Na rede

terça-feira, novembro 23, 2004

No ritmo da máquina do Gil: Pioneirismo digital brasileiro está na rede

Demorou um tanto para a galera acordar para o significado do que está acontecendo por aqui. Deu no estadão ontem:

"Parece pouco provável que o Brasil tivesse qualquer papel de destaque na revolução digital que assola o mundo, menos provável ainda que fosse liderá-la, mas foi isso mesmo que eu li na edição deste mês da revista Wired. Para quem não a conhece, Wired pode ser descrita como a bíblia dos tecnófilos. Desconfio que ela própria gosta de se ver como a revista do futuro."
Matthew Shirts - O Brasil está na vanguarda da revolução digital? - Estadão (22/11/2004)

Mas tem uma turma por aqui que está mesmo em outro ritmo. Neste último sábado (20/11) a galera dos articuladores xemelentos esteve reunida com o Ministro Gilberto Gil para demonstrar as possibilidades dos aplicativos que comporão a ilha de edição de áudio e vídeo totalmente equipada com softwares livres, os quais farão parte dos kits a serem distribuídos nos mais de 100 Pontos de Cultura do Brasil. Na cadência da exploração das infinitas possibilidades o Ministro sacou seu violão e apresentou (canalizou?) uma composição inédita, absurdamente sintonizada com o que vai na cabeça da galera, e que já sai do forno como conteúdo licenciado pela Creative Commons. Pode ripar, mixar, samplear, queimar...

Máquina de Ritmo
(Gilberto Gil)

(baixe em mp3)
(veja o vídeo)

Máquina de Ritmo
tão prática tão fácil de ligar
Nada além de um bom botão
sob a leve pressão do polegar
Poderei legar um dicionário
de compassos prá você
No futuro você vai tocar
meu samba duro sem querer

Máquina de Ritmo
quem dança nessa dança digital
Será por exemplo que o meu surdo
ficará mudo afinal
Pendurado como um dinossauro
no museu do Carnaval
Se você aposta que a resposta
é sim, por Deus mande um sinal

Máquina de Ritmo
programação de sons sequenciais
Mais de 100 milhões de bambas
de escolas de samba virtuais
Virtuais, virtuosas vertentes
de variações sem fim
Daí por diante sambe avante
Já sem precisar de mim

Máquina de Ritmo
quem sabe um bom pó de pirlimpimpim
Possa deletar a dor de quem
Deixou de lado o tamborim
Apesar do seu computador
Ter samba bom samba ruim
Se aperto o botão meu coração
Há de dizer que é samba sim






Máquina de Ritmo
Processo de algoritmos padrões
Múltiplos binários, ternários
quarternários sem paixões
Colcheias, semi-colcheias
fusas, semi-fusas, sensações
Nos salões das noites cariocas
Novas tecno-ilusões

Máquina de Ritmo
que os pós-eternos hão de silenciar
Novos anjos do inferno vão
Por qualquer coisa em seu lugar
Quem sabe irão lhe trocar por um
Tal surdo mudo do museu
E Bandos da lua virão se encontrar
Numa praia toda lua cheia prá lembrar você e eu

Moreno, Domenico, Cassim
Assim meus filhos, filhos seus
E Bandos da lua virão se encontrar
Numa praia toda lua cheia prá lembrar você e eu
Só prá lembrar, só pra cantar
só prá tocar, só pra lembrar
Você e Eu.

Gilberto Gil
20/11/2004



"Esta gravação foi um marco na cultura brasileira e, por que não dizer, mundial, pois não se tinha registro, até aquele momento, de nenhuma ilha funcional de áudio e vídeo que gravasse e produzisse mídia somente através de SL e que tivesse sido aprovada pela crítica de um músico profissional. Gilberto Gil aprovou e liberou.

Parabéns a toda equipe que idealizou e formalizou o projeto dos Pontos de Cultura. São atitudes como estas que poderão resgatar o Brasil de sua crise adolescente até finalmente reencontrar-se com sua verdadeira identidade".Fabianne Balvedi - Pioneirismo digital brasileiro está na rede

segunda-feira, novembro 22, 2004

Trincheiras ecológicas na WIPO
- Cory Doctorow bloga direto do evento

Esta semana uma reunião do comitê de direitos autorais e correlatos da WIPO/OMPI (Organização Mundial de Propriedade Intelectual) estará discutindo os méritos da proposta de "Tratado sobre a Proteção às Organizações de Broadcast"(!) (que tem 'o poder de trancar o domínio público e quebrar de vez a rede!').

Em síntese, segundo nota de James Love da CPTech, o "tratado expande ou acrescenta novos direitos aos transmissores de informação, mesmo que estes não sejam os criadores da informação. Direitos normalmente reservados a criadores e artistas de performance serão repassados a organizações que meramente transmitem estas criações e performances - mesmo se os trabalhos estiverem no domínio público, ou se seus autores desejem que suas obras sejam distribuídas sem restrição". A Public Knowledge também apresenta análise das consequências do tratado.

Cory Doctorow está lá e vai blogar aqui sobre o evento. Acompanhemos. Registro abaixo, novamente com orgulho, a posição brasileira explicitada logo no primeiro dia do evento:

"Novas regulações no campo dos direitos autorais e correlatos pode causar grande impacto no desenvolvimento e nas políticas sociais dos países em áreas cruciais. As provisões de qualquer tratado neste campo devem ser equilibradas e levar em consideração os interesses dos consumidores e do público em geral. Acesso à informação e ao compartilhamento de conhecimento são elementos essenciais para o fomento da inovação e criatividade na economia da informação. Adicionar novas camadas de proteção de IP ao ambiente digital pode obstruir seriamente o livre fluxo de informação e boicotar esforços para a criação de novos arranjos que promovam a inovação e a criatividade."
Delegação Brasileira - 12th Session of the SCCR, Geneva

UPDATE (23/11): Eles se prepararam para ganhar, manipularam a sessão, até trapacearam, e PERDERAM (huahuahuahua!!!)

terça-feira, novembro 09, 2004

Ayahuasqueiros comemoram
- Governo brasileiro finalmente reconhece devidamente a nossa cultura

Deu até no Jornal Nacional:

"O Conselho Nacional Antidrogas liberou o uso religioso do chá ayahuasca. A bebida preparada com plantas amazônicas é usada pelos seguidores do Santo Daime, união do vegetal e outros grupos religiosos. Nos últimos anos, as suspeitas de que seria alucinógeno fizeram com que o chá entrasse na lista de substâncias proibidas pela divisão de medicamentos."

