Na rede

sexta-feira, junho 08, 2007

Global Voices: o mundo está falando... como colaborar no processo?

Há tempos venho querendo escrever um post aqui no ecodigital dedicado ao projeto Global Voices Online, no qual venho desempenhando a função de editor de língua portuguesa desde maio de 2006. Apesar de já haver mencionado de passagem minha participação no projeto, faltava ainda uma abordagem que refletisse a influência que tal experiência vem exercendo na minha percepção sobre o ambiente digital -- o que diz respeito diretamente a este blog.

Recentemente o Tiago Dória me entrevistou sobre o tema -- por e-mail, publicando a versão original na íntegra (VIVA os blogueiros!) -- e considero que o resultado ilustra muito bem o que é o projeto, como fui parar lá, e as implicações do que estamos realizando no desenvolvimento de conceitos como 'jornalismo cidadão' e 'mídia alternativa'. A introdução ao tema colocada pelo Tiago é também muito boa:

O Global Voices Online é o que chamam de "bridge blog", um site que faz a ponte entre pessoas de culturas diferentes. Ele registra e traduz para outras línguas as discussões mais significativas que estão acontecendo em diversas blogosferas do mundo. [o debate no Brasil sobre 10 anos dos blogs ficou em destaque]. É uma troca constante de informações e opiniões que você não vê na chamada "grande mídia".
Entrevista com José Murilo Jr, do Global Voices Online - Tiago Dória Weblog
O fato é que desde que me juntei à comunidade GVO minha atividade como blogueiro, que ocupa os períodos em que não estou cumprindo expediente no MinC, foi dirigida para esta nova e fascinante experiência como 'bridge blogger'-- que trata de explorar a dinâmica dos blogs para conectar diferentes culturas. Portanto, espero que esteja apresentando aqui bons motivos para os meus sumiços neste pedaço ;-).

Para fazer a 'ponte', muito importante é a noção de 'contexto': cabe aos GVOers fornecer a 'moldura' capaz de auxiliar uma audiência global a acessar as narrativas locais, e o objetivo mais amplo é fornecer uma plataforma compartilhada para a promoção do diálogo entre as diversas culturas. Neste sentido, merecem destaque
algumas iniciativas recentes do projeto como o GV-Lingua e a ação Rising Voices.

O GV-Lingua é a implementação de sites Global Voices nos diversos idiomas: da mesma forma que já temos o site em português funcionando, também
em espanhol, chinês tradicional, chinês simplificado, russo, bangla e francês já se pode acompanhar o que o mundo está falando via Global Voices. A iniciativa tem gerado efeitos surpreendentes nos conceitos que fundamentaram o projeto, alimentando a descentralização de processos editoriais em rede e diminuindo a ênfase na anglofonia como default necessário para o diálogo inter-cultural. Neste projeto, estamos buscando colaboradores que estejam interessados em participar como tradutores -- do inglês para o português. Interessados devem entrar em contato -- estudantes de tradução e / ou relações internacionais, são especialmente bem vindos.

Quanto ao 'Rising Voices', trata-se de um recém criado programa de microcrédito para apoiar projetos de ensino de técnicas de publicação web em comunidades carentes e afastadas, com o objetivo de demonstrar o potencial de ferramentas como blogs, videoblogs e podcasts. Configura-se como parte importante no movimento de 'dar voz' àqueles que ainda não tiveram a oportunidade de experimentar diretamente as possibilidades de expressão na rede. Os interessados em concorrer a esta primeira chamada devem se apressar pois o prazo para entrega de projetos vai até 15 de junho. Vejo esta iniciativa como uma grande oportunidade de aprimorar os conceitos de inclusividade difundidos pelo GVO e aposto em seu sucesso -- não apenas por estar sendo coordenada pelo grande colega e amigo David Sasaki.

