Nenhum exército pode se contrapor hoje ao poderio bélico americano. Nem mesmo a soma de todos os exércitos do mundo prevaleceria ante o poder de fogo e o preparo da máquina de guerra de Bush. Para fazê-la balançar, necessário foi um recurso bem mais sutil, algo sobre cujo real poder estamos ainda começando a aprender.
Foto: Imagem de prisioneiros de guerra iraqueanos sendo humilhados por soldados americanos na prisão de Abu Ghraib
Como define Ellen Simon, "as cameras digitais estão alterando o que o mundo vê", e o resultado deste movimento parece estar operando na ecologia da mídia, e nas relações de poder decorrentes, revoluções análogas às observadas no mercado de software sob influência do fenômeno open source. Refiro-me, de fato, à combinação explosiva entre a ubiquidade das câmeras digitais e a conectividade da Internet.
"Estamos vivendo a era da informação, onde todos andam por aí com câmeras digitais tirando estas fotos inacreditáveis e repassando-as, de maneira ilegal, à mídia - para a nossa surpresa, antes mesmo que tenham chegado ao Pentágono."
Donald Rumsfeld - em audiência no senado americano - 07/05/2004
Pela lógica do Secretário de Defesa (!) (retratada em prosa e verso em "Pieces of Intelligence"), a tortura e o abuso não são nenhuma novidade - o que assusta é a possibilidade destes virarem manchete mundial sem a devida permissão dos senhores da guerra. Nesse estado de coisas, não há censura que funcione! (vide o caso dos caixões enfileirados).
Imagens de guerra sempre tiveram um poder especial (...lembrando de Kim Phuc), mas o fato da tecnologia tornar acessível a qualquer um o poder de retratar e publicar acrescenta variáveis inusitadas ao processo. É difícil saber, por exemplo, se as fotos de Abu Ghraib foram tiradas com algum objetivo militar, ou se caracterizam resultado bruto da compulsão dos soldados em registrar "a vida como ela é" - turbinada pelas novas possibilidades do paradigma digital. Até um dos interrogadores em serviço na prisão tinha um blog...
A combinação de acessíveis (e poderosos) recursos digitais com a conectividade da rede está apenas começando a apresentar seus efeitos diretos. O resultado é o advento da mídia interativa, onde a história é contada de forma colaborativa, com a participação efetiva das pontas da rede. Neste momento, a luta pelo controle sobre estas novas e (ainda) incompreendidas tecnologias vem tornando transparentes agendas que sempre mantiveram-se implíticas em nossas narrativas culturais e políticas.
Enquanto isso, na rede, o ar fresco da liberdade fotográfica encontra espaço privilegiado no Yafro, que mantém uma seção especial com fotobloggers na linha de frente, ao mesmo tempo em que garante o direito de expressão a exibicionistas de todo o tipo - como por exemplo, a Janet (foto). O que pensa você sobre o advento da fotografia open source?
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