William Bonner - Jornal Nacional - Rede Globo - 08/11/04

Familiares que há tempos tinham alguma dificuldade em lidar com a opção exótica de seus parentes em morar numa comunidade do Santo Daime, ou participar de cultos da União do Vegetal e da Barquinha, agora podem ficar tranquilos com a unção global (e governamental) da opção religiosa de seus entes queridos. E quem sabe agora a PF e a Anvisa deixem de perseguir daimistas em aeroportos sob o argumento de estarem descumprindo a lei (lei de quem, cara pálida? do Bush?).

"Mais conhecida entre nós como Santo Daime, a ayahuasca foi colocada sob suspeita nos anos 80, chamada de “alucinógeno” e ameaçada de proibição. Desde então, as comunidades religiosas que a utilizam tiveram que responder a seguidos questionários, receber visitas desconfiadas e conviver com o preconceito público. Mas o pior foi suportar a desinformação de autoridades federais, especialmente ligadas à segurança pública, que deveriam proteger a liberdade religiosa mas acabavam por colocá-la em risco."
Passo Certo - Antônio Alves, de O Espírito da Coisa (Blog) - in "Anotações no Altino"

Esperamos também que a partir de agora os consulados brasileiros no exterior deixem de negar visto de entrada no Brasil a estrangeiros que mencionem "ayahuasca" em seu roteiro de viagem (como aconteceu com um grupo da Native American Church que vinha ao país no ano passado para um encontro das religiões que utilizam sacramentos nativos). Quem sabe possamos de fato começar a expressar nossa opção religiosa e nossa cultura com orgulho, e sem receio de sofrer perseguições. Curiosamente, o movimento espiritual mais especificamente brasileiro de todos foi reconhecido na Espanha e na Holanda antes do que aqui!

A resolução do Conad, baseada no (ótimo) parecer da Câmara de Assessoramento Técnico-Científico sobre o uso religioso da ayahuasca, finalmente restabelece a cidadania plena aos ayahuasqueiros, e o direito de transmitir a própria cultura a seus descendentes - o que estava vedado até a edição da presente resolução. Ou seja, estávamos sofrendo de censura existencial, em total contradição com textos legais em vigência:

"O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069, de 13/7/1990) prevê que o direito à liberdade assegurado à criança e ao adolescente compreende “crença e culto religioso” (art. 16, III) e acrescenta que “No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura.” (art. 58)."
Edward Macrae - Parecer da Câmara de Assessoramento Técnico-Científico sobre o uso religioso da ayahuasca

Festejemos pois a liberdade do Santo Daime e a alforria do povo ayahuasqueiro, na esperança de estarmos caminhando em direção de uma real ecologia cognitiva.

sábado, outubro 30, 2004

Aliados ao pinguin
- A Wired revela a conspiração tropical da ecologia digital

Junto com o já famoso CD, nesta edição vem uma análise íncrivel da trajetória do ativismo digital nacional, e sua contenda com as forças armadas da propriedade intelectual, desde o tempo da quebra das patentes dos remédios de aids com o Serra, passando pela chegada do Creative Commons ao país, até a trombada do Sergio Amadeu com a Microsoft pela implantação do software livre no governo brasileiro.

Não deixa de destacar o convite de José Sarney a Richard Stallman para participar da semana de SL no Legislativo, ano passado em Brasília, citando também o discurso lisérgico de Gil. Foi mais ou menos quando os "Pontos de Cultura" estavam sendo gestados. Fica o registro da reação do Stallman ao discurso do ministro Gil naquele contexto (trecho do artigo da Wired):


Se o Stallman achou que seria o palestrante mais provocativo no evento, ele não contava com Gil, cuja apresentação traçou as origens do movimento open source e da cultura digital em geral ao LSD. "O que eu disse", lembra Gil, "foi que este processo que levou ao computador pessoal, ao Silicon Valley, este extraordinário grau de cognição que surgiu da interseção da matemática e do design e das estruturas cristalográficas do quartzo tornou-se possível através das viagens de ácido." Ele ri. "Ou talvez não somente pelas viagens mas sem nenhuma dúvida potencializada por elas".

"E Stallman disse,'Espera aí, não foi bem assim que aconteceu'," lembra Gil. "Ele se assustou um pouco ao pensar que eu estava associando o movimento do software livre com o movimento de legalização das drogas".

Mas na verdade, este não era o link que Gil estava destacando. Ele sugere que o movimento de software livre e a contracultura dos anos 60 tiveram o mesmo objetivo de transformar a cultura de dentro para fora. Gil fala de forma louca, é certo, mas não é nada bobo. Tropicalização, com toda a sua conexão com antropofagia, subversão, e guitarras de rock, são para Gil, "as margens da sociedade brasileira ganhando acesso ao mundo digital. Os impulsos criativos das pessoas se apropriando das ferramentas de produção digital. A inteligência reprimida das periferias brasileiras, da classe média, ganhando acesso à ferramenta potencializadora de inteligência que é o mundo digital".

