâmicas, os fóruns de melhores práticas e outros. O resultado foi o esvaziamento das sessões principais, que disputavam a atenção dos participantes com até seis agendas simultâneas.

Pior ainda, não há nenhum espaço comum para o processamento das idéias e para a deliberação sobre o que acontece nas pontas do processo. De fato, em função da verdadeira competição por atenção criada pelo agendamento de inúmeros workshops simultâneos às sessões plenárias, a programação dos eventos paralelos atraiu muito mais gente no segundo e terceiro dias. O resultado é um ambiente de 'trade-show' ou de conferência acadêmica. Tal situação gera um sentimento de frustração que pode ser facilmente detectado em inúmeras das partes interessadas. É ótimo, como sugeriu Jeanette Hofmann na sessão final, que os workshops reflitam os interesses reais dos participantes. Mas estes temas fragmentados em processos de livre-associação necessitam algum tipo de integração.
The Rio IGF: The Center Does Not Hold? - IGP Blog
Observações semelhantes foram feitas por Everton Lucero, conselheiro do Itamaraty que foi a meu ver o brasileiro com atuação mais relevante em todo o evento, incluído aí todo o processo preparatório em Genebra e a fase de articulação da presença governamental. Desde as primeiras ações conjuntas, Everton esteve sensível às 'provocações' aportadas pelo MinC para que o IGF não fosse um Forum exclusivo para engenheiros, diplomatas e advogados, o que resultou na criação do blog MinC / MRE para o IGF.

Sua percepção sobre as deficiências do processo, e a resiliência demonstrada ao colocar tais questões de forma clara, tanto no workshop que tratou do cumprimento do mandato do IGF definido em Tunis ('Fulfilling the mandate of IGF') como na plenária que avaliou o desempenho do IGF até agora ('Taking Stock and the Way Forward'), não passaram despercebidas pelos comentaristas atentos.
Um dos panelistas mais provocativos foi Everton Lucero, representante do governo brasileiro que apontou como um dos obstáculos [ao cumprimento do mandato do IGF] a falta de transparência do processo preparatório, o que contraria o parágrafo 33 da Agenda de Tunis. Como ele apontou, o Advisory Group (MAG) não possui procedimentos definidos, e atua com um grau de transparência muito limitado. Lucero também manifestou o sentimento de que o seu 'perspicaz relatório', onde recomendava reformas ao Advisory Group, foi solenemente ignorado. Ele também destacou a ironia na existência de um Fórum que se realiza sob os auspícios das Nações Unidas, mas que ainda assim não é contemplado com nenhum recurso de seu orçamento.
Day 4 of IGF Rio - IGFWatch news

Como bem assinalado pelo FF, uma das repercussões interessantes no ambiente do IGF-Rio foi o post do Joi Ito sobre sua saída do board da ICANN. Ao mesmo tempo em que saúda o trabalho realizado pela instituição e desfaz alguns dos mitos que levam muitos a considerá-la 'o lado escuro da força', assinala também a dificuldade da instituição em escutar os verdadeiros usuários nas pontas da rede.
O problema da ICANN não é de ser injusta, e sim a dificuldade e o tempo requerido para se tentar alcançar consenso nas questões difíceis. O outro problema é que a maioria das pessoas que são afetadas por suas decisões, os usuários em geral, não sabem ou se importam em saber sobre a ICANN e seu papel. Descobrir a melhor forma de captar os inputs destes usuários tem sido um questão recorrente, mas isto não é um problema da ICANN unicamente. Toda a política e o universo da ação coletiva compartilham esta dificuldade de fazer com que o público se importe com o debate sobre os temas que o afetam diretamente.
Three Years with ICANN - Joi Ito
Minha tendência é concordar com o Joi Ito duplamente. Sempre achei um exagero esta ênfase total na internacionalização da ICANN como a grande questão da governança da rede. O fato é que uma das principais reivindicações do IGF-Atenas -- domínios top-level funcionando em códigos de caracteres internacionais além do hoje mandatário alfabeto romano -- parece estar recebendo tratamento diferenciado por parte da ICANN. Pode até parecer um detalhe, mas trata-se neste momento da iniciativa mais relevante no sentido de proteger a internet dos riscos de fragmentação.
Se a ICANN estiver em condições de dar suporte a domínios top-level em chinês, arábico, persa e outras línguas, isto pode significar um passo fundamental no sentido de aplainar arestas, com alcance suficiente para prevenir um quadro de ruptura dramática onde não poderíamos mais estar falando de "a Internet".... seria um mundo onde a competição entre nameservers de diferentes nações nos deixaria falando sobre diversas "Internets".
Icann takes a very big small step - My Heart's in Accra
Enfim, fico com a impressão de que o rescaldo sobre o IGF-Rio ainda pode render boas reflexões*. Em linhas gerais, penso ser lastimável que um processo que se propõe a debater a governança da Internet faça um uso tão pobre dos recursos da própria rede, a começar pelo site oficial(!).

