Na rede

segunda-feira, agosto 30, 2004

Bresser na UnB
- Revendo o querido professor, e os ipês amarelos

Nesta segunda em que Brasília amanhece supreendentemente molhada, e os ipês amarelos começam a dar o ar de sua graça, sigo para a UnB a fim de reencontrar o inesquecível professor e ministro Bresser Pereira, com quem muito aprendi nos tempos do antigo Ministério da Administração e Reforma do Estado - MARE e depois no MCT. Foi lá que, juntamente com o saudoso Claudio Sato, implementamos o que seriam os primórdios do governo eletrônico, registrando o domínio www.brasil.gov.br.

Encontrar pessoalmente o ministro Bresser é sempre uma satisfação, mas não é difícil acoompanhá-lo à distância em sua produção -- seu site pessoal é referência em termos de publicação acadêmica na web. Tive o prazer de desenhar a versão 1.0 em 99, e dá gosto ver a evolução da interface e da organização dos conteúdos (mas a foto ainda tá lá, né ministro?). A funcionalidade de comentários no centro é bem intencionada, mas ficaria melhor uma estrutura de postagem com links e disponibilizando comentários aos visitantes -- um verdadeiro blog. Falta também um feed XML, e como sei que o "ministro" acompanha de perto a evolução das funcionalidades estratégicas da web, estarei enviando para ele algo sobre as novidades do mundo da sindicação.

Bresser falou sobre nacionalismo, situando ideologicamente os intelectuais cariocas do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) em relação aos paulistas da ESP. Exercitando a dissidência, afirmou seu engano em relação à Teoria da Dependência (da qual foi um dos formuladores), destacando a necessidade de um estado forte -- com boa dose de nacionalismo -- como fator estratégico para o bom desempenho de um país no ambiente econômico globalizado. Mencionou o livro "Chutando a Escada", onde Ha-Joon Chang demonstra que...

"...os países que primeiro logravam se desenvolver "chutavam a escada" ou "puxavam o tapete", para impedir que os demais países os seguissem e lhes fizessem concorrência."
"Chutando a Escada", in Luis Carlos Bresser Pereira

Portanto, seguir a cartilha das instituições financeiras internacionais em seus conselhos para a economia nacional significa concordar em permanecer no andar inferior. Terminou a palestra destacando a necessidade de se estudar o que aconteceu antes de 1964.

quarta-feira, agosto 25, 2004

Guerrilhas dançantes
- As últimas de John Perry Barlow

John Perry Barlow is back!!

Agora, depois da recauchutagem geral, JPB volta com força total articulando manifestações dançantes programadas para ocorrer na próxima semana em NY, por ocasião da convenção do partido republicano que irá aclamar a candidatura Bush para a eleição presidencial de novembro.

"Juntamente com 50 ou 60 pessoas, iremos todos dançar para eles. Dividindo-nos em diversos pelotões de guerrilhas dançantes disfarçadas em pedestre comuns, vamos percorrer as calçadas das regiões republicanas mais ricas, periodicamente rompendo em explosões de dança, selvagens e inexplicáveis. Iremos manter a manifestação por alguns minutos antes de novamente dissolvermo-nos na multidão e rumarmos para o "ataque" em outro local. Acredito que isto irá tirá-los de sua postura usual, já que a maioria deles (republicanos) não dançam, e são perturbados por aqueles que o fazem."
John Perry Barlow - Dancin in the streets (Revolution with a smile)

Mas não fica por aí... Na Wired deste mës está publicada a revisão do clássico de 94, "The Economy of Ideas" -- no novo texto Barlow expõe sua visão sobre a atual situação da revolução fomentada pelo ambiente digital:

"Finalmente explodiu a grande guerra cultural. Longamente aguardada por alguns, e uma amarga surpresa para outros, a batalha entre a era industrial e a era virtual está agora sendo travada de forma aberta, graças a uma coisa concebida de forma modesta, mas com a potência de implodir um paradigma - o Napster"
John Perry Barlow - The Next Economy of Ideas (Wired)

E na ReasonOnline encontramos uma entrevista também destinada a se tornar um clássico. Barlow, o "Thomas Jefferson do ciberespaço", demonstra claramente em suas respostas que está pronto para atuar fortemente no cenário político americano, disposto a tudo para reverter a lógica alucinatória do governo Bush que se multiplica nas consciências anestesiadas através do discurso hipnótico das telas estúpidas (a sua TV):

"Temos agora duas formas distintas de recolher informações, além do que você mesmo pode experimentar através dos sentidos próprios. Uma delas é menos uma mídia do que um ambiente - a Internet - com uma enorme multiplicidade de pontos de vista, e inúmeras formas de se descobrir o que está rolando no mundo. Muitas pessoas estão sintonizadas nesta onda, e milhões de pontos de vista floresceram. Este movimento cria uma cacofonia de posicionamentos que não se consolidam em um discurso político coerente -- formam uma linda discussão, mas não reúnem a capacidade de criar grandes blocos de crença.
A outra mída, a TV, agrega hoje uma porcentagem bem menor de espectadores do que no passado, mas estes usuários adquirem TODAS as informações através da telinha -- e se transformam em um bloco de crença muito uniforme. A TV na America criou o campo de distorção da realidade mais coerente que eu já vi. E aqui está o problema: as pessoas que votam assistem a TV, e estão alucinando como um fdp. Basicamente o que estamos assistindo neste país é o governo através da alucinação coletiva
"

John Perry Barlow - Interview to Reason Online

Todos às guerrilhas dançantes!