"We Pledge Allegiance with the Penguin" - Wired - November 2004


Não dá para perder, e logo teremos tradução:
We Pledge Allegiance to the Penguin
We pledge allegiance to the penguin, and the intellectual property regime for which he stands. One nation, under Linux, with free music and open source software for all. Welcome to Brazil!
Wired Issue 12.11 - November 2004

quinta-feira, outubro 28, 2004

O memo de Steve Ballmer
- ...e como eles deixaram de rir

O FUD usual parecia não estar funcionando, e então o Sr. Steve Ballmer (foto), CEO da Microsoft, hoje enviou memo a seus clientes atacando diretamente o Linux (antes eles riam). O mais interessante é que o novo item anunciado como ponto de superioridade dos produtos M$ é "indemnification", que vem a ser a capacidade de defesa do software em relação a ataques relativos a cobertura de propriedade intelectual do código nele contido.

O Groklaw sacou bem o círculo do mal urdido pela Micro$oft: (1) primeiro, a SCO anuncia que irá processar a IBM e usuários de Linux por infrações de copyright; (2) então surge o coro de como o Linux não tem "indemnification"; (3) aí descobrimos pelo pessoal da Baystar que a Microsoft inspirou-os a investir na SCO (o que viabilizou recursos para o processo judicial); (4) enquanto isso, o mundo Linux começa a reunir fundos legais para a "indemnification" de seus usuários e desenvolvedores; (5) a SCO processa o resto do mundo (livre), espalhando o terror; (6) hoje, torna-se público o memo do Ballmer.

Cabe perguntar: é legal financiar a criação de obstáculos legais em termos de propriedade intelectual para seu principal competidor, e depois utilizar estes obstáculos como estratégia de marketing?

UPDATE: Talvez o motivo da reação de Ballmer esteja nesta manchete, também de hoje:<>
Relatório da OCG britânica (central de compras de governo) declara que o modelo Open Source está pronto e maduro para uso oficial no Reino Unido
(Open Source ready for prime time in UK.gov, says Office of Government Commerce, The Register)

quinta-feira, outubro 07, 2004

Intervindo no futuro da propriedade intelectual
- Brasileiros novamente na vanguarda

Mais uma vez detectamos grande influência brasileira em decisão histórica da Organização Mundial de Propriedade Intelectual - OMPI / WIPO. A assembléia geral da entidade, reunida no último dia 04 de outubro, concordou em adotar a proposta apresentada por Brasil e Argentina (e apoiada por Bolivia, Cuba, República Dominicana, Equador, Iran, Quenia, Sierra Leoa, África do Sul, Tanzania e Venezuela), "Proposal for the Establishment of a Development Agenda for WIPO" (também referida como "Item 12" por conta da posição na listagem da agenda do encontro).

A proposta foi fortemente apoiada pelos países em desenvolvimento, e também por organizações da sociedade civil. Antes da assembléia, centenas de ongs, cientistas, acadêmicos e público em geral assinaram a "Geneva Declaration on the Future of WIPO" (documento que ainda está recebendo assinaturas), que conclama a organização a focar mais nas necessidades dos países em desenvolvimento, e a enxergar a propriedade intelectual como uma ferramenta para o desenvolvimento -- e não como um fim em si mesma.

Segundo o site do Itamaraty, no dias que antecederam a assembléia o secretariado da WIPO tentou pressionar delegações de países em desenvolvimento para que se opusessem ao projeto, o que significaria acompanhar a posição dos Estados Unidos e do Japão. Segundo negociadores que preferem não ser identificados, a estratégia seria a WIPO alegar que pontos da proposta brasileiro-argentina - como o que assegura flexibilidade na implementação de acordos internacionais de propriedade intelectual, na prática uma margem para quebrar patentes -, responderiam só às prioridades brasileiras em genéricos e software livre. Como em outras oportunidades, os diplomatas brasileiros "fizeram o filme"!

Um retrato da dimensão da decisão da assembléia geral da WIPO foi dado por James Love, do "Consumer Project on Technology":

"Através dos anos a WIPO tem pressionado para expandir o escopo e o grau dos direitos de proteção intelectual, e ensinado aos países em desenvolvimento que isto traria benefícios para o seu desenvolvimento. A partir de hoje a WIPO passa a apoiar uma perspectiva completamente diferente, que enfatiza o uso do software livre e aberto, o acesso aos bens de domínio público como o genoma humano, exceções de patentes para acesso a remédios, controle de práticas anti-competitivas e outras medidas que sempre foram ignoradas pela organização".
allAfrica.com - South Gains Ground in Intellectual Property Debate

Outros links importantes no assunto:

quinta-feira, setembro 30, 2004

A importância da TI
- Aumenta ou diminui com o advento do open source?

O Suitwatch desta semana traz uma argumentação interessante do Doc Searls sobre o significado da Tecnologia da Informação no mundo dos negócios, frente ao paradigma apresentado pelo modelo open source. Inicia citando o artigo de Nicholas Carr publicado na Harvard Business Review (Maio, 2003), "IT doesn't matter" (Ti não importa), onde o autor faz um paralelo da tecnologia da informação com tecnologias como estradas de ferro e energia elétrica.

Nesta perspectiva, por um breve período enquanto estão sendo construídas na infraestrutura do comércio, estas "tecnologias infraestruturais" abrem oportunidades para empresas com bom planejamento alcançarem grandes vantagens competitivas. Na medida em que a disponibilidade da tecnologia aumenta e os custos diminuem, tornam-se commodities -- do ponto de vista estratégico, deixam de ser importantes.

Em aparente contraponto, Doc apresenta um artigo de Paul Graham (autor de "Hackers & Painters"), "What the Bubble Got Right", onde é colocada a importância crescente das "boas idéias" em nosso tempo.