Em síntese, da mesma forma como o trabalho no Ministério da Cultura tem criado oportunidades formidáveis para o exercício dos conceitos do 'ambientalismo para a rede', também a experiência no projeto Global Voices tem demonstrado valor inestimável para o amadurecimento de uma perspectiva mais ampla sobre as transformações que o ambiente digital está promovendo no âmbito no diálogo entre culturas. E tudo começou neste singelo blog que um dia ousei denominar Ecologia Digital. Sigo agradecendo a todos pelas boas oportunidades.

terça-feira, junho 05, 2007

Interatividade no MinC: Fóruns virtuais, debates online e blogs culturais

Este é o título de uma entrevista que foi realizada comigo pela assessoria de comunicação social aqui do Ministério da Cultura. Para aqueles que aqui transitam e ainda não sabem (ou não lembram), trabalho na área que cuida da infra-estrutura de publicação web do MinC -- Gerência de Informações Estratégicas. Apesar do nome do setor levar alguns a me conectar com 'serviços de inteligência', seja lá o que isso possa significar, de fato cuidamos da contínua atualização das ferramentas (e procedimentos) de comunicação e interatividade web utilizados pela gestão Gilberto Gil no desempenho de seus programas e ações.

Ao aceitar conceder a entrevista, tive que convencer os colegas jornalistas a aceitarem as respostas por e-mail, argumentando que estaria recheando o texto com hiperlinks. O episódio me recordou do recente imbróglio entre Jason Calacanis, Dave Winer e o jornalista Fred Vogelstein da revista Wired, muito bem narrado pelo Jeff Jarvis ("The Obsolete Interview") e outros, e que acabou em um podcast -- uma conversa telefônica gravada entre Calacanis e Vogelstein. Tudo começou com a insistência de Calacanis em só conceder entrevista a Volgestein por e-mail, mas o debate evoluiu para análises sobre o formato entrevista no ambiente digital, e ainda recentemente foi destaque no "On the media" da NPR.

De minha parte só posso acompanhar a tendência e publicar aqui (abaixo) a 'entrevista original', que sofreu algumas edições por parte das colegas da Ascom -- as quais considerei úteis -- para chegar ao resultado final, mas é bastante ilustrativa sobre as movimentações que desenvolvemos aqui no ministério.

1) O MinC vem experimentando novas formas de promover, através da Internet, uma maior participação do público em suas ações. Como isso vem acontecendo?
Começou ainda em 2004, quando montamos a interface do 1. Concurso de Idéias Originais e Demos de Jogos Eletrônicos. A idéia do ministro foi promover a criação de games baseados em idéias originais de jovens brasileiros, e para isso criamos uma interface que convidava os participantes a abrirem suas criações à colaboração de outros, fomentando um processo de facilitação para o surgimento de narrativas emergentes e propondo um exercício de utilização dos então recém criados conceitos de licenciamento Creative Commons. Foi apenas o início, mas já contou com experimentações radicais nos conceitos de Cultura Digital.

Em 2005, o Seminário sobre Indústrias Criativas e o programa Cultura & Pensamento incorpororaram as idéias de utilização da web para alargar o alcance dos debates em que reuniu pensadores da cultura em torno de temas contemporâneos. Em 2006, além da re-edição do C&P, vários eventos como o Seminário sobre Mídia e o sobre Capitalismo Cognitivo também estiveram disponíveis em transmissão ao vivo pela Internet. Na sequência, já em 2007, o Fórum de TVs Públicas foi também contagiado pela utilização da web como efetivo instrumento de facilitação para o acompanhamento remoto e para o debate online em tempo real.

2) Quais os resultados obtidos até agora?
Webcast, publicação de conteúdo em áudio e vídeo, e a disponibilização de fórum para abrigar os debates não chegaram a alcançar o resultado desejado em termos de ativa participação online, entretanto propiciaram um eficiente modelo de documentação multimídia dos eventos, o que certamente vem multiplicando o efeito de tais reflexões na rede.

