Na rede

terça-feira, novembro 06, 2007

Open Google. Será?


Voltando rapidamente a este blog
deveras abandonado, tenho que atualizar os poucos insistentes leitores nas novidades da última semana, que causaram 'marolas significativas' no ambiente digital. Duas delas paridas pelo gigante Google: o lançamento da plataforma 'Open Social',
onde o 'conceito é ter um único padrão de produzir programas e extensões para várias redes sociais'; e o anúncio da 'Open Handset Alliance' powered by 'Android': uma plataforma open source de desenvolvimento para celulares baseada na licença Apache 2, OS Linux, e linguagem Java, e que já conta com Motorola, NTT DoCoMo e Telecom Italia entre os 30 parceiros iniciais.

O timing desta avalanche mercadológica do Google baseada no conceito 'open' até parece ser uma reação desproporcional ao sucesso do Facebook, e para os desenvolvedores será necessário aguardar um pouco mais para descobrir o real valor das iniciativas. Ao mesmo tempo em que é interessante ver o conceito 'open' ser promovido pelo maior player da rede, cada vez mais temos a impressão de que o Google se abre com o único objetivo de engolir-nos a todos em seu gigantesco silo colorido.

De fato, alguns comentaristas destacam que o gigante da web promove o conceito 'open' somente quando conveniente, e geralmente em setores nos quais se encontra em desvantagem competitiva. No âmbito das máquinas de busca por exemplo, onde o reinado do Google se baseia em sua capacidade aparentemente infinita de escalar seu index de conteúdos da web, porque não lançar uma 'Open Index Alliance'?

Aposto 1 contra 100 como esta iniciativa não vai partir do Google. Entretanto, vale à pena acompanhar
o projeto de 'open search' que surgiu do encontro de Jeremie Miller , o pai do Jabber e do protocolo XMPP, com Jimmy 'Wikipedia' Wales e seu novo projeto comunitário, o Wikia. O Wikia Search pretende tornar a busca uma parte da infraestrutura da web baseada no protocolo aberto Atlas: ao invés de um sistema monolítico (o silo Google), uma ação integrada de várias entidades independentes que irão desempenhar diferentes papéis, tornando a busca na rede o resultado de uma infraestrutura global totalmente distribuída e interoperável. Sobre este assunto, vale explorar o conceito de 'Economia do Significado' ('The Meaning Economy') desenvolvido pelo Jeremie Miller em seu blog:

O futuro da busca está na cooperação (e competição) abertas baseada na 'Economia do Significado' - criar significados, negociar significados, servir significados. Minha visão se inicia com um protocolo aberto, que permita a redes independentes que realizam funções de busca (pesquisa, indexação, ranking, hospedagem, etc) compartilhar e interoperar. Todas as relações entre estas redes são sempre absolutamente transparentes e abertamente publicadas. Redes trocam conhecimento entre si, cada uma adicionando novos significados à informação, cada uma delas responsável pelas reputações de seus participantes e pares. Este é o verdadeiro fundamento da 'Economia do Significado'. O 'amanhã' tem um significado que todos nós podemos ajudar a construir.
The Meaning Economy - Temporally Relevant
Outra área na qual o Google não demonstra qualquer abertura é em sua estratégia de digitalização e disponibilização do conteúdo de bibliotecas (Book Search). Em contraste com as iniciativas da Open Content Alliance, que promete acesso público irrestrito ao conteúdo e informações digitalizados, a empresa que costumava se gabar de 'não ser do mal' ('Google is not evil') parece tentar se colocar como o único lugar na rede onde tais conteúdos podem ser encontrados -- a única biblioteca, o único acesso. Brewster Khale, do Internet Archive, alerta que a possibilidade do controle sobre a biblioteca do conhecimento humano por parte de uma só empresa pode se tornar um pesadelo.

Querem outra dimensão absolutamente opaca do Google? Os programas AdWords e AdSense -- sua galinha dos ovos de ouro. Concordo com o argumento de que a empresa não tem nenhuma obrigação de compartilhar seus segredos estratégicos, mas a falta de transparência destes serviços são credenciais negativas para qualquer aspirante à promotor da tendência 'open' na rede. Afinal, o custo de um 'adword' pode variar muito de acordo com o misterioso 'score de qualidade', e um simples ajuste no algoritmo pode fazer com que estratégias de AdWords que funcionaram por anos se transformem subitamente em totais fracassos.

Também o AdSense está longe de ser um mercado aberto ('open') onde veículos podem definir o seu preço para expor anúncios em suas páginas, e ao mesmo tempo acompanhar quantos anunciantes estão interessados em pagar pelo serviço. Enquanto ficamos todos a especular sobre volumes e valores, só Deus sabe a parte que cabe ao Google nesta equação. O fato do valor da ação da empresa bater a casa dos 700 dólares nos últimos dias tem o efeito de tornar nossas adivinhações sobre o tema em fantasias estratosféricas. Seria o Google a nova Microsoft?

Em síntese, não há como negar a importância do Google para o movimento Open Source. A empresa não nega em momento algum que a base de seu sucesso é a plataforma Linux, e recentemente se juntou à 'Open Invention Network', uma inovadora organização para compartilhamento de patentes criada com o objetivo de fomentar um ambiente legalmente protegido para todos aqueles que utilizam Linux.

Também não podemos esquecer iniciativas como o Summer of Code, ou o apoio a eventos como o Ubuntu Developer Summit e o Linux Foundation Innovation Summit. Mas é importante perceber que as principais iniciativas 'open' do Google acontecem porque configuram-se como boas opções para os negócios da empresa, e não porque obedecem a qualquer princípio institucional ou filosófico. Que acham vocês?