"Aqueles garotos de 20 e poucos anos terão uma vantagem cada vez maior sobre os cinquentões 'bem-relacionados' no mercado. As pessoas serão mais recompensadas em proporção ao valor do que criam."
Paul Graham - "What the Bubble Got Right"

No caso, a palavra chave é "infra-estrutura": Carr está certo ao observar a natureza de commodity dos elementos de infraestrutura de TI no modelo open source, mas falha em perceber a natureza única destes elementos. Diferentemente dos metais -- oriundos da mineração e da metalurgia -- que produzem estradas de ferro e redes elétricas, os bens de TI são frutos da criatividade humana. Dada a natureza mental das fontes dos bens de infraestrutura de TI, estes evoluem muito mais rapidamente do que qualquer outra coisa que até hoje tenha recebido o rótulo de commodity. Neste sentido, nada pode importar mais do que TI.

Entretanto, empresas como Sun e Oracle, que se colocam como "amigas" do Linux e do modelo open source, também têm se manifestado de maneira sombria sobre as perpectivas do mercado. Qual seria a melhor forma de entender a questão? Doc:

"A melhor forma de esclarecer esta confusão é reconhecer que existem duas comunidades open source diferentes, mas que se sobrepõem. Uma produz os bens, a outra os coloca em uso. Podem ser chamados de desenvolvedores e implementadores. Temos que fazer a distinção porque na medida em que o modelo open source alacança sucesso no mercado, o segundo grupo crescerá muito mais rapidamente que o primeiro, mesmo permanecendo muito menos visível.

Desenvolvedores são mais visíveis que implementadores porque são eles que produzem os bens, e como tais são mais facilmente identificados por Microsofts e Suns e Oracles como competidores. O que estes revendedores não enxergam é que a comunidade open source que mais importa é aquela sobre a qual temos escutado menos. Para cada estrela do mundo do desenvolvimento open source, existem milhares de outros profissionais de TI que estão silenciosamente construíndo infraestrutura baseada no modelo open source.

Suas práticas, que estão todo dia sendo aperfeiçoadas e compartilhadas com seus colegas, são não menos importantes e muito mais estratégicas do que o trabalho ora desenvolvido pelas comunidades de desenvolvimento das quais dependem. Ambos são partes do mesmo movimento, e já é tempo de prestarmos atenção ao aspecto prático da coisa".
Doc Searls - "Shedding the Darkness" Linux Suitwatch

segunda-feira, setembro 20, 2004

Microsoft abre o código do Office?
- Por enquanto só para governos, seus parceiros confiáveis

Ao ver um comment no post anterior me chamando de "linuxista de m...", e depois de checar o post "influenciadores" (e também os comments) no Jonas Galvez, fiquei elocubrando sobre os aspectos positivos da Microsoft enquanto empresa de tecnologia. Algo assim como um exame de consciência para ver se minha crítica estava demasiadamente colorida por ideologia. Foi quando deparei com o anúncio durante o fim de semana: "Microsoft Announces Government Shared Source License for Office". (Bill gates abrindo o código do Office?!)

O significado óbvio da oferta é a abertura (parcial) do código do pacote Office para governos, sob as orientações do programa GSP (segurança para governos) da Microsoft - uma forma de aplacar a fuga de países do modelo windows/office por questões de segurança. O timing da oferta coincide com conferência anual do OpenOffice.org em Berlim, e é providencial como resposta à crescente pressão da união européia sobre padrões interoperáveis em documentos. A pergunta é: o movimento tem real significado para a comunidade?

Não posso deixar de concordar com Simon Phipps, que vê na estratégia uma dissimulação que integra a estratégia de lobby da Microsoft contra o modelo open source. Além do estranho acordo M$-Sun que reserva a Gates o direito de processar usuários OpenOffice, a recusa em participar do esforço da OASIS para desenvolvimento de padrões para formatos de arquivos para aplicações de produtividade indica que a oferta do fim de semana tem o objetivo de apenas "parecer" uma resposta a questões importantes. Mas em nome da imparcialidade, vamos acompanhar...

quinta-feira, setembro 16, 2004

Pontos de Cultura
- Do-in antropológico via massageamento cultural

O chefe, Ministro Gilberto Gil, juntamente com o ministro do trabalho, Berzoini, e também o Antônio Albuquerque (Gesac - Minicom), acabam de apresentar em coletiva de imprensa o resultado do processo seletivo que elegeu os projetos de inclusão digital e promoção cultural integrantes da primeira fase do projeto Pontos de Cultura - Cultura Viva. São 214 iniciativas (entre 800 enviadas) espalhadas por todo o país contempladas com as diferentes dimensões do projeto:

  • Repasse de recursos em dinheiro no valor de R$ 150.000,00 por ponto (período de 2 anos e meio - R$ 5.000,00 por mês);
  • Kit de Cultura Digital (equipamentos com software livre e acesso à internet, para produção e edição multimídia) Custo estimado: R$ 25.000,00;
  • Oficinas, cursos, acompanhamento, intercâmbio e instigação via os meios de difusão do Cultura Viva;
  • Xemelê - Plataforma web de distribuição - Compartilhamento das produções simbólicas e conhecimento tecnológico, gerados pela ação autônoma em rede dos pontos de
    cultura.a rede

Sou suspeito para falar do projeto, pois acompanho a galera que vem malhando em cima dos conceitos há algum tempo, mas hoje foi o dia de dar nó na garganta. Ouvir o Célio Turino (grande figura, secretário de Programas e Projetos Culturais do MinC) falar sobre o projeto lavou a alma de quem vem sofrendo com os obstáculos burocráticos e institucionais típicos quando se trata de experimentar modelos inovadores no âmbito governamental (alô Claudio Prado!). Parece que REALMENTE É POSSÍVEL!!

