Na rede

terça-feira, dezembro 02, 2008

Falando de WordPress no Debate dos CMSs Livres



Fui convidado pelo pessoal da Artecom para participar do Encontro de Tecnologia da Informação semana passada em São Paulo. A proposta era participar de um Debate dos CMSs Livres, que reuniria especialistas no uso das mais populares ferramentas de publicação web livres, no caso: Joomla, Drupal e WordPress.

O fato do WordPress entrar no ranking da categoria CMS é significativo. Talvez tenha sido este o principal estímulo para eu participar, pois não vejo muito sentido nesta guerra santa fundamentalista que se forma em torno de plataformas, e acho que o título do painel tinha um certo apelo emocional (ou emocionante?). Até cheer-leader tinha (foto do Blagus, gente fina).

No que pude experimentar, o evento foi bem legal - a produção está de parabéns. Foi uma boa oportunidade para conhecer pessoas interessantes, e também para falar um pouco do porquê faz sentido utilizar uma ferramenta de blog num contexto onde você precisa fomentar o entendimento sobre as possibilidades da interatividade web em uma instituição pública. Veja (ouça) aí. Se gostar, ou não gostar, comente.

Agora estou na Índia, em Hyderabad, e o blog da vez é o do Internet Governance Forum (IGF). Confere lá, pois o tema é da maior importância para quem vê importância nas inúmeras coisas que se tornaram possíveis com a rede. Você acha que as liberdades conquistadas estão garantidas? Se liga...

sábado, novembro 08, 2008

1º Festival Internacional de Arte e Mídia – FAM, na UnB

Fui convidado pelo colega Daniel Hora para participar da mesa de debates Arte, Educação e Tecnologia, no tema Cibercultura, do 1º Festival Internacional de Arte e Mídia, na UnB. Faz algum tempo que não tenho a oportunidade de falar para público acadêmico, e particularmente neste momento, senti necessidade de exercitar a reflexão sobre Cultura Digital.

Achei que fazia sentido começar falando do Xemelê enquanto iniciativa de utiização prática dos conceitos, ilustrando a abordagem focada no fomento a uma "cultura de uso" das possibilidades da convergência digital e do uso interativo da rede.

É aí me pareceu fundamental introduzir o que considero ser as premissas da Cultura Digital enquanto conceito de referência para a formulação de políticas públicas de inclusão digital: (1) o impacto inegável da Internet na cultura, em variados sentidos; (2) a grande vantagem que iniciativas de caráter público tem ao fazer uso da web como plataforma; (3) o uso das tecnologias digitais e da comunicação via rede sobre temas da cultura acelera a apropriação e a compreensão das transformações em curso na era da informação; e (4) é estratégico que sejam exploradas as possibilidades de usos inovadores e novas modalidades de participação na rede antes que sejam criados constrangimentos penais para os usuários.

Entre apresentações como "Arte Hacker e o Ciberfeminismo" da Profª Maria de Fátima Burgos, e "Ruído, Desvio e Produção Colaborativa: Estética Relacional e Hacktivismo" do Daniel Hora, me senti à vontade para contar do que estamos fazendo no MinC em relação a este tema tão virtual, e ao mesmo tempo tão presente e concreto que é o ambiente digital. E a resposta da audiência também foi muito positiva.

Foi importante poder lembrar os presentes do ativismo necessário à manutenção das possibilidades abertas e das liberdades e direitos civis no ambiente digital. Deve acontecer nesta próxima semana a audiência pública na Câmara dos Deputados sobre o substitutivo ao PL 89/2003, mais conhecido como 'Lei Azeredo'. O projeto pretende tipificar condutas ilícitas na rede, mas tem causado enorme controvérsia na medida em que inúmeros especialistas têm listado exemplos de ações triviais que estariam sob risco de serem enquadradas como crimes caso a lei seja aprovada. Será que vamos conseguir mobilizar os interessados em manter a rede aberta e neutra?

Segue abaixo os slides da apresentação realizada.




Participação na mesa Arte, Educação e Tecnologia, tema Cibercultura

terça-feira, novembro 04, 2008

Latinoware 2008 em Foz do Iguaçu, e Matt Mullenweg

Depois de muitos anos -- havia visitado quando criança -- retornei a Foz do Iguaçu, desta vez para apresentar o "Xemelê" no LatinoWare 2008.  Evento impressionante, tanto pela quantidade e qualidade do público presente (4.000 entusiastas do software livre de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) quanto pela extensa programação -- 12 horas diárias ininterruptas de apresentações, mini-cursos e reuniões dos coletivos.


É notável que tal empreendimento seja realizado pela Itaipu Binacional, e aconteça no Parque Tecnológico que fica dentro da usina, em território binacional. A articulação da organização, tocada pelo incansável Frank Alcântara 2.o, me pareceu bastante consciente e sensível, e teve papel importante no sucesso do evento.

Só não deu para entender aquela palestra de encerramento, da Novel com a Microsoft, falando sobre 'bridges'. Nada contra a Novel com a Microsoft vir falar sobre 'bridges' em um evento de software livre. Absolutamente tudo contra deixar a platéia de simpatizantes do SL impossibilitados de sair do evento antes da realização da mesma. E com fome, pois a dita cuja começou às nove da noite (terminou depois das 10) e o único local de lanche no PTI havia fechado às 5 por absoluta falência do respectivo estoque. Isto para uma jornada acontecida em um sábado que começou no ônibus do hotel para a usina às 8 da manhã... Francamente, não entendi a proposta.

