Na rede

quarta-feira, maio 19, 2004

SL: o dever de casa da migração
- documentação, normatização, capacitação, licenças

Em mais uma reunião do Comitê Técnico de Implementação de Software Livre em Brasília, foi apresentado o "Guia de Migração para Software Livre no Governo Federal". Tendo como referência o "Open Source Migration Guidelines" da União Européia, desenvolvido pelo IDA, o guia foi desenvolvido por Grupo de Trabalho criado no âmbito de 2 comitês técnicos (antigas câmaras técnicas), o de implementação de software livre e o de licenças e sistemas legados.

Juntamente com Ricardo Bimbo (Coord. de Implementação de SL do ITI/PR), o coordenador do GT, Corinto Meffe (SLTI/MP), informou que o trabalho conjunto com o e-PING (Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico) no desenvolvimento do guia confere ao documento um aspecto normativo inédito - bem diferente da proposta do documento europeu. A comparação entre as palavras introdutórias de um e outro guia (abaixo) ilustra porquê o movimento do SL no Brasil está chamando a atenção no mundo todo.



The IDA Open Source Migration Guidelines (União Européia)
The views expressed in this document are purely those of the authors and may not, in any circumstances, be interpreted as stating an official position of the European Commission. The European Commission does not guarantee the accuracy of the information included in this study, nor it accepts any responsibility for any use thereof. Reference herein to any specific products, specifications, process, or service by trade name, trademark, manufacturer, or otherwise, does not necessarily constitute or imply its endorsement, recommendation, or favouring by the European Commission.
Guia de Referência das Migrações para Software Livre do Governo Federal (Brasil)
O presente Manual foi elaborado por grupo de trabalho inter-institucional constituído em agosto de 2.003 por deliberação conjunta de dois Comitês Técnicos do Governo Eletrônico: Implementação e Software Livre e Licenças e Sistemas Legados, homologados em Decreto Lei no dia 29 de outubro e 2003 pelo Presidente a República.
O Grupo tem como objetivo prioritário formular orientações para a migração para software livre e órgãos integrantes da Administração Pública Federal, em consonância com diretrizes dos comitês técnicos citados.

A reunião de hoje ocorreu no auditório da Anatel, sinalizando o apoio efetivo que a gestão Pedro Jaime Ziller passa a conferir às iniciativas de software livre do governo. Marcelo Pimenta, assessor da presidência da Anatel, em plena sintonia com Sérgio Amadeu e Cia., adiantou que será vedada a utilização dos recursos do FUST (1 bilhão de dólares acumulados em 3 anos) para a compra de licenças de software, e que o SCD, com a consulta pública concluída, deverá começar a ser implementado ainda este ano.


Na sequência, Carlinhos Cecconi (ITI/PR) apresentou os resultados da I Semana de Capacitação e Desenvolvimento em Software Livre, que contou com mais de 2.000 inscritos, 50 salas de aula simultâneas e 98 instrutores para mais de 130 cursos alocados no período de 26 a 30 de abril passado, em Brasília. Muitas lições aprendidas para uma próxima vez, com a certeza do cumprimento de etapa importantíssima no processo de implementação do software livre na esplanada.

Claudio Prado (MinC) voltou a anunciar a mesa de debates que irá acontecer no 5º Forum Internacional de Software Livre em Porto Alegre (2 a 5 de junho), que discutirá a principal questão ambiental da rede - uma nova política de propriedade intelectual para o meio digital. Estão confirmados o ministro Gilberto Gil, John Maddog Hall, Lawrence Lessig (Stanford), William Fischer (Harvard), Luis Nassif (Folha), André Midani (ex-Warner), Joaquim Falcão (FGV), João Antonio Zufo (USP), Marcelo Tas, Ronaldo Lemos (CTS/FGV), e quem sabe até o David Bowie. Também será lançado o site Creative Commons Brasil. O evento promete...

segunda-feira, maio 10, 2004

Câmeras em toda a parte: A guerra e a fotografia open source

Nenhum exército pode se contrapor hoje ao poderio bélico americano. Nem mesmo a soma de todos os exércitos do mundo prevaleceria ante o poder de fogo e o preparo da máquina de guerra de Bush. Para fazê-la balançar, necessário foi um recurso bem mais sutil, algo sobre cujo real poder estamos ainda começando a aprender.

Foto: Imagem de prisioneiros de guerra iraqueanos sendo humilhados por soldados americanos na prisão de Abu Ghraib

Como define Ellen Simon, "as cameras digitais estão alterando o que o mundo vê", e o resultado deste movimento parece estar operando na ecologia da mídia, e nas relações de poder decorrentes, revoluções análogas às observadas no mercado de software sob influência do fenômeno open source. Refiro-me, de fato, à combinação explosiva entre a ubiquidade das câmeras digitais e a conectividade da Internet.

"Estamos vivendo a era da informação, onde todos andam por aí com câmeras digitais tirando estas fotos inacreditáveis e repassando-as, de maneira ilegal, à mídia - para a nossa surpresa, antes mesmo que tenham chegado ao Pentágono."
Donald Rumsfeld - em audiência no senado americano - 07/05/2004

Pela lógica do Secretário de Defesa (!) (retratada em prosa e verso em "Pieces of Intelligence"), a tortura e o abuso não são nenhuma novidade - o que assusta é a possibilidade destes virarem manchete mundial sem a devida permissão dos senhores da guerra. Nesse estado de coisas, não há censura que funcione! (vide o caso dos caixões enfileirados).

Imagens de guerra sempre tiveram um poder especial (...lembrando de Kim Phuc), mas o fato da tecnologia tornar acessível a qualquer um o poder de retratar e publicar acrescenta variáveis inusitadas ao processo. É difícil saber, por exemplo, se as fotos de Abu Ghraib foram tiradas com algum objetivo militar, ou se caracterizam resultado bruto da compulsão dos soldados em registrar "a vida como ela é" - turbinada pelas novas possibilidades do paradigma digital. Até um dos interrogadores em serviço na prisão tinha um blog...

A combinação de acessíveis (e poderosos) recursos digitais com a conectividade da rede está apenas começando a apresentar seus efeitos diretos. O resultado é o advento da mídia interativa, onde a história é contada de forma colaborativa, com a participação efetiva das pontas da rede. Neste momento, a luta pelo controle sobre estas novas e (ainda) incompreendidas tecnologias vem tornando transparentes agendas que sempre mantiveram-se implíticas em nossas narrativas culturais e políticas.

Enquanto isso, na rede, o ar fresco da liberdade fotográfica encontra espaço privilegiado no Yafro, que mantém uma seção especial com fotobloggers na linha de frente, ao mesmo tempo em que garante o direito de expressão a exibicionistas de todo o tipo - como por exemplo, a Janet (foto). O que pensa você sobre o advento da fotografia open source?