O ministro Berzoini (trabalho e emprego) compareceu trazendo a notícia da parceria acertada com o MinC para a implementação de cinco mil bolsas do programa Primeiro Emprego – 50 bolsas para cada Pontos de Cultura. Cada jovem contemplado receberá R$ 150,00 ao longo de seis meses ou seja, R$ 900,00 ao todo. E o Gesac do ministério das comunicações entra garantindo a infraestrutura de conexão.

Para encerrar, o ministro Gil foi breve ao descrever as "sinergias intermináveis" que podem acontecer a partir do momento que estes espaços massageados comecem a liberar a energia produtiva reprimida pelo esquecimento social, e saudou o envolvimento interministerial que já começa a acontecer desde já. Arrematou comentando que já era chegada a hora de, neste País, se "baratear o que é caro" (subsidiar tecnologia de ponta - e livre - para produção cultural na periferia), e "encarecer o que é barato" (potencializar, dar visibilidade e viabilidade à real cultura brasileira ).

...clarear caminhos, abrir clareiras, estimular, abrigar. Para fazer uma espécie de ‘do-in' antropológico, massageando pontos vitais, mas momentaneamente desprezados ou dormecidos, do corpo cultural do país ...
Será o espaço da experimentação de rumos novos. O espaço da abertura para a criatividade popular e para as novas linguagens. O espaço da disponibilidade para a aventura e a ousadia. O espaço da memória e da invenção
”.
Célio Turino (grande figura, secretário de Programas e Projetos Culturais do MinC)

PS: lembrando Preto Ghoez... na última reunião neste mesmo auditório, cá estava ele... creio que esteve hoje aqui novamente.

segunda-feira, setembro 13, 2004

Novidades na ecologia da música na rede
- Tem gente novamente querendo tudo para si

Lá vem Bill Gates novamente, arrombando o mercado de música na rede. O lançamento é uma estratégia integrada, composta dos lançamentos (beta) do portal MSN-Music, e da versão 10 do Windows Media Player -- ou seja, um aplicativo com uma loja dentro. E é o mesmo aplicativo que, por ser implantado (originalmente e de forma indissociável) no sistema operacional Windows, causou à M$ uma multa recorde(!) da União Européia por práticas monopolistas.

Detalhes do MSN-Music: US$0.99 por música, albuns a 9,90 (9 cents a menos que no iTunes!!), e o DRM sofisticado permite que você espalhe sua música adquirida em até 5 computadores, queime até 7 CDs de uma playlist, e transfira o arquivo para o seu "portable device" quantas vezes quiser -- caso à parte são os celulares. Certamente estão reformando a prisão para que nos sintamos completamente em casa dentro dela.

Enquanto isso, na periferia da rede as iniciativas são bem mais interessantes. Não que estejamos falando de assaltos aos princípios da propriedade e da lógica de mercado. Apenas imaginamos situações onde obter o máximo em termos financeiros não seja o objetivo principal da empreitada, e que ao final, inteligência e princípios ecológicos específicos do mundo digital possam agregar valores que permitam a sustentabilidade de projetos que promovem a cultura livre (e de output gratuito sim, porque não? Ex.:-)

Last.fm é um site de rádio online que disponibiliza audição gratuita, mas que conta com um plus interessantíssimo: funciona de forma integrada com o Audioscrobbler, um plugin que enxerga diretamente as playlists do Winamp e/ou iTunes em sua máquina e envia suas preferências para um servidor. Dessa forma, Last.fm configura uma estação de rádio personalizada baseada no seu gosto musical(e pode-se gravar o streaming com StepVoice).

O mais interessante é podermos entrar nas rádios de outros usuários, diversificando de forma qualificada nossas preferências. Por outro lado, sempre há a chance de investigar no site sobre os CDs originais das músicas que tocam, o que significa um poderoso marketing qualificado em favor da moribunda indústria fonográfica. E afinal, tudo isso significa música de qualidade e de graça para os usuários. Vale aqui lembrar o que fizeram com as web radios.

A viabilidade legal da Last.fm, que conta com 100 mil músicas próprias, acontece em função de um contrato com a MCPS-PRS Alliance -- o correlato inglês da RIAA -- e também devido a um contato favorável com as gravadoras na oferta de promoções e pesquisas de marketing. Sob qualquer ponto de vista, uma solução muito mais inteligente e saudável para viabilizar a música na rede -- bem diferentemente da tática nazista de processar os usuários.

Bonus links: Vale à pena conferir o catálogo da Magnatune, uma forma inovadora de distribuir música online; e ainda no mundo da música livre (neste caso, só para Linux): Gnomoradio, aplicativo que encontra, organiza, compartilha e toca músicas gratuitamente disponíveis (registradas em licenças Creative Commons) para compartilhamento como arquivos.

UPDATE: Não podia deixar de citar a artigo no NYTimes (via HD) que afirma categoricamente:

"Fazer download de música na Internet não é ilegal. Muitos dos arquivos disponíveis online são não apenas grátis, mas também facilmente acessáveis, legais e -- o mais importante -- vale à pena escutá-los. Enquanto a indústria da música ataca com processos e lobbies a disponibilização de música online, inúmeros músicos (Bob Dylan, Yeah Yeah Yeahs) tiram partido da Internet para fazer com que sua música seja ouvida. Também os selos disponibilizam músicas gratuitas, principalmente os de rock e música eletrônica (Matador, Vagrant, Barsuk, Saddle Creek e Tigerbeat6). E algumas rádios públicas: música clássica (WNYC), eclética (WFMU e KCRW), e também a MTV".
Laptop D.J.'s Have a Feast - JON PARELES - Nytimes 10/09/2004