O IGF deveria privilegiar a interação em rede, retirando a ênfase no encontro presencial anual -- uma ostentação ridícula -- e ativando uma permanente colaboração online. Mas enquanto o custo de um coffe-break básico do IGF-Rio pode significar a sustentabilidade de um servidor web ativo na rede por um ano -- ou, quem sabe, uma tela extra para a projeção da participação remota no salão do evento, a coalizão dinâmica de colaboração online (OCDC) teve a sua página wiki desativada por depender do bolso de um de seus membros para se manter online.

Como última observação, confesso que fiquei espantado com a falta de visão de alguns dos nossos colegas, Skywalkers tardios e demodês que ainda acreditam na relevância dos fóruns restritos com seus bastidores mesquinhos. Perderam a oportunidade de se plugar na dinâmica e diversa cultura de uso da rede, que emerge a cada dia de suas pontas. Este é, a meu ver, o verdadeiro tema, objeto e finalidade de qualquer projeto internacional de governança da Internet.

Foto de Vitor Cheregati: Papo sobre internet, governança, propriedade intelectual, desenvolvimento e futuros possíveis durante o IGF Paralelo, no Circo Voador, Lapa, Rio de Janeiro. Presentes os Ministros de Estado Gilberto Gil e Mangabeira Unger, o Vice-Governador do Estado do Rio Luiz Pezão, Ronaldo Lemos do iSummit e FGV, moderados pelo animador de políticas digitais do MinC, o legendário Claudio Prado.

(*) O conteúdo de vídeo das 'main sessions' do IGF-Rio tem alguns bons trechos que mereciam destaque. Se alguém tiver a manha de baixar os arquivos, entro na colaboração para fazer uma edição legal para colocar no youtube. Interessados podem se manifestar nos comentários. Alô turma do Circo...

sábado, novembro 24, 2007

Hackeando o IGF-Rio, ou quase...

Já se passaram 10 dias desde o encerramento do Internet Governance Forum (IGF) no Rio de Janeiro, e somente agora tenho a oportunidade de refletir um pouco sobre o que se passou. Devo dizer que ao cabo do processo, meus sentimentos ficaram registrados de forma oficial e pública no relato do Jeremy Malcolm, fundador e principal ativista da Online Collaboration Dynamic Coalition (OCDC), proferido na sessão de relatório no último dia do IGF.

(José Murilo Junior) spoke in the meeting [the OCDC workshop] about a tool that he had developed with the Brazilian ministry of culture for the Rio IGF meeting. It combines chat and webcasting and as well as being used by remote participants is designed to [allow participants present at the meeting to be able to view, on a large projection screen] [be used by participants at the meeting] the comments that are being made by remote participants in realtime. For the purpose of the IGF meeting, Jose and his team also developed an interface to allow what people in the auditorium see to be monitored to filter out inappropriate remarks. He was disappointed that this was not used in the Rio meeting.
Reporting Back Session, 15 /11/2007 - The Internet Governance Forum (IGF)

O interessante é que um trecho do relato do Jeremy (assinalado em vermelho), cuja íntegra foi compartilhada com os membros da coalizão dinâmica, foi extirpado da versão oficial disponível no site oficial do IGF, e em seu lugar figura o trecho marcado de cinza -- o que chega inclusive a comprometer a compreensão da frase. Uma censura estratégica, diria eu.

Este post deve estar parecendo linguagem cifrada, não é? Na verdade ele se explica através destes posts aqui (este também), que detalham melhor a minha participação no processo IGF -- o Fórum de governança da Internet da ONU -- como representante do Ministério da Cultura.

No MinC de Gilberto Gil, a rede internet é considerada extra-oficialmente como patrimônio imaterial da cultura contemporânea, e como tal, sujeita à proteção contra os perigos que ameaçam a plena fruição de suas possibilidades de difusão e acesso à cultura e ao conhecimento. Neste sentido, por ocasião da realização do IGF no Rio, entendemos que a colaboração do MinC deveria contemplar a aproximação dos temas debatidos no Fórum com o mundo da cultura, e ao mesmo tempo viabilizar um canal de retorno desta dimensão cultural de volta para o Fórum, utilizando as possibilidades de comunicação disponíveis na rede.

Para isso, o Circo Voador na Lapa foi mobilizado durante os 3 dias principais do IGF, cumprindo programação de debates com convidados que estariam interagindo diretamente com as sessões plenárias. O modelo de participação remota proposto pelo MinC para o Secretariado do IGF foi o mesmo utilizado no Seminário Internacional de Diversidade Cultural, e permitiria a interatividade do público online com a audiência 'privilegiada' no local do evento, o hotel Windsor na Barra. Tudo isso acompanhado pelo blog MinC/MRE para o evento.