Matt Mullenweg e a galera WordPress

Para nós do MinC, uma atração à parte no evento era a presença do Matt Mullenweg, fundador do WordPress, e um dos caras que tem barbarizado na implementação do modelo de negócio do open source. E também a reunião da galera que ativa a formação da comunidade WordPress.br, Cátia Kitahara e turma (foto) [Vamos fazer o WordCamp, galera!!]. Vale também registrar a grata presença, em Foz, do dPádua -- um dos responsáveis pela gestação do conceito Xemelê no MinC.

Foi bem legal ter a oportunidade de conversar com o Matt, ver ele mostrar todo animado os features da versão 2.7 que está no forno, e também poder falar do Xemelê e da experiência que estamos tocando com WordPress no ministério. A deixa para o assunto foi quando Matt dizia da percepção dele sobre a evolução do foco do desenvolvimento da comunidade rumando dos 'plugins' para os 'themes', o que de certa forma descreve o que estamos compartilhando no Xemelê. 

O Guilherme Aguiar filmou (e tirou as fotos acima) e eu legendei lá no dotsub, para quem quiser conferir abaixo, vai o vídeo em que tento explicar para o Matt o que WordPress tem a ver com Xemelê.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Promovendo a interatividade web em instituições públicas

O advento da Web 2.0 é na verdade a afirmação do diferencial comunicativo na Internet: a interatividade. O manejo das ferramentas de interação está cada vez mais disseminado e facilitado para usuários comuns da web, e a crescente participação destas novas audiências nas inovadoras e diversificadas instâncias de debate público da Internet -- das páginas de comentários dos blogs aos fóruns do Orkut, e hoje o Twitter -- colocam novos desafios para os responsáveis pela concepção e implementação de projetos web.

Para as instituições públicas, o processo de compreensão e posterior apropriação destes conceitos que evoluem na velocidade da luz não é ação trivial, principalmente pelo fato da gestão de projetos web não dispor de locus institucional específico, pois em geral, tais empreitadas são compartilhadas entre as assessorias de comunicação e as áreas de TI. Tal situação remete à contratação de serviços terceirizados especializados, que em geral não contemplam a devida capacitação da instituição para apropriação da web como plataforma de interação (diálogo) com seu público usuário, o que resulta em estagnação dos projetos.

Neste contexto, o desafio recorrente é: potencializar o pleno uso da rede para a comunicação institucional, promovendo a apropriação das ferramentas de comunicação (publicação e interatividade web) pelas equipes de comunicação, produção de conteúdo e relacionamento / atendimento a públicos usuários. Tal processo implica na descentralização da produção de conteúdo web na instituição, e na capacitação dos interlocutores internos para a conversa online.

Para enfrentar este desafio de maneira adequada, propomos recorrer a princípios motores da própria Web 2.0: ferramentas open source (software livre) / interfaces óbvias / modelos DiY (faça você mesmo) / uso intensivo de RSS e tags. A idéia é prover maior autonomia aos responsáveis pela criação do conteúdo, localizados nas áreas finalísticas, para que possam colaborar efetivamente na evolução das interfaces com os públicos usuários.

Partindo dessas referências conceituais, a idéia é utilizar plataformas que potencializem os efeitos participativos da rede, através de ferramentas da web 2.0. Tais ferramentas evoluem na medida em que são utilizadas e customizadas diretamente por quem domina os temas da instituição e, de acordo com o modelo proposto, se coloca em condição de operar a interatividade com o público da web.

Dessa forma, a estratégia de comunicação web pode ser apropriada pela instituição, assim respondendo às demandas específicas de cada órgão e evoluindo de forma sustentável como principal sistema de documentação institucional, comunicação e prestação de serviços e informações a públicos usuários.


Wordpress como CMS - Blogs para disseminação da Web 2.0 em instituições públicas

As ferramentas para publicação de blog, em geral, tem como pontos de destaque: (1) facilidade de uso, (2) arquitetura modular e dinâmica, (3) facilidade de configuração e gerenciamento pelos editores de conteúdo, (4) funcionalidades interativas nativas (ex: comentários nas páginas) (5) escalabilidade modular (novas funcionalidades / plugins) (6) uso intensivo de rss e tags.

Estas características atendem ao modelo que propõe a promoção da interatividade como princípio de utilização da web na comunicação institucional do órgão. Facilitando a capacitação dos colaboradores para operar a interatividade através destas ferramentas de publicação web, promove-se o alargamento da superfície de contato do órgão com seu público.

Entre as plataformas open source de blogs, o WordPress e sua ativa e competente comunidade de desenvolvimento chamou nossa atenção. A possibilidade de desenvolver funcionalidades em módulos, no formato de plugins, viabilizou os 'hacks' desenvolvidos pela equipe web do MinC para adaptar a plataforma WordPress ao funcionamento como um sistema de gerenciamento de portais. Estes plugins desenvolvidos pelo MinC, que transformam o WordPress em gerenciador de portais, estão sendo disponibilizados na comunidade Xemelê no Portal do Software Público.

O pleno êxito na utilização do WordPress para o gerenciamento do site institucional do MinC indicou que a opção era adequada. A dinâmica interna gerada pela flexibilidade de customização para os usuários que publicam os conteúdos surpreendeu. A possibilidade de criar novas áreas com layout e funcionalidades (plugins) específicos, e evoluir a arquitetura de informação de acordo com as demandas dos colaboradores, viabilizou um processo de descentralização adequado. Provendo autonomia e escalabilidade, facilitou a apropriação do website institucional para a promoção da interatividade com os públicos usuários.