Segue a seleção dos sites que oferecem música grátis online:

domingo, setembro 05, 2004

Conversas online
- O dia na blogosfera

Estava hoje checando o bloglines, e percebi que o tema do meu post de ontem no Ecodigital Links -- blogs patrocinados -- ainda reverberava no ambiente. O moderador do evento (IMHO - Blogging, Politics & Personal Voice) citado pelo Rushkoff (Democracia Open Source) era o Jeff Jarvis, que respondeu em seu blog, mas o pau quebrou mesmo nos comentários. Para fechar o assunto, Rushkoff explicitou sua analogia entre as 'raves' e os 'blogs' para ilustrar porque o advento dos blogs patrocinados pode ser 'o fim de algo' (the end of something):

'A "ameaça" da cultura rave vinha de sua capacidade em formar uma economia alternativa. A galera não mais frequentava as boates pertencentes à máfia da noite, a polícia não estava levando a sua parte, e os distribuidores de bebida não viam mais o lucro. Boa parte da turma envolvida nas raves não se deram conta dos verdadeiros motivos desta cultura ser considerada ameaçadora.
Da mesma forma acredito que o maior poder do blog, além da capacidade de distribuir informação alternativa (certamente um grande poder) -- é a demonstração da viabilidade de um modo de engajamento que não está baseado no princípio do lucro.
'
Douglas Rushkoff - The real threat of blogs - outros bits no tema: (1), (2), (3)


A conversa deve continuar pois o assunto é quente, e apresenta inúmeros desenvolvimentos possíveis. Um deles envolve outra alteração na ecologia blog ocorrida esta semana: a demissão da codeira do Friendster, Joyce Park, que blogou sobre a substituição do Java pelo PHP no site. O assunto despertou paixões entre os desenvolvedores, mas promete arranhar a reputação do 'muy amigo' Friendster no mundo geek. Joyce não tem anúncios em seu blog. E se tivesse, teria blogado com o despojamento necessário para movimentar a discussão da forma como fez?

Implicações comerciais e religiões codeiras à parte, creio que este assunto irá desenvolver um pouco mais por aqui...

UPDATE (20/10/2004): Não pude deixar de acrescentar aqui um post do Doc Searls no BloggerCon, que coloca uma luz interessante na questão dos blogs patrocinados:

'. Você gostaria se, toda vez que você recebesse um telefonema, tivesse que ouvir também um anúncio?
. Você já se perguntou "Como posso fazer dinheiro com o meu telefone?", ou especulou sobre o modelo de negócio possível para seu aparelho?
. Como o seu blog pode aumentar suas oportunidades de ganhar dinheiro (fora do blog)? Isto já aconteceu? Como?
. Estas oportunidades não excedem seja lá o que você venha a receber com anúncios? Se não, porquê?

Como você pode ver, tenho uma posição aqui. Acredito que é muito mais importante (e interessante) criar oportunidades de ganho financeiro em função dos blogs, e não com eles, da mesma forma como ganhamos dinheiro porque temos telefone, e não "com" nossos telefones.
'
Doc Searls - Making Money session at BloggerCon


segunda-feira, agosto 30, 2004

Bresser na UnB
- Revendo o querido professor, e os ipês amarelos

Nesta segunda em que Brasília amanhece supreendentemente molhada, e os ipês amarelos começam a dar o ar de sua graça, sigo para a UnB a fim de reencontrar o inesquecível professor e ministro Bresser Pereira, com quem muito aprendi nos tempos do antigo Ministério da Administração e Reforma do Estado - MARE e depois no MCT. Foi lá que, juntamente com o saudoso Claudio Sato, implementamos o que seriam os primórdios do governo eletrônico, registrando o domínio www.brasil.gov.br.

Encontrar pessoalmente o ministro Bresser é sempre uma satisfação, mas não é difícil acoompanhá-lo à distância em sua produção -- seu site pessoal é referência em termos de publicação acadêmica na web. Tive o prazer de desenhar a versão 1.0 em 99, e dá gosto ver a evolução da interface e da organização dos conteúdos (mas a foto ainda tá lá, né ministro?). A funcionalidade de comentários no centro é bem intencionada, mas ficaria melhor uma estrutura de postagem com links e disponibilizando comentários aos visitantes -- um verdadeiro blog. Falta também um feed XML, e como sei que o "ministro" acompanha de perto a evolução das funcionalidades estratégicas da web, estarei enviando para ele algo sobre as novidades do mundo da sindicação.

Bresser falou sobre nacionalismo, situando ideologicamente os intelectuais cariocas do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) em relação aos paulistas da ESP. Exercitando a dissidência, afirmou seu engano em relação à Teoria da Dependência (da qual foi um dos formuladores), destacando a necessidade de um estado forte -- com boa dose de nacionalismo -- como fator estratégico para o bom desempenho de um país no ambiente econômico globalizado. Mencionou o livro "Chutando a Escada", onde Ha-Joon Chang demonstra que...

"...os países que primeiro logravam se desenvolver "chutavam a escada" ou "puxavam o tapete", para impedir que os demais países os seguissem e lhes fizessem concorrência."
"Chutando a Escada", in Luis Carlos Bresser Pereira

Portanto, seguir a cartilha das instituições financeiras internacionais em seus conselhos para a economia nacional significa concordar em permanecer no andar inferior. Terminou a palestra destacando a necessidade de se estudar o que aconteceu antes de 1964.

quarta-feira, agosto 25, 2004

Guerrilhas dançantes
- As últimas de John Perry Barlow

John Perry Barlow is back!!

Agora, depois da recauchutagem geral, JPB volta com força total articulando manifestações dançantes programadas para ocorrer na próxima semana em NY, por ocasião da convenção do partido republicano que irá aclamar a candidatura Bush para a eleição presidencial de novembro.

