Na rede

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Steve Jobs propõe fim do DRM

Hoje pode ser considerado um dia histórico para a Ecologia Digital, e por isso não pude deixar de blogar neste bom e velho espaço de reflexões. Mesmo que não haja mais nenhum leitor por aqui, que sirva de registro.

Steve Jobs publicou hoje um manifesto ("Thoughts on Music") no site da Apple, onde sugere às gravadoras que se livrem do dispositivo de DRM ("Digital Rigths Management") que restringe o uso das músicas vendidas online. Pode causar espanto que o dono da companhia que mais lucra com o modelo de negócio -- através da dupla iTunes/iPod -- venha a público propor uma total virada nas regras do jogo. Mas quem acompanha as conversas por aqui sabe que já em 2004 estávamos reportando sobre o tema e apontando os mesmos argumentos:

...aí vai um trecho da apresentação do Cory Doctorow sobre DRM* na Microsoft(!). Difícil saber se ficção ou realidade (tem até áudio online), mas simplesmente super (veja a ótima tradução integral do Silvio Meira):

"Sistemas de DRM não funcionam Sistemas de DRM são quebrados em minutos, ou dias. Raramente, meses. Não porque as pessoas que os criam são estúpidas, e não porque as pessoas que os quebram sejam espertas. Não também porque existem falhas nos algoritmos. Ao final do dia, todos os sistemas DRM compartilham de uma mesma vulnerabilidade: provêem a seus agressores o texto cifrado, o código e a chave. Neste ponto, o segredo não é mais segredo."

DRM é ruim para a sociedade Aqui está a razão social porque DRM falha: promover a honestidade de um usuário honesto é como incentivar a altura de um usuário alto. Vendedores de DRM afirmam que sua tecnologia foi desenvolvida para ser uma defesa contra o usuário médio, e não gangues do crime organizado como os piratas ucranianos que desovam milhões de cópias de alta-qualidade. Não foi criado para ser uma defesa contra garotos sofisticados, ou contra qualquer um que saiba como editar seu registro, ou pressionar a tecla shift no momento certo, ou usar uma máquina de busca. Ao final do dia, o usuário de quem o DRM irá nos defender será o menos capaz no universo dos usuários." Cory Doctorow - Microsoft Research DRM talk.

De olho no 'Induce Act' - Ecologia Digital - 24/06/2004

Entre enrolações e justificativas, todas brilhantes, os "pensamentos sobre a música" de Jobs tangenciam muito dos pontos da Palestra de Cory Doctorow na Microsoft. Mas um fator importante para o movimento é também a pressão da UE sobre o modelo de negócio do ambiente iTunes/iPod baseado em DRM. De forma oportuna e genial Jobs passa a bola para as 'majors', que são as 4 grandes gravadoras que dominam o mercado mundial da música, e cuja maior parte do capital encontra-se na Europa. Vai ser interessante ver o desfecho desta partida.

Do lado de cá, mais específicamente em Recife e com a oportunidade característica dos projetos embalados pelo Ministério Gilberto Gil, acontece de 07 a 11/02 a Feira Música Brasil promovida pela Associação brasileira da Música Independente (ABMI) e pelo MinC. Gil está presente lançando o programa de Economia da Cultura, que será tema de um painel no evento, e adiantou:
“Esta feira é um projeto piloto. Vai permitir a integração do setor com os desdobramentos tecnológicos que estão impactando a música, tais como a Internet, o iPod e outros equipamentos. Esses momentos de transformação tecnológica são estratégicos, e a promoção desta feira é um ponto de referência e interação dessas duas coisas” frisou Gil
Lançada oficialmente a Feira Música Brasil 2007, promovida pelo Ministério da Cultura e BNDES - Site do BNDES
[Disclaimer: além de blogueiro editor deste Ecologia Digital, sou funcionário público e ocupo neste momento o cargo de Gerente de Informações Estratégicas do Ministério da Cultura]