Na rede

terça-feira, abril 15, 2003

Exclusão Digital na pauta
- Várias matérias e artigos destacam pesquisa da FGV/CDI


Fotografar a inclusão digital exige uma câmera com lentes
focadas num horizonte pertinente. (leia
mais
)



A frase é do coordenador do programa "Cidade
do Conhecimento
", Gilson
Schwartz
, em artigo
disponibilizado pelo Jornal
da Ciência
, da SBPC, e vem
fazer coro com o
que apresentou o novo Secretário
de Logística e Tecnologia
da Informação do Min. do Planejamento, enfatizando o aspecto não-tecnológico
da questão.


Na semana passada vários artigos (folha,
estadão,
gazeta,
bol)
surgiram na mídia provocados pela publicação do Mapa
da Exclusão Digital
, elaborado pelo CPS
da FGV sob a coordenação do CDI
e com apoio da Sun Systems e da USAID.
Entre outras frases fortes, o estudo afirma que cerca de 1
milhão de pessoas são beneficiadas por trimestre pela inclusão
digital
no Brasil.


Partindo dos números apresentados em que 12,46% dos brasileiros têm
computador em casa, e 8,31% estão conectados à internet, a iniciativa
CDI/FGV registra a evolução da inclusão digital em termos
de parque tecnológico instalado, o que pode mascarar o fato de que "
desafios tecnológicos que estão muito além do número
de máquinas instaladas em lares, escritórios ou telecentros
"
(Schwartz).
"Parece apenas mais um dado 'inocente', mas valorizar esse indicador significa
contrabandear um modelo de sociedade da informação talvez relevante
nos EUA, mas inviável no Brasil."


Entretanto,
o que vale é o que cada um pode realizar rumo a este desafio que
é superar o abismo digital, e neste sentido venho divulgar a atuação
da AOPA -
Associação Olhos D´Água de Proteção
Ambiental
, ong gerida por integrantes da comunidade
onde moro
e da qual sou membro do Conselho Curador. A AOPA, sob a batuta
do Alexandre Lins, foi responsável
pela fundação do primeiro
EIC
na localidade do Varjão, comunidade localizada no Lago
Norte em Brasília. Este projeto em parceria com o CDI funciona com procedimentos
pré-determinados, e hoje já tem uma dinâmica de funcionamento
próprio.


Animado
mesmo é o espaço da sede da AOPA, que hoje abriga um embrião
de telecentro em projeto parceiro com a Comunitas,
o qual tem gerado iniciativas conjuntas muito interessantes com a turma da Comunicação
da UnB
e que está se encaminhando para a instalação
de uma rádio comunitária,
além de fomentar a produção cultural local para publicação
na web. Trabalhar pela superação da exclusão digital é
extremamente recompensador e divertido - vale à pena experimentar, e
não faltam vagas para monitores interessados.

quarta-feira, abril 09, 2003

TI governamental diz a que veio
- Rogério Santanna no eventão do Serpro

Saí
correndo hoje de manhã lá para o BlueTree,
do lado do Alvorada, para acompanhar a palestra do novo titular da Secretaria
de Logística e Tecnologia da Informação - SLTI
do Ministério
do Planejamento
, Rogério
Santanna
, na Mostra
de Soluções em Tecnologia da Informação Aplicadas
ao Setor Público
.


Quem é do ramo sabe que este cargo é chave na determinação
de diretrizes para a atuação do governo como um todo em termos
de TI, e eu mesmo vinha há algum tempo querendo descobrir qual o apito
que toca o novo Secretário. Tinha informações sobre sua
atuação nas empresas estaduais do Rio Grande do Sul, o que já
eram boas credenciais, e aproveitando a oportunidade vou blogar sobre a apresentação
dele, que me pareceu muito boa.


Ao
iniciar falando sobre o "apartheid digital", do abismo entre os que
participam da sociedade da informação e os que não tem
acesso a nenhuma infraestrutura - os info-ricos X os info-pobres, antecipou
a tonalidade social de toda a exposição. Muito interessante, e
supreendente, a ênfase dada pelo novo secretário ao aspecto não-tecnológico
dos projetos de inclusão digital. Demonstra que Rogério Santanna
conhece o que está falando, e que as iniciativas da SLTI poderão
finalmente se integrar com os movimentos de inclusão digital já
desenvolvidos pelo terceiro setor e pelas universidades. Só isto já
valeu a manhã!