Nossa percepção era a de que o IGF, ao se apresentar como experiência inovadora da ONU em reunir para o debate um fórum 'multi-stakeholder' (que abrange representantes de governos, das empresas e da sociedade civil), teria como diretriz necessária promover o alargamento do debate e facilitar a participação de todos os públicos interessados. No primeiro IGF em Atenas o esforço em oferecer um nível básico de participação remota foi, em minha opinião, fundamental para a caracterização do que veio a ser chamado processo IGF, o qual prevê mais 3 reuniões até 2010.

Enfim, o plano -- que parecia bom -- de proporcionar ao público interessado um meio de participação remota através de uma interface de chat / webcast, e ao mesmo tempo projetar o fluxo de comentários e perguntas do chat diretamente em uma tela no salão do evento, foi inviabilizado por motivos que até agora eu tento definir. Depois de tudo aprovado, combinado, ensaiado e configurado, o 'pulo do gato' que era a projeção da 'desconferência'* no salão do evento, não aconteceu. E eu, sentado aí gerenciando o chat e com a tela pronta para entrar no ar (foto), amarguei uma grande frustração**.

Acredito hoje ter sido ingênuo em imaginar que um processo com tanta interferência política e não-transparente como o conduzido pelo MAG (Multistakeholder Advisory Group) na definição dos panelistas, poderia ser 'hackeado' tão facilmente. Afinal, colocar o internauta comum -- 'você' mesmo aí no seu humilde teclado -- na posição de se manifestar em condições análogas àquela turma acostumada a intermediar interesses institucionais em meio a processos representativos típicos do século passado, é sem dúvida uma hackeada radical no sistema***.

Não foi à toa que a galera que cuidava da arte que iria ilustrar o evento no Circo voador 'captou a mensagem', e mandou ver o recado -- 'hackeando a onu' -- na primeira versão do cartaz (ao lado) -- censurada por excesso de sinceridade.

Ao final, depois de tanto esforço nos últimos 2 meses para 'abrir' o tema da governança da internet para um público mais amplo, para mim sobrou uma incômoda sensação de fracasso. Minha impressão foi a de que chegamos bem perto de fazer funcionar um hack brilhante, que poderia trazer participações inusitadas para o IGF, mas um 'bug' de última hora pôs tudo a perder. O aprendizado, este sim, foi inestimável.

(*) 'desconferência' (unconference ) - parte da premissa de que na audiência pode / deve existir pessoas mais interessantes para a qualidade do debate do que a suposta autoridade do conferencista.
(**) Ainda acho que o plano teria funcionado se tivéssemos conseguido uma tela exclusiva para a projeção do chat da participação remota, e não dependêssemos do maldito 'switch' que jamais foi acionado. Ficamos reféns de condições subjetivas tais como o grau de arrojo e ousadia das pessoas do Secretariado do IGF responsáveis pelas decisões operacionais.
(***) Hackear: trata-se de descobrir como funciona o processo para então customizá-lo de acordo como queremos, em sintonia com interesses coletivos. Como diz o Ministro Gil, "Hackers resolvem problemas e compartilham saber e informação. Acreditam na liberdade e na ajuda mútua voluntária"

quarta-feira, novembro 07, 2007

Rising Voices: Novamente Chamando as Vozes Emergentes...

Meu amigo David Sasaki está novamente ativando uma chamada de micro-financiamento para projetos de mídia comunitária através do programa 'Rising Voices'. Trata-se de uma iniciativa da organização Global Voices, na qual me orgulho em atuar como colaborador.

O 'Rising Voices' (Vozes Emergentes) tem como principal objetivo ajudar a trazer novas vozes de novas comunidades e diferentes idiomas para a grande conversação na rede, por meio de recursos e fundos para grupos locais que apresentem propostas de como alcançar comunidades que ainda não possuem representação na web. Exemplos de potenciais projetos incluem:

  • Compra de uma boa câmera digital de vídeo e ensino de um grupo de estudantes rurais a produzir um videoblog documentário sobre a vida de seus avós.
  • Organizar uma oficina regular sobre blogs e fotografias em orfanatos locais. Parte do recurso financeiro pode ser utilizado em câmeras baratas e acesso à internet para que os participantes possam descrever a vizinhança para o público mundial com textos e imagens.
  • Trabalhar com uma organização não governamental (ong) local ou ativista social para que os desafios, sucessos e histórias desses grupos possam circular em uma audiência global.
  • Traduzir nosso material sobre novas mídias para idiomas indígenas, como o Quechua ou Wolof, que não estão representados na blogosfera ou podosfera atual. Depois utilizar os módulos de ensino para encorajar blogueiros a postar nos idiomas de origem.
Os recursos variam entre US$ 1 mil e US$ 5 mil, . Na primeira chamada, em julho, cinco projetos escolhidos entre 142 aplicações de 60 países foram contemplados. Nenhum do Brasil.