* Outras referências de JPB:

- A Declaration of the Independence of Cyberspace

- Selling Wine Without Bottles: The Economy of Mind on the Global Net

- Discurso do Ministro Gilberto Gil que cita o texto acima

sexta-feira, agosto 20, 2004

Concurso de Games do MinC
- Exercitando narrativas emergentes

Está no ar o link para o "Concurso de Jogos Eletrônicos Brasileiros", iniciativa do Ministério da Cultura no sentido de reconhecer o universo dos games como campo fértil para ações culturais estratégicas, e apoiar o desenvolvimento de uma linguagem nacional para este setor que não para de se expandir.

Para nós que estamos no exercício conceitual e prático da Ecologia Digital, é uma satisfação ver um projeto de governo embutir conceitos concebidos e desenvolvidos de forma coletiva na rede, e que introduzem a Co-Laboração no DNA das interfaces. Fica como uma pequena amostra de que o chefe não está falando à toa. E quando pensamos nas possibilidades das narrativas emergentes, e nas articulações xemelentas dos "pontos de cultura"... Como diz o Dpádua - Medo!

Valeu galera: Alfredão, Cadu, Sandro, Dpádua, Uirá, Ronaldo na ponta da linha, e o resto da galera. Vou prá Piri...


quarta-feira, agosto 18, 2004

FUD Microsoft em baixa
- Declarações causam risos em press conference

Deve ser realmente muito chato quando a estratégia FUD da empresa onde você trabalha leva o público de sua conferência a um ataque de risos. Pois foi o que aconteceu com a Microsoft quando do anúncio do acordo com Newham, um distrito de Londres (via GrokLaw).

"It takes a lot to raise a laugh at an IT press gig, but this news tickled the spot for the journalists at today's press conference in London."
The Register - Newham and Microsoft sign 10-yr deal

A reação aconteceu quando foram apresentados os resultados de uma auditoria específica realizada pela empresa CapGemini, que entre as principais conclusões apresentou que além de ser mais barata , a plataforma Microsoft seria também mais segura que as soluções open source. Para rir mais um pouco: Get the facts.

Tudo indica que a M$ (e outros) está gastando um tanto de grana para não perder a conta de governos. Já em 2003 havia notícia da existência de fundos especiais para a manutenção de política de descontos estratégicos, como ilustra texto de e-mail de Orlando Ayala:

'"Under NO circumstances lose against Linux", he said, saying that in cases where the deal involved governments or large institutions there was a special fund available which could be used to offer large discounts, or even to give Microsoft software away.'
The Register - MS ‘slush’ fund provides big discounts to stop Linux – email

Neste momento a guerra se acirra, e a rede acompanha:

Por aqui, estamos melhor. Mas rolou muita coisa estranha, até de processarem o Serginho, que faz aniversário esta semana, por mencionar que a Microsoft usa táticas de traficantes de drogas. Entretanto, o próprio Bill falou...

terça-feira, agosto 17, 2004

As línguas na rede
- números

Através do Brainstorms achei um site interessante que acompanha desde 95 a evolução do espaço ocupado pelas línguas na rede. Veja abaixo uma formatação ordenando pelo número de pessoas com acesso à Internet. Boa informação aos navegantes e principalmente aos interessados na ecologia digital.
































































































Acesso
à Internet (M)
%
da população online
2004
(prev.em M)
População
Total (M)
English 287,5 35.8% 280 508
Chinese 102,6 14.1% 170 874
Japanese 69,7 9.6% 88 125
Spanish 65,6 9.0% 70 350
Korean 29,9 4.1% 43 78
French 28,0 3.8% 41 77
Portuguese 25,7 3.5%
32 176
Russian 18,5 2.5% 23 167
Malay 13,6 1.9% 12 229
Dutch 13,5 1.9% 14,5 20
Arabic 10,5 1.4% 12 300

Estes dados, juntamente com o fenômeno orkut/fotolog, podem gerar boas reflexões...

Veja também:

"Estadounidenses, you've gotta get your groove on and get those línguas in shape because, if the revolution will not be televised, it will most certainly not be broadcast in English either.
Precisam prestar atenção!"

quarta-feira, agosto 11, 2004

Cultura Digital e Desenvolvimento
- A palavra forte do nosso ministro hacker

Este é o "chefe", Ministro Gilberto Gil, proferindo Aula Magna de abertura dos Programas 2004/2005 da Cidade do Conhecimento da USP com o título "Cultura Digital e Desenvolvimento". É um texto irado e brilhante - só conferindo:

"...mais interessante de tudo isso é que este movimento (software livre) surgiu na sociedade, e não nas empresas, nos partidos, nas entidades, nos modos de representação ou de organização tradicionais, o que implica uma mudança estrutural, profunda, não apenas de conteúdo, mas de forma, de processo, que se reflete no que se diz, no que se propõe, e também em como se diz, em como se propõe.