ChatCast para Interatividade na Internet

Outra ferramenta desenvolvida pela equipe web do MinC, e também disponibilizada na comunidade Xemelê no Portal do Software Público, é o ChatCast. Trata-se basicamente de uma interface integrada do streaming de vídeo com o chat. Ao mesmo tempo em que o usuário remoto tem acesso ao audiovisual da conferência / apresentação em tempo real pela web, pode também acompanhar / participar da 'desconferência' -- debate entre membros da audiência online -- via chat. Em termos de tecnologia, a aplicação é bastante simples, e o chat poderá funcionar aberto ou com algum tipo de inscrição prévia. Uma forma de utilização interessante deste modelo é a projeção da 'desconferência*' (o chat) em uma tela no ambiente do evento transmitido, criando um 'loop' de feedback em tempo real, entre o evento presencial e a audiência online.


A comunidade Xemelê no Portal do Sofware Público
tem como objetivo inicial compartilhar as ferramentas para interatividade web desenvolvidas pelo Ministério da Cultura. A partir dos bons resultados colhidos com o modelo de implementação, propõe-se a difundir e evoluir colaborativamente os conceitos / aplicações / estratégicas de uso da interatividade para comunicação institucional de órgãos governamentais na rede.

O modelo tem se mostrado especialmente favorável para o uso da Internet em ações de integração interministerial / projetos compartilhados / ações público-privadas.

sábado, agosto 02, 2008

Workshop do 'Internet Bill of Rights' no iSummit08 em Sapporo

Para representar o Min. Gil em mais um colóquio da coalizão dinâmica para a formulação da 'Carta dos Direitos da Internet', fui enviado pelo MinC para participar do iSummit08 em Sapporo, no Japão. Recapitulando...

Desde o seu lançamento, por ocasião da Cúpula da Sociedade da Informação em Tunis (2005), a iniciativa para a formulação de uma "Carta dos Direitos da Internet" tem no Ministro Gilberto Gil um de seus principais articuladores. Durante o 'Internet Governance Forum' (IGF-ONU) ocorrido em Atenas em 2006, foi lançada uma coalizão dinâmica para formalizar as articulações no tema.

Naquela oportunidade, representei o Gil no workshop e a abordagem foi em cima da demanda por 'remixar cultura', que empiricamente surgia na dinâmica das atividades nos pontos de cultura. Neste caso, falávamos de algo mais do que apenas direito de acesso: novos proto-direitos que surgiam como consequência de situações inusitadas proporcionadas pelo ambiente digital, e que precisam reconhecimento e suporte tanto por serem novos, como por constituir ameaça direta ao modelo de negócio sustentado pelo marco regulatório vigente - direitos assegurados.

Na segunda edição do IGF, que aconteceu no Rio em novembro do ano passado, o Gil reafirmou a necessidade de um documento que pudesse estabelecer princípios sobre direitos fundamentais no ambiente da Internet, que devem incluir questões relativas a privacidade, proteção de dados, liberdade de expressão, acesso universal, neutralidade da rede, interoperabilidade, uso de padrões abertos, acesso público ao conhecimento, entre outros. Na ocasião foi assinada uma Declaração Conjunta sobre Direitos da Internet junto com o Subsecretário de Estado para Comunicações do Governo da Itália, Luigi Vimercati.


O workshop sobre o IBR que aconteceu no iSummit no Japão foi um evento promovido pela coalizão dinâmica / IGF-ONU, e contou com apoio do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV-Rio. O workshop apresentou uma tentativa de reformatação da abordagem que prevaleceu até agora, muito focada na idéia de formulação de um documento (carta / bill), e que não logrou avanços significativos. A despeito da atenção que o 'meme' Internet Bill of Rights é capaz de atrair na mídia, está claro que o debate sobre a governança global da Internet demanda não um documento mas uma uma plataforma que facilite a colaboração entre as inúmeras partes, promovendo processos e instrumentos que possam então definir e garantir o respeito universal a direitos na Internet.

Devo dizer que todos os presentes que estavam tomando um primeiro contato com o tema do 'Internet Bill of Rights' e se manifestavam com perguntas ou comentários, levantavam as mesmas questões que vem sendo levantadas desde o workshop em Atenas, em 2006. (1) Porque não implementar os direitos já consagrados na declaração universal? (2) Como legislar efetivamente em meio a tantas variáveis nacionais sobre a interpretação dos direitos em relação à rede? (3) Como regulamentar sobre variáveis tecnológicas que se alteram diariamente?

Em conversa com integrantes da coalizão dinâmica, registrei um consenso no sentido de que o nome 'Internet Bill of Rights' tem mais atrapalhado do que ajudado a evolução do debate sobre direitos na Internet, e será encaminhada moção com este objetivo. O próximo encontro da coalizão está marcado para acontecer na próxima edição do Internet Governance Forum em Hiderabad, na Índia, em dezembro de 2008.

O pitoresco foi que, no dia da apresentação no workshop em Sapporo (Bill of Rights & Brazil's Ministry of Culture, veja o vídeo), Gil já não era mais ministro... No dia 31 de julho ele anuniou seu retorno à música, o que acabou sendo tema de um papo com o Tony Curzon Price do Open Democracy no Starbucks da esquina da rua do hotel. Da conversa surgiu o convite para o artigo sobre a gestão Gil no MinC para o OD, o qual tive o maior prazer em fazer, e que está também no eco-rama (com fotos).