Veja no site do Global Voices em Português o que você precisa fazer para se inscrever e fique de olho no prazo, que vai até 30 de novembro. Como diz o David, "o céu é o limite, mas os recursos, infelizmente, não". As verbas do programa de promoção do Rising Voices, em reais, variam entre R$ 1.700 e R$8.500, e portanto a dica para a apresentação da proposta é que você "seja o mais sério, específico e realista possível quando descrever os gastos previstos no projeto".

Os projetos que tiverem êxitos serão destacados no Global Voices, e isto pode ter um grande significado para as comunidades atendidas. Vale à pena participar!

terça-feira, novembro 06, 2007

Open Google. Será?


Voltando rapidamente a este blog
deveras abandonado, tenho que atualizar os poucos insistentes leitores nas novidades da última semana, que causaram 'marolas significativas' no ambiente digital. Duas delas paridas pelo gigante Google: o lançamento da plataforma 'Open Social',
onde o 'conceito é ter um único padrão de produzir programas e extensões para várias redes sociais'; e o anúncio da 'Open Handset Alliance' powered by 'Android': uma plataforma open source de desenvolvimento para celulares baseada na licença Apache 2, OS Linux, e linguagem Java, e que já conta com Motorola, NTT DoCoMo e Telecom Italia entre os 30 parceiros iniciais.

O timing desta avalanche mercadológica do Google baseada no conceito 'open' até parece ser uma reação desproporcional ao sucesso do Facebook, e para os desenvolvedores será necessário aguardar um pouco mais para descobrir o real valor das iniciativas. Ao mesmo tempo em que é interessante ver o conceito 'open' ser promovido pelo maior player da rede, cada vez mais temos a impressão de que o Google se abre com o único objetivo de engolir-nos a todos em seu gigantesco silo colorido.

De fato, alguns comentaristas destacam que o gigante da web promove o conceito 'open' somente quando conveniente, e geralmente em setores nos quais se encontra em desvantagem competitiva. No âmbito das máquinas de busca por exemplo, onde o reinado do Google se baseia em sua capacidade aparentemente infinita de escalar seu index de conteúdos da web, porque não lançar uma 'Open Index Alliance'?

Aposto 1 contra 100 como esta iniciativa não vai partir do Google. Entretanto, vale à pena acompanhar
o projeto de 'open search' que surgiu do encontro de Jeremie Miller , o pai do Jabber e do protocolo XMPP, com Jimmy 'Wikipedia' Wales e seu novo projeto comunitário, o Wikia. O Wikia Search pretende tornar a busca uma parte da infraestrutura da web baseada no protocolo aberto Atlas: ao invés de um sistema monolítico (o silo Google), uma ação integrada de várias entidades independentes que irão desempenhar diferentes papéis, tornando a busca na rede o resultado de uma infraestrutura global totalmente distribuída e interoperável. Sobre este assunto, vale explorar o conceito de 'Economia do Significado' ('The Meaning Economy') desenvolvido pelo Jeremie Miller em seu blog:

O futuro da busca está na cooperação (e competição) abertas baseada na 'Economia do Significado' - criar significados, negociar significados, servir significados. Minha visão se inicia com um protocolo aberto, que permita a redes independentes que realizam funções de busca (pesquisa, indexação, ranking, hospedagem, etc) compartilhar e interoperar. Todas as relações entre estas redes são sempre absolutamente transparentes e abertamente publicadas. Redes trocam conhecimento entre si, cada uma adicionando novos significados à informação, cada uma delas responsável pelas reputações de seus participantes e pares. Este é o verdadeiro fundamento da 'Economia do Significado'. O 'amanhã' tem um significado que todos nós podemos ajudar a construir.
The Meaning Economy - Temporally Relevant
Outra área na qual o Google não demonstra qualquer abertura é em sua estratégia de digitalização e disponibilização do conteúdo de bibliotecas (Book Search). Em contraste com as iniciativas da Open Content Alliance, que promete acesso público irrestrito ao conteúdo e informações digitalizados, a empresa que costumava se gabar de 'não ser do mal' ('Google is not evil') parece tentar se colocar como o único lugar na rede onde tais conteúdos podem ser encontrados -- a única biblioteca, o único acesso. Brewster Khale, do Internet Archive, alerta que a possibilidade do controle sobre a biblioteca do conhecimento humano por parte de uma só empresa pode se tornar um pesadelo.

Querem outra dimensão absolutamente opaca do Google? Os programas AdWords e AdSense -- sua galinha dos ovos de ouro. Concordo com o argumento de que a empresa não tem nenhuma obrigação de compartilhar seus segredos estratégicos, mas a falta de transparência destes serviços são credenciais negativas para qualquer aspirante à promotor da tendência 'open' na rede. Afinal, o custo de um 'adword' pode variar muito de acordo com o misterioso 'score de qualidade', e um simples ajuste no algoritmo pode fazer com que estratégias de AdWords que funcionaram por anos se transformem subitamente em totais fracassos.