Ao apresentar as iniciativas de sucesso do governo passado, à principio
Santanna estava meio tímido, mas há que se conceder que o ComprasNet,
que tem hoje 17 países interessados em implementar, o ReceitaNet,
e o sistema
de voto eletrônico
são exemplos de sucesso. Já não
se pode ser tão efusivo com relação às iniciativas
de E-gov na Internet (e porque existe
este?; e pra que serve este?),
pois faltou conhecimento de causa na formulação das diretrizes,
e muito pouca habilidade na integração dos programas mesmo no
raio próximo da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos
Três Poderes (tudo pertinho!). Santanna comentou sua estranheza com o
fato de não haver nenhuma rede de fibra ótica do goerno interligando
os prédios na eplanada (!?). Só a Remav,
da antiga Telebrasília.


Em seguida abordou também a questão do compartilhamento racional
da infraestrutura de redes, o que deve assustar as telecons. Mencionou a necessidade
de independência com relação a esquemas monopolistas / proprietários
no fornecimento de sistemas, o que implica diretamente na questão do
software livre, e colocou como desafio a integração do E-gov com
estados e municípios. Chegou a mencionar o papel importante das empresas
estaduais de processamento de dados neste processo, através do forum
que é a ABEP. Como conhecedor
do ramo, afirmou também que estas empresas precisam passar por uma grande
reformulação em termos de gestão.


Como desafio futuro mencionou a implantação de uma politica de
gestão de sistemas legados, destacando que este aspecto da gestão
de TI mobiliza manobras gigantescas na estrutura dos órgãos governamentais,
e portanto deve operar de acordo com diretrizes gerais que promovam a integração
dos sistemas em nível amplo e o manejo racional dos recursos de TI.


A proposta de implementação do ComprasNet a nível nacional,
de forma a permitir uma política de fomento setorial às micro,
pequenas e médias empresas, ou ainda àquelas que investem em inovação,
através de diretrizes específicas para as compras governamentais
também me pareceu um projeto de primeira. É uma herança
positiva do trabalho realizado no governo passado.


Entre
uma e outra frase interessante, Rogério Santanna mandou lá que
"nenhum processador pode estar sendo desperdiçado no Brasil",
uma boa frase de efeito para o MetaReciclagem.
Deixou claro que o próximo passo do governo em termos de inclusão
digitral será a "Segunda Oficina de Inclusão Digital"
que deve acontecer neste mesmo BlueTree no mês que vem. Este será
o forum onde os vários parceiros desta obra poderão se conhecer,
e de acordo com o posicionamento do novo SLTI do MP (código de siglas
típico de Brasília...), terceiro setor e universidades são
presença fundamental.


Saindo do recinto da Conferência, lá estamos cercados de logomarcas
e gatas em grande estilo - é o bombardeamento dos sentidos. O pessoal
do Serpro realmente caprichou no lanche, mas contamos com o bom discernimento
do novo Secretário para que marcas menos hegemônicas e menos fisiológicas
possam ter a chance de mostrar serviço ao novo governo.

terça-feira, abril 08, 2003

A rede em tempos de guerra

A questão da Akamai não
querer hospedar a versão em inglês
do site da Al Jazeera (como reportou
o NYTimes
) mostra um grave sinal de politização
da infraestrutura
da rede. Um artigo
de John Lettice
no The Register
comenta que a atuação da tv Al Jazeera por satélite é
uma garantia contra tal censura, e pensar no que implicaria uma autonomia análoga
no âmbito da comunicação via web pode nos levar à
conclusão de que a liberdade de expressão na rede é muito
menor do que imaginávamos.


Enquanto isso, a Wired
mostra
que o blog independente de informações de guerra que
vinha tendo um dos melhores desempenhos em termos de visitação,
o The Agonist, acaba de ser desmascarado
por plagiar descaradamente dados de um serviço de informações
pago baseado no Texas, o Stratfor.
Aqui o autor pede
desculpas
pelo plágio. Aos que pretendam usar o fato para atacar
a credibilidade da blogosfera em relação à big mídia,
lembramos que o The Agonist foi louvado
pelo NYTimes
para depois ser desmascarado por outro
blogueiro
.

sexta-feira, abril 04, 2003

Googlewashing
Pagerank causa lavagem semântica?