A oportunidade de viajar ao Japão é extraordinária. Em Sapporo fiz alguns registros que reuní no vídeo abaixo, com trilha do CD CC-Asia e do Miguel, meu filho (olha o coruja :)

terça-feira, julho 15, 2008

Aprendendo com as Vozes Globais

O Global Voices Summit em Budapeste foi um evento memorável. Cabe aqui um reconhecimento solene ao excelente planejamento e execução de toda a equipe de apoio, e também
muitos 'vivas' a esta extraordinária comunidade global de blogueiros reunida pelo projeto.

O primeiro dia (26/06) contou com um workshop mais reservado, promovido pelo GV Advocacy, destinado a debater aspectos da liberdade de expressão na rede. Especialistas em filtragem de conteúdos na rede como Rob Faris, da Open Net Initiative, discutiram os 4 principais tipos: policial (bloqueio a sites de oposição ou noticiosos independentes), social (bloqueio de pornografia, jogos de azar e/ou apologia a álcool e drogas), segurança (bloqueio a movimentos separatistas e terroristas violentos) e aplicações web (ferramentas de circunvenção como o Tor ou servidores de proxy). Para a equipe GV, dois novos tipos de filtragem merecem atenção: o bloqueio a conteúdo para celulares, e o bloqueio a sites de mídia social -- o qual é mapeado pelo GV Advocacy.

A seguir tivemos dois dias do evento aberto ao público, contando com a participação de inúmeros jornalistas, blogueiros, ativistas da liberdade de expressão, e demais interessados em novas mídias. No primeiro dia os painéis contaram com relatos de blogueiros que sofrem censura em países como Belarus, Japão, Egito e Paquistão, e como os ativistas respondem a estas limitações.

Wael Abbas apresentou alguns vídeos indigestos que ilustram o desrespeito a direitos humanos no Egito, enquanto Ory Okolloh (grávida) compartilhou sua experiência pessoal no valoroso movimento de blogueiros em resposta à crise política que se seguiu à eleição presidencial de dezembro último no Quênia. Ao relato das ameaças sofridas por Okolloh, que certamente podem induzir certo grau de auto-censura, seguiu-se a exposição de Alex Au sobre o "lado psicológico da repressão" que parece ocorrer em Cingapura. Neste país, a apatia pela busca da liberdade de expressão parece estar embotada por 20 anos de um impressionante desenvolvimento econômico local.

O segundo dia do evento público foi marcado pela apresentação dos projetos 'Rising Voices' (Vozes Emergentes), e também pelo anúncio dos novos projetos relacionados à saúde pública. É enorme a satisfação em fazer parte desta comunidade, e sempre agradeço a oportunidade do convite do brother David Sasaki, coordenador do Rising Voices. Georgia Popplewell, agora nossa Managing Director é quem divide a foto comigo e David em Budapeste.

sexta-feira, junho 06, 2008

Wordpress no MinC: Xemelê e Software Público

Até para justificar o porque deste blog ser atualizado tão raramente, vale destacar o trabalho que estamos realizando na 'gloriosa' Gerência de Informações Estratégicas do Ministério da Cultura.

Os plugins que habilitam o Wordpress a gerenciar portais, os mesmos utilizados no site do MinC, começam a ser compartilhados no blog Xemelê. O primeiro foi o 'Gerenciador de Capas', e em contato direto com os usuários a equipe está 'arredondando' o tema 'Xemelê', que trará este e outros plugins (gerenciador de regras, limitador de categorias, etc.) já instalados. A publicação do tema completo deverá facilitar o entendimento da instalação e customização da solução wp para portais. Com o objetivo de disseminar o uso desta plataforma como ferramenta web para as instituições públicas em geral, lançaremos em breve a Comunidade Xemelê no Portal do Software Público.

Esta semana lançamos também a segunda versão do site do MinC em Wordpress, que incorpora os desenvolvimentos realizados desde o lançamento da primeira versão, em novembro de 2007. O Fabiano Rangel, 'teleiro' da equipe, apresentou bem os destaques do lançamento (trechos selecionados abaixo).

MinC Versão 2.0

  • Visual desenvolvido para usuários com 1024×768 pixels
    Uma modificação importantíssima, não só pelo aspecto visual do portal.. mas por ampliar todas as áreas de informação do site. A arquitetura de informação ficou agradável seguindo o padrão anterior e permanece com uma boa navegabilidade.
  • Theme validado pela W3C (XHTML 1.0 - CSS)
    Visual seguiu todos os padrões web atuais, ou seja, foi contruido integralmente seguindo todas as normas e características da W3C.
  • Mais interatividade com os usuários do portal
    Pode-se perceber a presença dos últimos comentários de usuários do portal em diversas páginas do site, tanto na capa do portal como em outras páginas internas do mesmo. Isso com certeza é um diferencial bastante atrativo para quem gosta de ver o que as pessoas discutem sobre os assuntos.
  • Função experimental de customização da interface
    Foi incorporada uma função de “Drag and Drop” ou seja, você pode arrastar as caixas de conteúdos e deixar o visual do portal ao seu modo. Uma funcionalidade bastante atrativa para quem gosta de um estilo próprio de visualização.
  • Mais espaço para o Cultura em Movimento,
    que é um espaço para publicação de imagens de artistas, designers, fotógrafos foi ampliada e pode-se observar as imagens de uma forma mais integra no novo topo do site.