"Juntamente com 50 ou 60 pessoas, iremos todos dançar para eles. Dividindo-nos em diversos pelotões de guerrilhas dançantes disfarçadas em pedestre comuns, vamos percorrer as calçadas das regiões republicanas mais ricas, periodicamente rompendo em explosões de dança, selvagens e inexplicáveis. Iremos manter a manifestação por alguns minutos antes de novamente dissolvermo-nos na multidão e rumarmos para o "ataque" em outro local. Acredito que isto irá tirá-los de sua postura usual, já que a maioria deles (republicanos) não dançam, e são perturbados por aqueles que o fazem."
John Perry Barlow - Dancin in the streets (Revolution with a smile)

Mas não fica por aí... Na Wired deste mës está publicada a revisão do clássico de 94, "The Economy of Ideas" -- no novo texto Barlow expõe sua visão sobre a atual situação da revolução fomentada pelo ambiente digital:

"Finalmente explodiu a grande guerra cultural. Longamente aguardada por alguns, e uma amarga surpresa para outros, a batalha entre a era industrial e a era virtual está agora sendo travada de forma aberta, graças a uma coisa concebida de forma modesta, mas com a potência de implodir um paradigma - o Napster"
John Perry Barlow - The Next Economy of Ideas (Wired)

E na ReasonOnline encontramos uma entrevista também destinada a se tornar um clássico. Barlow, o "Thomas Jefferson do ciberespaço", demonstra claramente em suas respostas que está pronto para atuar fortemente no cenário político americano, disposto a tudo para reverter a lógica alucinatória do governo Bush que se multiplica nas consciências anestesiadas através do discurso hipnótico das telas estúpidas (a sua TV):

"Temos agora duas formas distintas de recolher informações, além do que você mesmo pode experimentar através dos sentidos próprios. Uma delas é menos uma mídia do que um ambiente - a Internet - com uma enorme multiplicidade de pontos de vista, e inúmeras formas de se descobrir o que está rolando no mundo. Muitas pessoas estão sintonizadas nesta onda, e milhões de pontos de vista floresceram. Este movimento cria uma cacofonia de posicionamentos que não se consolidam em um discurso político coerente -- formam uma linda discussão, mas não reúnem a capacidade de criar grandes blocos de crença.
A outra mída, a TV, agrega hoje uma porcentagem bem menor de espectadores do que no passado, mas estes usuários adquirem TODAS as informações através da telinha -- e se transformam em um bloco de crença muito uniforme. A TV na America criou o campo de distorção da realidade mais coerente que eu já vi. E aqui está o problema: as pessoas que votam assistem a TV, e estão alucinando como um fdp. Basicamente o que estamos assistindo neste país é o governo através da alucinação coletiva
"

John Perry Barlow - Interview to Reason Online

Todos às guerrilhas dançantes!

* Outras referências de JPB:

- A Declaration of the Independence of Cyberspace

- Selling Wine Without Bottles: The Economy of Mind on the Global Net

- Discurso do Ministro Gilberto Gil que cita o texto acima

sexta-feira, agosto 20, 2004

Concurso de Games do MinC
- Exercitando narrativas emergentes

Está no ar o link para o "Concurso de Jogos Eletrônicos Brasileiros", iniciativa do Ministério da Cultura no sentido de reconhecer o universo dos games como campo fértil para ações culturais estratégicas, e apoiar o desenvolvimento de uma linguagem nacional para este setor que não para de se expandir.

Para nós que estamos no exercício conceitual e prático da Ecologia Digital, é uma satisfação ver um projeto de governo embutir conceitos concebidos e desenvolvidos de forma coletiva na rede, e que introduzem a Co-Laboração no DNA das interfaces. Fica como uma pequena amostra de que o chefe não está falando à toa. E quando pensamos nas possibilidades das narrativas emergentes, e nas articulações xemelentas dos "pontos de cultura"... Como diz o Dpádua - Medo!

Valeu galera: Alfredão, Cadu, Sandro, Dpádua, Uirá, Ronaldo na ponta da linha, e o resto da galera. Vou prá Piri...


quarta-feira, agosto 18, 2004

FUD Microsoft em baixa
- Declarações causam risos em press conference

Deve ser realmente muito chato quando a estratégia FUD da empresa onde você trabalha leva o público de sua conferência a um ataque de risos. Pois foi o que aconteceu com a Microsoft quando do anúncio do acordo com Newham, um distrito de Londres (via GrokLaw).

"It takes a lot to raise a laugh at an IT press gig, but this news tickled the spot for the journalists at today's press conference in London."
The Register - Newham and Microsoft sign 10-yr deal

A reação aconteceu quando foram apresentados os resultados de uma auditoria específica realizada pela empresa CapGemini, que entre as principais conclusões apresentou que além de ser mais barata , a plataforma Microsoft seria também mais segura que as soluções open source. Para rir mais um pouco: Get the facts.

Tudo indica que a M$ (e outros) está gastando um tanto de grana para não perder a conta de governos. Já em 2003 havia notícia da existência de fundos especiais para a manutenção de política de descontos estratégicos, como ilustra texto de e-mail de Orlando Ayala:

'"Under NO circumstances lose against Linux", he said, saying that in cases where the deal involved governments or large institutions there was a special fund available which could be used to offer large discounts, or even to give Microsoft software away.'
The Register - MS ‘slush’ fund provides big discounts to stop Linux – email

Neste momento a guerra se acirra, e a rede acompanha:

Por aqui, estamos melhor. Mas rolou muita coisa estranha, até de processarem o Serginho, que faz aniversário esta semana, por mencionar que a Microsoft usa táticas de traficantes de drogas. Entretanto, o próprio Bill falou...

terça-feira, agosto 17, 2004

As línguas na rede
- números

Através do Brainstorms achei um site interessante que acompanha desde 95 a evolução do espaço ocupado pelas línguas na rede. Veja abaixo uma formatação ordenando pelo número de pessoas com acesso à Internet. Boa informação aos navegantes e principalmente aos interessados na ecologia digital.
































































































Acesso
à Internet (M)
%
da população online
2004
(prev.em M)
População
Total (M)
English 287,5 35.8% 280 508
Chinese 102,6 14.1% 170 874
Japanese 69,7 9.6% 88 125
Spanish 65,6 9.0% 70 350
Korean 29,9 4.1% 43 78
French 28,0 3.8% 41 77
Portuguese 25,7 3.5%
32 176
Russian 18,5 2.5% 23 167
Malay 13,6 1.9% 12 229
Dutch 13,5 1.9% 14,5 20
Arabic 10,5 1.4% 12 300

Estes dados, juntamente com o fenômeno orkut/fotolog, podem gerar boas reflexões...