O The Register publicou artigo
de Andrew Orlowski (Anti-war
slogan coined, repurposed and Googlewashed... in 42 days
), onde este afirma
que os blogueiros da chamada 'A-List' detêm hoje excessivo poder em utilizar
o algoritmo Pagerank
do Google para dar visibilidade aos temas de seu interesse.


Para quem não sabe do que se trata, esta 'A-List' foi inicialmente citada
em Deconsctructing 'You've got
Blog'
, que é uma espécie de resposta ao famoso artigo You've
got Blog
, de Rebecca Mead, que anunciou a existência dos blogs ao
mundo em 2000 ao contar o romance bloguístico de Meg megnut
/ Blogger Hourihan e Jason
Kottke
. O texto de Joe Clark traz argumentos
astutos sobre a existência de uma aristrocracia na blogosfera - blogueiros
com poder suficiente para fazer um determinado conteúdo ascender nos
ranks do Google, relegando ao anonimato da web outros conteúdos não
abençoados pela 'A-list'.


O artigo no Register teve como objeto o termo "Segunda Superpotência",
que segundo Orlowski teria surgido no calor dos protestos
anti-guerra do dia 15 de fevereiro último
numa análise
de notícia por Patrick Tyler
veiculada em primeira página
no NYTimes. Segundo Orlowski, crítico
implacável
do Cluetrain,
em apenas 42 dias a máfia do 'A-List' emplacou nos primeiros lugares
da busca do termo "Segunda
Superpotência" no Google
o artigo de Jim
Moore
, The
Second Superpower Rears its Beautiful Head
, que apresenta a Internet,
ou melhor, a comunidade global conectada como o "corpo" desta "Segunda
Superpotência". Veja o trecho traduzido:



"Está emergindo uma segunda superpotência, mas não
é uma nação. É um novo formato de ator internacional,
constituído pela "vontade do povo" em um movimento social
global. A face bonita, mas profundamente agitada desta segunda superpotência
é a campanha mundial pela paz, mas o corpo deste movimento é
formado por milhões de pessoas interessadas em uma agenda ampla que
inclue desenvolvimento social, ambientalismo, saúde e direitos humanos.
Este movimento possui um corpo musculoso e ágil, formado por cidadãos
ativistas que tem seus interesses identificados com a sociedade mundial como
um todo, e que reconhecem em todos os seres humanos do planeta uma unidade
fundamental. Estas são as pessoas que estão tentando levar em
conta as necessidades e sonhos de todas as 6.3 bilhões de pessoas no
mundo - e não somente os membros de uma ou outra nação."



Ou seja, o artigo
do Register
aponta que o termo Segunda Superpotência nasceu como uma
concessão
do NYTimes
ao movimento pacifista, e que a turma do "A-List" (Cluetrain?)
teria "Googlewashed" (lavado semânticamente), ou descaracterizado
o "real" significado do termo nos algoritmos do Pagerank.
Dessa forma, o termo deixou de ter o sentido que Orlowski gostaria que tivesse
na web, e passou a representar predominantemente a discussão sobre a
Internet como Segunda Superpotência, de acordo com a proposição
de Moore.


Talvez, como diz Kevin
Marks
, Orlowski esteja manifestando a preocupação da big mídia
de que uma confraria de jornalistas não profissionais estejam adquirindo
o poder inusitado de fomentar e formatar novas discussões e introduzir
novos conceitos, cometendo o sacrilégio de ultrapassar o NYTimes em termos
de pertinência perante ao Google. Talvez assuste ainda mais a agilidade,
a escala e a velocidade de evolução de tais procedimentos de difusão
e troca de informações.


Weinberger
infere que a mensagem oculta no artigo de Orlowski, que começa com uma
referência à Internet como ambiente propício ao totalitarismo,
é de que o Pagerank do Google presta atenção exagerada
à blogosfera. Mas "E DAÍ!!". O recado do Joho é
para que Orlowski não se preocupe pois "com a capitulação
da big mídia, a Internet - onde cidadãos como Jim Moore e Andrew
Orlowski podem colocar boas e más idéias em circulação
- oferecerá a melhor proteção contra qualquer tipo de totalitarismo
".