  • Busca via Google Coop
    Busca interna no portal mais eficiente, selecionando corretamente os artigos e páginas relacionadas a palavra escolhida.
  • Menus de Navegação
    Os dois menus mais importantes do site foram modificados. Foi desenvolvido um menu estilo “tree-view” de exibição das categorias, subcategorias e páginas. Agora é possivel visualizar todas categorias de um assunto “X” sem precisar ficar se movimentando pelo portal.
  • Relacionamento entre páginas & tags
    Outra funcionalidade bastante interessante, pode-se ler notícias que se relacionam através das palavras chaves. As páginas linkam-se umas as outras para auxiliar os visitantes a ver conteúdos no mesmo tema.
  • Observações Gerais
    Quem diria que um simples “sistema de blogs” seria capaz de tanta funcionalidade e um visual como este… Parabéns à Equipe Web MinC!

segunda-feira, maio 26, 2008

A Conexão Obama

Fui convidado para participar de um debate sobre Mídias Sociais e eleições - Uso das ferramentas de mídias sociais para mobilização, autopromoção e propaganda política.

Não sei ainda se poderei participar, mas estava refletindo sobre o tema hoje, e me deparei com um op-ed no NYTimes do Roger Cohen que me pareceu absolutamente pertinente. Estando em uma apresentação pouco interessante, e com um bom wi-fi disponível, achei que valia traduzir e registrar aqui a íntegra.


A Conexão Obama
Roger Cohen - NYTimes (26/05/2008)

É a rede, estúpido.

Mais do que qualquer outro fator, foi a sacação de Obama sobre o papel central das redes sociais na Internet que impulsionou sua campanha pela indicação do partido democrata a obter uma vantagem insuperável sobre Hillary Clinton. A campanha da senadora é totalmente século XX, enquanto que Obama funciona em acordo com as referências do século corrente.

Não é verdadeiramente uma surpresa. Obama passou apenas 10 anos de sua vida adulta no mundo partido da guerra fria, e o dobro disto na crescente inter-conectividade típica do mundo pós-muro de Berlim. Neste período, 'MAC' -- sigla para conectividade assegurada mutuamente ("mutually assured connectivity") -- tomou o lugar do 'MAD' -- destruição assegurada mutuamente ("muttually assured destruction") -- dos tempos da guerra fria.

Para Clinton, nascida em 1947, a equação é diferente. Seu paradigma mental é a divisão. Quando seu marido concorreu pela última vez para presidente em 1996, a Internet ainda era um fenômeno marginal. O pensamento e as pessoas daquela campanha provaram sua inaptidão em acompanhar o que aconteceu nos últimos 12 anos. Ficaram como que ofuscados pelas luzes de webcam do fenômeno Obama.

Esta falha cultural foi devastadora para Clinton. Como muito bem comentado por Joshua Green em um artigo importante no The Atlantic ("The Amazing Money Machine"), Obama utilizou as redes sociais e seu website amigável para desenvolver sua máquina de dinheiro e o engajamento dos jovens, aspectos fundamentais para a sua dianteira hoje.

Green observa que, "o registro de 1.276.000 doadores na campanha de Obama é tal que Clinton nem mesmo se preocupa em competir neste quesito". Ele fornece alguns outros números da campanha de Obama: 750.000 voluntários ativos e 8.000 grupos de afinidade. Em fevereiro, quando a campanha arrecadou 55 milhões de dólares (45 milhões via Internet), 94% das doações apresentaram valores menores que 200 dólares, um resultado também incomparável com as campanhas de Clinton e McCain.

Obama tem funcionado como um start-up clássico da Internet, um movimento que se espalha com intensidade viral e é impulsionado por algumas das mentes mais criativas do Vale do Silício. Tal como qualquer fenômeno online, ultrapassou as fronteiras nacionais, chamando atenção em Berlim tanto quanto nos EUA.

Tais condições não teriam sido realizadas sem uma percepção apurada do momento histórico, como a convicção de que a natureza do mundo pós-11 de setembro -- este que está além da 'guerra sem fim'-- será determinado pela sociabilidade e pela conectividade. No mundo globalizado do MySpace, LinkedIn e outros, a sociabilidade é tão importante quanto a soberania.

Tenho pesquisado, em vão, por esta percepção histórica na campanha de Clinton. Sua ameaça de 'aniquilar totalmente' o Irã, sua referência repugnante ao assassinato de Robert Kennedy em 1968 como um motivo para seguir na campanha, e suas invenções sobre o que aconteceu na Bósnia, tudo isto reflete a história como conteúdo a ser utilizado para fins políticos, e não como fonte de inspiração e reflexão.

Trata-se da história como referência pessoal: "Eu, eu, eu". Uma postura que pode ofuscar a percepção.

A cegueira mais séria da campanha de Clinton tem sido em relação às redes, nacionais e globais, e às conversas que vem gerando novas agregações e têm transformado a sociedade. Como diz David Singh Grewal em seu novo e excelente livro, "Network Power", uma tensão fundamental no mundo é que: "Tudo está sendo globalizado, menos a política".

Grewal diz ainda que "nós vivemos em um mundo no qual nossas relações de sociabilidade -- comércio, cultura, idéias, estilos -- são cada vez mais compartilhados, influenciados por conversas globais inovadoras que acontecem nestes domínios. Enquanto isso, a nossa política permanece inapelavelmente nacional, centrada nos estados-nações que constituem o locus do processo decisório soberano."