O que viemos perceber agora com a realização do Fórum de TVs Públicas, é a importância fundamental de se mobilizar efetivamente o público interessado no debate através da aglutinação abrangente de representações legítimas dos setores da sociedade pertinentes ao tema, e ao mesmo tempo facilitar a utilização das ferramentas de interatividade online por parte deste público.

3) Com a experiência adquirida, o que o MinC está propondo em termos de participação online para os próximos eventos?
Para o Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural estamos propondo a realização de oficinas temáticas online, as quais estão tomando o formato de blogs a serem lançados antecedendo o evento presencial. A idéia é que tais oficinas, que contam com um curador especialista para orientar o debate e um 'blogueiro' para pilotar o blog e facilitar a experiência de interatividade do público interessado, antecipem a mobilização dos atores pertinentes aos temas que serão debatidos no Seminário, tratando de aquecer o debate. A oficina do tema Cultura Digital está a 'pleno vapor'.

Acreditamos que os "oficineiros", incluídos ai todos os que se sentiram de alguma forma atraídos pelo tema e se engajaram no debate na rede, passam a ter um papel fundamental na oxigenação do evento presencial. Trata-se de uma variação do formato de ' desconferência' (unconference), que parte da premissa de que na audiência pode / deve existir pessoas mais interessantes para a qualidade do debate do que a suposta autoridade do conferencista. O sucesso de tal iniciativa pode transformar o evento presencial em mera etapa de um processo que ganha então impulso próprio. Mas isto é apenas o nosso desejo... No momento resta-nos trabalhar pelo sucesso do projeto.

4) De que forma esta estratégia se relaciona com o conceito de Cultura Digital como difundido pelo ministro Gil?
O ministro Gil costuma falar deste novo contexto no qual a convergência tecnológica torna-se fato cultural, onde capacitar e instrumentalizar a sociedade para o uso das tecnologias digitais livres é fundamental para a realização plena da cidadania. Os pontos de cultura vem cumprindo este objetivo ao propor modelos efetivos de apropriação comunitária de conteúdos e dispositivos digitais, ao mesmo tempo em que promove a autonomia dos criadores e a auto-gestão política de seus processos.

Mas Cultura Digital é também a possibilidade de se eliminar a exclusão ao acesso público à informação, à tecnologia, e à possibilidade de livre expressão. Estamos falando de uma verdadeira revolução. O debate sobre estas novas realidades deve ter lugar no ambiente governamental, e também na sociedade, e a Cultura Digital prospera na construção destas inúmeras novas interconexões. Temos trabalhado no desenvolvimento de procedimentos e aplicações que possam constituir ferramentas efetivas de alargamento do alcance e de facilitação do livre fluxo da comunicação neste debate, no qual todos nós somos potenciais interlocutores. Nisto estamos trabalhando.
Encerro o post sugerindo visita aos blog-oficinas que estão aquecendo o debate que irá desembocar no "Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural: práticas e perspectivas". O evento pretende alargar nossa compreensão sobre a recém ratificada Convenção da Unesco sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais , e desenvolver linhas internacionais de ação a partir de seus "princípios fundamentais de diversidade e liberdade para o avanço da compreensão mútua".

Os nomes ao lado indicam respectivamente o curador / animador (blogueiro) de cada oficina:
Uma das últimas colaborações na oficina de Cultura Digital, apresentada pelo Pedro Paranaguá (Diversidade e Copyright) , reflete bem a importância deste debate:
"Vemos as grandes indústrias, como a Hollywoodiana, por exemplo, que domina 85% do mercado global de filmes, tentando impor seus produtos para o restante do planeta. Por ısso que foi criado recentemente o acordo sobre diversidade cultural da UNESCO: para garantir que o poder de tais indústrias não aniquile outras culturas. Para garantir que a globalızação nao acabe com a riqueza da dıversidade cultural que aında existe no planeta. Para garantir que não sejamos massificados por uma única cultura. E para garantir que nem sempre as produções culturais sejam tratadas como produtos puramente comerciais."
Vale à pena acompanhar!