Também o AdSense está longe de ser um mercado aberto ('open') onde veículos podem definir o seu preço para expor anúncios em suas páginas, e ao mesmo tempo acompanhar quantos anunciantes estão interessados em pagar pelo serviço. Enquanto ficamos todos a especular sobre volumes e valores, só Deus sabe a parte que cabe ao Google nesta equação. O fato do valor da ação da empresa bater a casa dos 700 dólares nos últimos dias tem o efeito de tornar nossas adivinhações sobre o tema em fantasias estratosféricas. Seria o Google a nova Microsoft?

Em síntese, não há como negar a importância do Google para o movimento Open Source. A empresa não nega em momento algum que a base de seu sucesso é a plataforma Linux, e recentemente se juntou à 'Open Invention Network', uma inovadora organização para compartilhamento de patentes criada com o objetivo de fomentar um ambiente legalmente protegido para todos aqueles que utilizam Linux.

Também não podemos esquecer iniciativas como o Summer of Code, ou o apoio a eventos como o Ubuntu Developer Summit e o Linux Foundation Innovation Summit. Mas é importante perceber que as principais iniciativas 'open' do Google acontecem porque configuram-se como boas opções para os negócios da empresa, e não porque obedecem a qualquer princípio institucional ou filosófico. Que acham vocês?

segunda-feira, setembro 03, 2007

Wireless municipal: o hype, a bolha, e o futuro

MuniFi - EarthlinkMuito se falou semana passada sobre as dificuldades que os projetos de implementação de conexão wireless pelas municipalidades estão enfrentando. O barulho maior aconteceu em função da desistência da Earthlink em dar continuidade à parceria com o Google para implementação de wifi grátis em toda a área de San Francisco. Muitos se regozijam com a notícia anunciando o fim do 'ideal' do wireless municipal, mas em meio às argumentações pró e contra, qual a relação de tais fatos com o futuro dos arranjos locais para provimento de acesso público à rede?

A derrapada do projeto Municipal Wireless da Earthlink implode os planos da turma que pôs fé no modelo de negócio da empresa como alternativa para o duopólio das teles e das operadoras de TV a cabo na infraestrutura de acesso à rede -- algo assim como uma 'terceira via'. Alguns especialistas afirmam que as projeções de custos iniciais surfaram no hype da tecnologia wifi, e subestimaram os gastos de implementação da malha de 'access points' necessária para prover cobertura wireless total em um ambiente cheio de obstáculos como o de uma grande metrópole. Outros sugerem que o erro foi 'viajar' na idéia da conectividade como um direito do cidadão, o qual deveria estar livre do controle das grandes empresas de telecomunicações, apostando assim em um confronto aberto com o modelo tecnológico e de negócio das 'incumbents'.

Seja qual for o motivo, parece que estamos vendo o estouro de mais uma bolha. Como em outras situações semelhantes, é hora de tirar boas lições para o futuro. O momento é oportuno pois todos estamos querendo 'adivinhar' a melhor forma de implementar extensivamente a tal da banda larga. Mas me parece necessário transcender o vácuo existente entre as teles, que insistem em tratar a questão como mera transmissão rápida de pacotes de informação em seus dutos, e os nativos da rede, para quem parece intolerável depender da intermediação das empresas de telecomunicações para alcançar o nirvana do acesso universal em banda larga. Parece oportuno que facilitemos a conversa entre as partes, e alarguemos o alcance do debate para incluir os outros muitos interessados.

Banda larga pode ser tudo isto e muito mais. A princípio podemos ver a questão pela fatia do mercado que cada um dos players vai levar, mas isto é apenas a superfície. Na verdade estamos falando de oportunidades para inovação e novos modelos de negócio nas múltiplas camadas da integração vertical da rede -- conectividade, aplicações, conteúdo, hardware e formas de remuneração -- e sua separação em componentes modulares, que podem assim se tornar mais competitivos. Neste caso, os melhores modelos de implementação serão aqueles que promoverem a diversificação dos atores e a competitividade nas diversas camadas, além de boas estratégias para ações do poder público e aplicações específicas.

As pioneiras experiências brasileiras de Cidades Digitais, que tem como referência o projeto Piraí Digital -- Top Seven Intelligent Community em 2005 --, vêm há algum tempo demonstrando eficácia em lidar com as especificidades locais em projetos de implementação de acesso banda larga. Franklin Coelho (UFF) , coordenador do projeto Piraí Digital, tem indicado em suas apresentações recentes o caminho do sucesso de tais iniciativas:

Apresentação Franklin

A conexão de alta velocidade, em geral, chega a um ponto do município via link de satélite ou de fibra óptica. O arranjo específico da rede local se encarrega de distribuir o acesso entre os usuários e áreas como escolas, postos de saúde e órgãos da administração municipal, utilizando a opção mais interessante entre o mix Wi-Fi, Mesh, WiMAX, Rádio e PLC (Power Line Connection).