A administração Bush tem acentuado a percepção global deste descompasso. As pessoas conectadas mundo afora ficaram chocadas com algumas das políticas de Bush -- desde o ataque ao habeas corpus até as transferências de prisioneiros ('renditions') -- mas se viram impotentes em fazer algo à respeito.

O enorme interesse global no processo eleitoral norte americano está ligado em parte a uma crença de que o presidente dos EUA pode ser tão importante para a vida dos franceses, por exemplo, como o presidente da França.

A turma do Obama conhece bem tudo isso. A conectividade nos ensina que seguir sozinho é um erro: esta é uma lição básica aprendida no Iraque. Se Obama prometeu designar um coordenador geral de tecnologia com o objetivo de promover uma abertura no governo via web, e para desenvolver o diálogo ao invés de uma política centralizada, é porque ele sabe que precisa falar para o século 21.

Grewal diz que "a política é o único poder de contraposição efetivo disponível para redesenhar as estruturas que emergem através dos novos padrões de sociabilidade. O acúmulo de escolhas pessoais expressadas através das redes sociais desenham estes novos padrões de sociabilidade. Na falta de uma governança global, somente a soberania nacional pode canalizar estas tendências."

Clinton jamais enxergou estes aspectos. McCain, cuja arrecadação de recursos na web foi ridícula, também demonstra muito pouca compreensão do MAC.

Obviamente, conexão não é uma panacéia, e também não é uma garantia contra atentados violentos: afinal, a Al Qaeda utiliza a web de forma eficiente. Mas sem entender a conectividade e seus efeitos, hoje não é mais possível vencer o terrorismo ou ganhar uma eleição.

É a rede, estúpido, e as gerações que seguem com ela.


Tradução: José Murilo Junior

terça-feira, maio 20, 2008

Conferência de James Boyle, o pai da Ecologia Digital, no evento europeu do Google


James Boyle, o pai da Ecologia Digital, realizou uma conferência no EuroZeitgeist08 do Google, e foi brilhante como sempre. Entre o material distribuído para os participantes do evento -- gente de alto calibre entre empresários, acadêmicos, artistas e representates de governos (o ministro Gil lá estava) -- figurava o 'comic book' de sua autoria, 'Bound by Law?' (ao lado), que apresenta o tema da necessidade de revisão conceitual das leis de copyright na era da informação para novos públicos.

Em sua apresentação, Boyle falou basicamente de dois aspectos sutis que em geral não são percebidos quando tratamos da revisão dos marcos regulatórios ligados aos direitos autorais:

(1) Somos extremamente incompetentes em compreender 'openness' -- nem ao menos temos uma palavra específica em português, pois 'abertura' não traduz o sendido, talvez 'aberturidade' ; somos muito ruins em prever como irão funcionar e quais serão os resultados de sistemas abertos e distribuídos, particularmente as experiências online; e somos péssimos na compreensão das virtudes da criatividade distribuída, como no caso dos coletivos que trabalham em novos contextos de trabalho colaborativo conectado e não hierarquizados. Por outro lado, somos extremamente competentes em detectar os perigos criados pela abertura ('openness').

Boyle menciona a natural 'aversão à riscos' da humanidade e argumenta que, se durante o desenvolvimento da Internet estivéssemos avaliando, decidindo e regulando sobre como a rede deveria ser, para o nosso total prejuízo jamais teríamos o ambiente digital do qual desfrutamos hoje. Ele está certo.

"- então quer dizer que a lei de copyright não é somente uma forma de trancafiar os conteúdos?
- de forma alguma. o copyright também proteje os direitos dos usuários e futuros criadores. para
encorajar a criatividade, o marco legal do copyright deve atingir um equilíbrio delicado."


(2) Nos últimos 20 anos os seres humanos vêm se tornando objeto (e sujeito) das leis de copyright, de uma forma que nunca havia acontecido antes. As pessoas comuns, interagindo com conteúdos, nunca antes estiveram em posição de cometer atos pelos quais pudessem ser punidas pelas leis de copyright, da forma como empresas e piratas sempre estiveram. As diferenças de escala criavam distinções naturais entre personalidades físicas e jurídicas.

As leis de copyright sempre foram regulações intra-industriais, regulando horizontalmente as relações entre os proprietários de infra-estruturas de broadcast, impressoras de grande escala, e estúdios de cinema. Ou seja, redes de produção e distribuição altamente capitalizadas, cujos interesses precisaram ser acomodados e regulados. Também a proteção aos criadores e autores em sua relação com esta indústria, compôs o quadro para a construção do marco regulatório que temos hoje.

Nos dias de hoje, não passamos nenhum dia sem copiar e distribuir em escalas variáveis, ou seja, estamos sempre realizando todas estas coisas que as leis de copyright nos dizem que não podemos fazer. Temos que admitir qua a vida moderna seria impossível se estívessemos cumprindo todas estas leis à risca.


A combinação destes dois temas traz implicações para os debates que precisamos ter, em particular na questão de como devemos pensar sobre as novas perspectivas trazidas pelo mundo online, e como tudo isto transforma o ambiente para distribuição, criação e incentivo à cultura.

Boyle, no final de sua apresentação, alerta para o risco de retrocesso que corremos enquanto cultura em função de nossa aversão à abertura ('openness'), nossa agorafobia. Pelo fato de enxergarmos muito melhor os riscos do que as possibilidades, podemos chegar ao ponto em que estejamos limitados nas funções que podemos utilizar em nossos aparelhos de conexão à rede.