Tudo tem acontecido de forma descentralizada, fruto do trabalho coletivo de gente que tem interesses, desejos e bagagens culturais diversas, mas que decidiu trabalhar de graça, dando inclusive um novo sentido à palavra trabalho, para que mais e mais pessoas, no mundo inteiro, possam ser donas de seu destino ou ter uma vida melhor, o que significa, nos dias de hoje, inclusão digital (...)

É com otimismo e alegria que devemos saudar as iniciativas e as experiências de inclusão digital e de adoção do software livre, assim como o debate que se trava sobre os impactos da cultura digital sobre os direitos autorais, com as propostas de novas formas de licenciamento e gestão de conteúdos, a exemplo das creative commons, que abrem perspectivas inteiramente novas, diferentes, oxigenadas, para temas antes prisioneiros das várias formas de ortodoxia analógica.(...)

Atuar em cultura digital concretiza essa filosofia, que abre espaço para redefinir a forma e o conteúdo das políticas culturais, e transforma o Ministério da Cultura em ministério da liberdade, ministério da criatividade, ministério da ousadia, ministério da contemporaneidade. Ministério, enfim, da Cultura Digital e das Indústrias Criativas. (...)

Vocês certamente sabem, mas não custa destacar: existe uma comunidade, uma cultura compartilhada, de programadores e pensadores, cuja história remonta aos primeiros experimentos de minicomputadores. Os membros dessa cultura deram origem ao termo "hacker". Hackers construíram a Internet. Hackers idealizaram e fazem a World Wide Web. E amentalidade hacker não é confinada a esta cultura do hacker-de-software. Há pessoas que aplicam a atitude hacker em outras coisas, como eletrônica, música e nas ciências humanas. Na verdade, pode-se encontrá-la nos níveis mais altos de qualquer ciência ou arte.(...)

Eu, Gilberto Gil, cidadão brasileiro e cidadão do mundo, Ministro da Cultura do Brasil, trabalho na música, no ministério e em todas as dimensões de minha existência, sob a inspiração da ética hacker, e preocupado com as questões que o meu mundo e o meu tempo me colocam, como a questão da inclusão digital, a questão do software livre e a questão da regulação e do desenvolvimento da produção e da difusão de conteúdos audiovisuais, por qualquer meio, para qualquer fim."


A manifestação do ministro é também uma resposta às inúmeras críticas ao projeto da Ancinav, que se misturaram a uma matéria "no mínimo engraçada" no Estadão - "Governo quer controlar conteúdo da internet":

"Ontem, por exemplo, um grande jornal de São Paulo estampou em chamada de primeira página: o Ministério da Cultura quer controlar a Internet. Ora... Isso ofende a minha inteligência, a minha história, a minha sensibilidade. E a inteligência dos próprios leitores."

Valeu chefe! Os cães vão latir, mas a caravana vai passar.

terça-feira, agosto 10, 2004

Ayahuasca nos centros urbanos
- Reinventada?

Aproveito o momento para anunciar o lançamento de um livro que pode interessar a muitos leitores da Ecologia Digital. Minha amiga Bia Labate estará autografando "A Reinvenção do Uso da Ayahuasca nos Centros Urbanos" amanhã, na Livraria Cultura que fica no shopping Villa-Lobos - Av. Nações Unidas, 4777, em sampa. Vai rolar show e intervenção do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos - NEIP.

Não li o livro, mas depois de muitas conversas com a Bia tenho certeza que o assunto está bem abordado. E depois que ler, volto nos comentários para registrar o que achei.

segunda-feira, agosto 09, 2004

Sinais de adaptação na ecologia open source
- Monitorando a Oscon e a Linux Expoworld

O Doc apresenta o rescaldo dos dois eventos fortes do mundo open source acontecidos recentemente - a Oscon e o Linux Expoworld. Destaco a identificação dos atores principais da dinâmica que estamos todos observando no desenvolvimento do mercado de software livre. Muito ilustrativo:

"Eu vejo duas divisões fundamentais. Uma é entre a infra-estrutura open source não-comercial e os serviços e produtos comerciais que dependem dela. A segunda é entre as comunidades tradicionais de desenvolvimento open source e a crescente população de praticantes para quem o principal benefício do modelo está na gratuidade dos componentes, e para quem as motivações básicas das comunidades de desenvolvimento originais (liberdade, por exemplo) não têm muita importância. Estas não são divisões que se opõem - vejo-as como papéis simbióticos em um mercado que amadurece e prolifera, e no qual novas espécies, totalmente dependentes do open source, estão surgindo para dominar o ambiente comercial."
Adaptations - Doc Searls - Linux Journal


AVISO AOS LEITORES: Neste momento, muitas pendências têm impossibilitado qualquer atenção a este blog, o que não significa que eu esteja completamente fora de circuito. Por agora estarei postando neste endereço (Links Ecodigital)(XML) sobre o que estou observando no ambiente digital, e em breve voltarei a postar por aqui.