Franklin Coelho - ApresentaçãoDistintas arquiteturas para distintos territórios com distintas identidades, e a definição tecnológica determina o arranjo institucional, o qual deve estar apoiado por um novo marco legal que contemple os vários modelos possíveis (veja ao lado).

Neste âmbito, a implementação de políticas públicas / aplicações específicas como a conexão das escolas públicas, quiosques de serviços governamentais, modernização da administração local, projetos de segurança pública, telecentros como agências de desenvolvimento local, pontos de cultura, rádios e TVs públicas, integração da rede de serviços e informações em saúde, etc... constituem as iniciativas estruturantes que podem pautar a formatação da rede pública local e induzir seu desenvolvimento integrado.

Outra dimensão deste arranjo da banda larga local são os projetos de acesso wireless comunitário (Fon, Meraki, etc), que se fundamentam no desejo de cidadãos / organizações da sociedade civil em compartilhar seus recursos privados de acesso à rede. O conceito está sendo chamado de 'user generated infrastructure', e pode idealmente complementar as políticas públicas de banda larga abrindo novas oportunidades de colaboração público-privadas.

Enfim, o tema é da maior importância e interessa à todos. O Ministério da Cultura está lançando um blog que vai explorar o tema BandaLarga em suas múltiplas dimensões, e que se inaugura com a visita do Ministro Gilberto Gil à Piraí, no estado do Rio de Janeiro. O objetivo é auxiliar na interlocução e no intercâmbio de informações para articular, disseminar e impulsionar as soluções e arranjos institucionais locais que as Cidades Digitais brasileiras vêm promovendo com sucesso.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Comentando o 'post' do Estadão

[Eu juro que tentei postar estas linhas como comentário na matéria que o estadão publicou em seu 'portal' sobre o imbroglio com a campanha publicitária, mas o tal novo portal'ão' apesar de apresentar boas soluções de customização para usuários com base em tags, é uma lástima em termos de acessibilidade inter-browsers. Não consegui logar para comentar com o Firefox, e no IE6 o site simplesmente não funciona (assim fica fácil de implementar, né galera?). Portanto o recado é direto para o Estadãoão, e agora vai em hipertexto ;-) ]

"Olá,

Interessante e louvável a proposta de debater o tema aqui no portal.

Sou editor de língua portuguesa do Global Voices Online, e assino o post de onde foi retirada a citação do último parágrafo. Cabe esclarecer que a missão do GVO é realizar o bridge-blogging, cabendo a editores e colaboradores fornecer o contexto para que um público internacional possa acessar as 'vozes' locais. Nossa contribuição é retratar este contexto através de reportagens na blogosfera local sobre temas de interesse global, traduzindo citações de blogs nos diversos idiomas para o inglês.

Sob o tema do post em questão, devo dizer que considero que as peças da campanha são de alta qualidade em seu aspecto de comicidade, e acredito ser este o principal motivo do efeito viral. Um sinal claro disto é o fato do vídeo do anúncio do macaco , que publiquei no dotsub para legendar em inglês, já haver sido a esta altura traduzido para outros 5 idiomas -- alemão, holandês, espanhol, esperanto, e interlíngua(!) --, e figurar como destaque principal do site desde o dia em que foi postado. Ou seja, a criatividade embutida na peça em si já é o viral, independentemente da campanha.

Quero destacar aqui que, diferente do que publiquei então, não me parece agora tão óbvio que o efeito viral na rede tenha sido previsto e desejado pela Talent - principalmente pelo fato de não haver peças produzidas para a web. O comentário da Teca no Alex Primo (via Deak) a meu ver acerta em cheio na avaliação. Por outro lado, é incrível que os executivos do jornal responsáveis pela aprovação das peças não tenham detectado o alto grau de provocação à blogosfera contido na mensagem da campanha, e as repercussões possíveis.

O resultado final soou inapelavelmente como uma desqualificação generalizada dos blogs, e a proliferação de interpretações na blogosfera sobre as verdadeiras intenções da campanha são, no mínimo, compreensíveis. Principalmente neste momento em que os blogs ocupam de forma legítima os territórios de livre conversa proporcionados pela rede, e conquistam espaços importantes no olimpo dos formadores de opinião, o que há muito era exclusividade dos grandes veículos e seus luminares.

Mas já que a conversa está aberta, e até que está boa, vou aqui sintonizar o caboclo blogueiro e passar 3 dicas quentes para o colega estadão (olha a intimidade!):

  1. A rede são os links e os links são a rede, como bem lembrado pelo colega wainermartins, e portanto falar da blogosfera sem linkar é falta de respeito. E lembre-se que blogueiros redigem em hipertexto, portanto, seção de comentários sem links trata-se de interface defeituosa.