Vale à pena conferir a palestra...

sábado, março 08, 2008

Campus Party Brasil, e a mobilização para o ativismo digital

O Campus Party foi um ótimo evento. 'Kudos' para o Marcelo Branco, o Sérgio Amadeu, e toda a galera que trabalhou na concepção e organização da parada.

O principal mérito para mim, e conforme já bem dito por outros, foi o encontro das pessoas. Além do feature caloroso que é a re-união com familiares (foto), comunitários e chegados em imersão conectada à 5Gb, o grande plus foi a encarnação de avatares do ambiente digital no prédio da bienal em sampa. Que grande oportunidade para conhecer analógicamente nossos links e referências do ciberespaço! E que curtição sabê-los pessoas!

Para além da curtição geral, alguns temas do CParty-BR seguiram ecoando na blogosfera. Um deles é o já batido papo blogueiros x jornalistas, turbinado divertidamente pelo bizarro aquário da mídia.

Reverberou bem menos um debate a meu ver muito mais relevante, que envolve a necessária mobilização da rede para uma ação política em torno do ativismo digital. O clima do evento me parecia propício, e neste sentido tentei levantar a bola incluíndo um item sobre Ecologia Digital no BarCamp dos blogs proposto pelo Avório. A provocação era mais ou menos esta:

Além da questão da propriedade intelectual, outros aspectos como democratização do acesso à rede, promoção da digitalização dos acervos públicos, livre acesso ao conhecimento científico disponível, e a promoção de tecnologias livres para a coleta, organização, disponibilização, comunicação, agregação e uso colaborativo da informação também seriam aspectos importantes para um ativismo digital. O fato é que este conjunto de temas interconexos não encontra lugar no debate popular ou no entendimento político, e neste contexto é que surge a Ecologia Digital, exercitando uma analogia com o movimento ambientalista. Sob o conceito do "ambientalismo", nos anos 70, diferentes grupos com diferentes interesses (algumas vezes contraditórios) puderam se organizar de forma efetiva em torno de uma ampla coalizão política. É exatamente isto que precisamos agora na rede - uma abordagem que possa efetivamente apresentar as questões relevantes e promover o debate que irá ativar o movimento de defesa do domínio público e dos avanços e liberdades viabilizadas pelo surgimento da Internet.
Ao que parece, a proposta de desconferência via wiki do Avório era estruturada demais para o ritmo alucinante da galera presente, que se mostrou mais afeita ao fluxo emergente do livestream poweredby twitter. Portanto o papo da ecologia digital não rolou no cparty, mas a manifestação contra a "lei azeredo" mostrou que a mobilização é viável. Outras intervenções como a do ministro Gil sobre a proibição do Counter Strike ("vocês tem que reclamar!!"), e o comentário de Pedro Doria registrado na entrevista com o Dpadua reforçam a tese de que a mobilização dos interessados é o primeiro passo:
“…articulação política não existe no vácuo… Se muito eleitor está cobrando uma coisa, a coisa acontece… a mobilização não tem que vir dos políticos, tem que vir de baixo.”


É certo que a mobilização tem que vir de baixo, afinal a rede é o ambiente nativo do ativismo grassroots. Mas ainda assim estamos falando de uma mobilização que necessita se traduzir em atuação política, e aí sempre nos lembramos das articulações para a politização do ativismo digital que em geral desembocam na idéia do Partido Pirata. Neste contexto vale destacar as recentes considerações do Lessig sobre a impropriedade geral de tal estratégia (nos EUA), e a infelicidade na escolha da denominação. Comentários?

Ainda sobre mobilizações e princípios, vale registrar uma provocação pitoresca sobre o paradoxo entre os conceitos que norteiam um evento como o Campus Party e a atuação de mercado de sua principal patrocinadora, a Telefônica. Nem tanto pela contradição entre software livre / monopólio da telefonia fixa mencionada no post, mas certamente pela recente atuação da Telefônica na aliança contra o P2P na Espanha, o que compromete seriamente a posição da operadora no debate sobre a neutralidade da rede. Fica aqui a dúvida sobre as intenções e o escopo do p4p -- inciativa de upgrade do p2p das gigantes AT&T e Verizon, acompanhada por gente do ramo como LimeWire e BitTorrent, e apoiado pela... Telefônica. Vamos acompanhar.

sábado, fevereiro 02, 2008

John Barlow explica o fenômeno Orkut no Brasil

Este vídeo estava guardado desde a época do Seminário Interncional sobre Diversidade Cultural, promovido pelo MinC e pela OEA em setembro do ano passado. Foi quando tive a oportunidade de rever John Barlow, um de meus heróis da rede e com quem tive o primeiro contato no iSummit no Rio, um ano antes. Barlow é um dos fundadores da Electronic Frontier Foundation (EFF), braço armado da proteção dos direitos civis na rede, e autor de um texto clássico para o ativismo digital: a Declaração de Independência do Ciberespaço. Isto para não dizer que John é também um dos principais letristas da legendária banda Grateful Dead.