  2. Esqueça a web 2.0 e se ligue na web ao vivo. Esta é a rede que pode ser descrita através de verbos como escrever, ler, atualizar, postar, editar, assinar, taguear, sindicar, xemelizar e linkar. A web ao vivo está sendo construída por sobre a web estática, a qual se traduz em substantivos como website, endereço, localização, tráfego, arquitetura e construção. A web ao vivo é esta acontecendo agora, de forma dinâmica, e compreende o conteúdo que pode ser encontrado via Technorati e Google BlogSearch (esqueça o google padrão), máquinas que irão indexar em minutos o que estou postando aqui, e o que outros postarão sobre estes meus 'dois palitos' nesta conversa.

  3. Esta vem do Código Aberto: "A notícia está deixando de ser um produto para se transformar no ponto de partida de um processo, que começa com os jornalistas, que depois cedem o papel principal para os leitores. Os profissionais deixam de ser os donos da notícia." Eu diria: não pense em blogueiros como produtores de 'conteúdo'. Não encaro o meu ato de blogar como produção de informação para ser consumida por outros, e sim como escritos que podem vir a informar outros interessados. Digo 'informar' neste sentido mais básico de 'formar', alargar o espaço interno que define a minha humanidade: aquilo que eu sei. Autoridade na blogosfera é o direito que eu concedo a outros de me informar, de alargar os horizontes do que conheço. Nesta ecologia, reputação é tudo. E o 'Bruno' é bemvindo.
Para terminar, fechando o comentário, saúdo os 60 anos de Doc Searls (agora em novo blog), agradecendo por tanta generosidade, e pela (in)formação de qualidade.

Saudações,
José Murilo"

terça-feira, agosto 14, 2007

Metaversos: o 'hype', a bolha, e o futuro

A wikipedia nos diz que o termo METAVERSO surge pela primeira vez na ficção do Neal Stephenson, Snow Crash (1992). Devidamente disseminado na rede, o termo hoje serve para nomear o conceito de 'espaços 3D virtuais totalmente imersivos'. Metaversos são ambientes onde humanos interagem (como avatares) entre si (socialmente e economicamente) e com personagens-software, em um ciberespaço. Ou seja, trata-se de um universo virtual moldado em metáforas do mundo real, mas que ignora as limitações físicas deste.

De nossa parte, sempre estivemos atentos ao desenvolvimento do conceito metaverso. Afinal, metaversos virtuais são intuitivamente conexos à idéia de uma ecologia digital. O exemplo mais presente é sem dúvida o Second Life do Linden Labs, que surfou uma onda alta de hype -- com filial local e tudo... -- e hoje parece estar passando por uma reavaliação de suas premissas básicas. No último fim de semana o tema esteve presente em vários artigos nos principais veículos da grande mídia, e a maioria menciona o fracasso do projeto em realizar as expectativas geradas pelo entusiasmo dos 'early adopters' na época do lançamento. Veja abaixo:

Devo dizer que chegamos a discutir as possibilidades de exercitar os conceitos do metaverso no âmbito das ações de cultura digital do MinC. Afinal, o projeto Second Life apresentou algumas propostas inovadoras em relação ao gerenciamento da propriedade intelectual do conteúdo criado em seus servidores, ao contrário de outros jogos famosos na rede como por exemplo o World of Warcraft. Entretanto, ao tempo em que detectamos um esforço de seus criadores em ajustar a proposta do Second Life aos princípios de liberdade e flexibilidade da rede -- chegando a disponibilizar o cliente como 'open source' e formular estratégias para também 'abrir' a aplicação do servidor --, até o momento são evidentes as características monopolistas do 'business model' definido pelo Linden Labs para a implementação global da idéia.

Exemplo 01: todos os usuários do SL assinaram um termo de uso que concede à empresa grande poder de avaliação sobre o que constitui "comportamento aceitável". Caso você esteja do lado errado das leis do Linden Labs, não há a quem recorrer -- seus avatares e objetos não poderão, neste momento, ser transportados para outro mundo que funcione com outros governantes ou com um conjunto de regras diferente.

O que podemos observar neste momento, do ponto de vista da 'ecologia digital', é que o processo de reavaliação das premissas de um projeto de metaverso em escala global como o Second Life pode proporcionar insights interessantes sobre as possibilidades reais do conceito. No rastro da tarefa de 'desconstrução do hype' ora assumida pela big media, blogs estão mergulhando mais fundo na discussão do presente cenário e de futuros possíveis. Os links abaixo fornecem bom combustível para o pensamento e o debate, especialmente o post "Morte à 'Snow Crash'", que sugere que ultrapassemos a perspectiva ideal de um metaverso unificado na web. Explore os links:

Em síntese
, a visão conceitual de um metaverso 3D unificado na web está calcada no passado, no século XX. As inovações trazidas pela web 2.0 demonstram que a visão da rede como 'algo singular' é uma continuidade equivocada de estratégias centralizadoras. O futuro aponta para uma descentralização flexível, e portanto é muito mais interessante pensar em uma rede constituída de muitos 'mundos' distribuídos, alguns interativos em 3D e outros para leitura 2D. Nossa tarefa é desenvolver aplicações e modelos de negócio que possam combinar tais mundos em um mosaico de items, sites e lugares independentes mas potencialmente interligados.