Fiquei honrado em receber sua visita em minha casa, e poder compartilhar com ele momentos festivos de minha comunidade. Mas interessante mesmo foi quando, em uma conversa nos corredores do Seminário, ele revelou o que podemos chamar de 'marco zero' do fenômeno brasileiro no Orkut. Interessante também sacar a perspectiva que ele tem do Brasil como 'networked society'. Faz sentido para vocês? Segue o vídeo (por Adriano de Angelis), legendado e traduzido com algum atraso ;-)

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Trocando facilidades por autonomia inteligente

O leitor Bruno Leal fez uma crítica interessante ao post em que requentei a campanha Troque Seu Orkut Por um Blog, lançada no ano passado pelo Roberto Taddei. Ele menciona um possível elitismo na proposta, e apesar de já haver respondido ao comentário, algumas movimentações na blogosfera me fazem voltar ao assunto. Começando com o colega Ronaldo Lemos que, enquanto não tem um blog, continua refém da formatação que as editorias da mídia fazem de sua mensagem. O depoimento dele ao JB na matéria sobre previsões tecnológicas para 2008 diz assim:

Lemos cita o MySpace, que agora tem um portal em português, especialmente dedicado ao Brasil, e o Facebook, que, segundo ele, já começa a atrair um número significativo de brasileiros, como os principais adversários do Orkut em 2008. Com a demanda no setor ainda alta, também haverá espaço para novos projetos de redes sociais, com oportunidades, inclusive, para empresas nacionais que decidirem apostar no filão.
Será mesmo que a ameaça ao Orkut no Brasil vai ser alavancada por outros que tais como MySpace, Facebook, etc? Tenho para mim que a escala da experiência brasileira com o Orkut nos coloca à frente das tendências globais em termos de redes sociais. Explico: o que os norte-americanos experimentam como novidade hoje com o Facebook -- a sensação de que 'todo mundo está lá' -- já acontece entre nós com o Orkut há pelo menos 2 anos.

Ou seja, considero que estamos em melhores condições de enxergar como estes silos e 'jardins murados' (walled gardens) constituem uma enorme perda em termos de oportunidades na web, e assim optar pelas possibilidades que certamente irão explodir em 2008. Os indícios do fenômeno de abertura das redes sociais aconteceram de forma clara no segundo semestre do ano passado, e definem as tendências para o ano que entra. Aqui vão algumas indicações:
  • Portabilidade de Dados - a turma das redes sociais irá cada vez mais enxergar o valor da possibilidade de levar arquivos e contatos de seu profile de um site / serviço / rede social para outro, ou de definir o que desejamos fazer com os dados interagindo com outros serviços da rede.
  • Portabilidade da Identidade - projetos como o OpenID começam a mostrar como o mundo digital pode funcionar sem que tenhamos que ser novamente 'identificados' em cada um dos diferentes 'silos' da web.
  • O lançamento do OpenSocial pelo Google.
  • O lançamento do Android como sistema operacional open source para celulares.
  • O surgimento de novas idéias na web (como o Dapper) especializadas em 'importar' (extrair?) a informação aprisionada nos 'silos' da web. Veja um interessante tutorial demonstrando possibilidades.
  • Novas ferramentas de agregação pessoal e publicação de informações (Lifestreaming apps, ou blogs 2.0, ou sei lá o que...) como o Tumblr, e ainda os radicais Onaswarm, Lifestrea.ms e Soup, apresentam possibilidades inéditas na customização de espaços pessoais na web.
  • O lançamento de aplicações para registro pessoal de sua movimentação na rede, como o Weave da Mozilla, e o sucesso de padrões como o APML -- um OPML que registra dados de atenção para sites, blogs, palavras pesquisadas, etc. -- além de várias outras iniciativas sobre as quais você pode se informar melhor em sites como o DataPortability.org.
Hoje o Techmeme (leitura obrigatória para blogueiros) relata em super destaque o fato do Facebook ter desabilitado a conta de Robert Scoble (uber blogger e grande entusiasta da rede social, até agora), e o motivo é ele haver rodado um script para captura de dados ligados ao seu perfil. O debate é interessante principalmente porque nos leva à Carta dos Direitos de usuários da Web Social, da qual Scoble é um dos principais promotores, e que em seus itens mais importantes afirma:
Declaramos publicamente que todos os usuários da web social têm direito:
1) Propriedade da sua informação pessoal, incluindo:
- os dados de seu perfil
- a lista das pessoas a que estão ligados [lista de contatos]
- o fluxo de conteúdo que ele criou

2) Controle de quando e como essa informação pessoal é compartilhada com outros. E liberdade de conceder acesso a sua informação pessoal a sites externos de confiança.
A pergunta é: tem alguém aí que discorda de tais direitos? As redes sociais como as conhecemos hoje tiveram um grande papel na disseminação das possibilidades de comunicação e publicação da web. Algo assim como a AOL, que nos primeiros tempos da rede tratou de 'ensinar' o usuário comum a utilizar e-mail e visitar websites (escolhidos pela AOL). Mas não levou muito tempo para que estes mesmos usuários percebessem que a verdadeira web pulsava além dos muros do portal, e se procurarmos pelo que restou da AOL hoje teremos a exata noção do que pode acontecer a um gigante de web que não acompanha o movimento de seu público.

Acredito que em 2008 estamos no limiar de mais um salto qualitativo dos usuários da web, e talvez a campanha "Troque Seu Orkut Por Um Blog" precise mesmo de uma atualização. Algo assim como: "Troque as Facilidades em Espaço Restrito por uma Autonomia Inteligente na Web Aberta". Mas aí não tem o mesmo apelo... ;-)

UPDATE (07/02/2008): O Bruno Leal acaba de lançar uma rede social voltada para estudantes, professores, pesquisadores e amantes de História, utilizando o Ning: Visite o Café História.