Exemplo 02: eu acharia o máximo ter no meu blog uma aplicação que disponibilizasse uma sala de estar virtual particular, de preferência com vista para o mar -- ou melhor ainda, vista customizável conforme os humores do dia --, onde os visitantes pudessem entrar com seu próprio avatar e fosse possível rolar um bate-papo em 3D imersivo, com som ambiente direcional. Cá entre nós... tal aplicação poderia significar um definitivo adeus à confusão analógica causada pelas interfaces de video-conferência que utilizamos hoje.

sexta-feira, junho 08, 2007

Global Voices: o mundo está falando... como colaborar no processo?

Há tempos venho querendo escrever um post aqui no ecodigital dedicado ao projeto Global Voices Online, no qual venho desempenhando a função de editor de língua portuguesa desde maio de 2006. Apesar de já haver mencionado de passagem minha participação no projeto, faltava ainda uma abordagem que refletisse a influência que tal experiência vem exercendo na minha percepção sobre o ambiente digital -- o que diz respeito diretamente a este blog.

Recentemente o Tiago Dória me entrevistou sobre o tema -- por e-mail, publicando a versão original na íntegra (VIVA os blogueiros!) -- e considero que o resultado ilustra muito bem o que é o projeto, como fui parar lá, e as implicações do que estamos realizando no desenvolvimento de conceitos como 'jornalismo cidadão' e 'mídia alternativa'. A introdução ao tema colocada pelo Tiago é também muito boa:

O Global Voices Online é o que chamam de "bridge blog", um site que faz a ponte entre pessoas de culturas diferentes. Ele registra e traduz para outras línguas as discussões mais significativas que estão acontecendo em diversas blogosferas do mundo. [o debate no Brasil sobre 10 anos dos blogs ficou em destaque]. É uma troca constante de informações e opiniões que você não vê na chamada "grande mídia".
Entrevista com José Murilo Jr, do Global Voices Online - Tiago Dória Weblog
O fato é que desde que me juntei à comunidade GVO minha atividade como blogueiro, que ocupa os períodos em que não estou cumprindo expediente no MinC, foi dirigida para esta nova e fascinante experiência como 'bridge blogger'-- que trata de explorar a dinâmica dos blogs para conectar diferentes culturas. Portanto, espero que esteja apresentando aqui bons motivos para os meus sumiços neste pedaço ;-).

Para fazer a 'ponte', muito importante é a noção de 'contexto': cabe aos GVOers fornecer a 'moldura' capaz de auxiliar uma audiência global a acessar as narrativas locais, e o objetivo mais amplo é fornecer uma plataforma compartilhada para a promoção do diálogo entre as diversas culturas. Neste sentido, merecem destaque
algumas iniciativas recentes do projeto como o GV-Lingua e a ação Rising Voices.

O GV-Lingua é a implementação de sites Global Voices nos diversos idiomas: da mesma forma que já temos o site em português funcionando, também
em espanhol, chinês tradicional, chinês simplificado, russo, bangla e francês já se pode acompanhar o que o mundo está falando via Global Voices. A iniciativa tem gerado efeitos surpreendentes nos conceitos que fundamentaram o projeto, alimentando a descentralização de processos editoriais em rede e diminuindo a ênfase na anglofonia como default necessário para o diálogo inter-cultural. Neste projeto, estamos buscando colaboradores que estejam interessados em participar como tradutores -- do inglês para o português. Interessados devem entrar em contato -- estudantes de tradução e / ou relações internacionais, são especialmente bem vindos.

Quanto ao 'Rising Voices', trata-se de um recém criado programa de microcrédito para apoiar projetos de ensino de técnicas de publicação web em comunidades carentes e afastadas, com o objetivo de demonstrar o potencial de ferramentas como blogs, videoblogs e podcasts. Configura-se como parte importante no movimento de 'dar voz' àqueles que ainda não tiveram a oportunidade de experimentar diretamente as possibilidades de expressão na rede. Os interessados em concorrer a esta primeira chamada devem se apressar pois o prazo para entrega de projetos vai até 15 de junho. Vejo esta iniciativa como uma grande oportunidade de aprimorar os conceitos de inclusividade difundidos pelo GVO e aposto em seu sucesso -- não apenas por estar sendo coordenada pelo grande colega e amigo David Sasaki.

Em síntese, da mesma forma como o trabalho no Ministério da Cultura tem criado oportunidades formidáveis para o exercício dos conceitos do 'ambientalismo para a rede', também a experiência no projeto Global Voices tem demonstrado valor inestimável para o amadurecimento de uma perspectiva mais ampla sobre as transformações que o ambiente digital está promovendo no âmbito no diálogo entre culturas. E tudo começou neste singelo blog que um dia ousei denominar Ecologia Digital. Sigo agradecendo a todos pelas boas oportunidades.