Veja também:

"Estadounidenses, you've gotta get your groove on and get those línguas in shape because, if the revolution will not be televised, it will most certainly not be broadcast in English either.
Precisam prestar atenção!"

quarta-feira, agosto 11, 2004

Cultura Digital e Desenvolvimento
- A palavra forte do nosso ministro hacker

Este é o "chefe", Ministro Gilberto Gil, proferindo Aula Magna de abertura dos Programas 2004/2005 da Cidade do Conhecimento da USP com o título "Cultura Digital e Desenvolvimento". É um texto irado e brilhante - só conferindo:

"...mais interessante de tudo isso é que este movimento (software livre) surgiu na sociedade, e não nas empresas, nos partidos, nas entidades, nos modos de representação ou de organização tradicionais, o que implica uma mudança estrutural, profunda, não apenas de conteúdo, mas de forma, de processo, que se reflete no que se diz, no que se propõe, e também em como se diz, em como se propõe.

Tudo tem acontecido de forma descentralizada, fruto do trabalho coletivo de gente que tem interesses, desejos e bagagens culturais diversas, mas que decidiu trabalhar de graça, dando inclusive um novo sentido à palavra trabalho, para que mais e mais pessoas, no mundo inteiro, possam ser donas de seu destino ou ter uma vida melhor, o que significa, nos dias de hoje, inclusão digital (...)

É com otimismo e alegria que devemos saudar as iniciativas e as experiências de inclusão digital e de adoção do software livre, assim como o debate que se trava sobre os impactos da cultura digital sobre os direitos autorais, com as propostas de novas formas de licenciamento e gestão de conteúdos, a exemplo das creative commons, que abrem perspectivas inteiramente novas, diferentes, oxigenadas, para temas antes prisioneiros das várias formas de ortodoxia analógica.(...)

Atuar em cultura digital concretiza essa filosofia, que abre espaço para redefinir a forma e o conteúdo das políticas culturais, e transforma o Ministério da Cultura em ministério da liberdade, ministério da criatividade, ministério da ousadia, ministério da contemporaneidade. Ministério, enfim, da Cultura Digital e das Indústrias Criativas. (...)

Vocês certamente sabem, mas não custa destacar: existe uma comunidade, uma cultura compartilhada, de programadores e pensadores, cuja história remonta aos primeiros experimentos de minicomputadores. Os membros dessa cultura deram origem ao termo "hacker". Hackers construíram a Internet. Hackers idealizaram e fazem a World Wide Web. E amentalidade hacker não é confinada a esta cultura do hacker-de-software. Há pessoas que aplicam a atitude hacker em outras coisas, como eletrônica, música e nas ciências humanas. Na verdade, pode-se encontrá-la nos níveis mais altos de qualquer ciência ou arte.(...)

Eu, Gilberto Gil, cidadão brasileiro e cidadão do mundo, Ministro da Cultura do Brasil, trabalho na música, no ministério e em todas as dimensões de minha existência, sob a inspiração da ética hacker, e preocupado com as questões que o meu mundo e o meu tempo me colocam, como a questão da inclusão digital, a questão do software livre e a questão da regulação e do desenvolvimento da produção e da difusão de conteúdos audiovisuais, por qualquer meio, para qualquer fim."


A manifestação do ministro é também uma resposta às inúmeras críticas ao projeto da Ancinav, que se misturaram a uma matéria "no mínimo engraçada" no Estadão - "Governo quer controlar conteúdo da internet":

"Ontem, por exemplo, um grande jornal de São Paulo estampou em chamada de primeira página: o Ministério da Cultura quer controlar a Internet. Ora... Isso ofende a minha inteligência, a minha história, a minha sensibilidade. E a inteligência dos próprios leitores."

Valeu chefe! Os cães vão latir, mas a caravana vai passar.

terça-feira, agosto 10, 2004

Ayahuasca nos centros urbanos
- Reinventada?

Aproveito o momento para anunciar o lançamento de um livro que pode interessar a muitos leitores da Ecologia Digital. Minha amiga Bia Labate estará autografando "A Reinvenção do Uso da Ayahuasca nos Centros Urbanos" amanhã, na Livraria Cultura que fica no shopping Villa-Lobos - Av. Nações Unidas, 4777, em sampa. Vai rolar show e intervenção do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos - NEIP.

Não li o livro, mas depois de muitas conversas com a Bia tenho certeza que o assunto está bem abordado. E depois que ler, volto nos comentários para registrar o que achei.

segunda-feira, agosto 09, 2004

Sinais de adaptação na ecologia open source
- Monitorando a Oscon e a Linux Expoworld

O Doc apresenta o rescaldo dos dois eventos fortes do mundo open source acontecidos recentemente - a Oscon e o Linux Expoworld. Destaco a identificação dos atores principais da dinâmica que estamos todos observando no desenvolvimento do mercado de software livre. Muito ilustrativo:

"Eu vejo duas divisões fundamentais. Uma é entre a infra-estrutura open source não-comercial e os serviços e produtos comerciais que dependem dela. A segunda é entre as comunidades tradicionais de desenvolvimento open source e a crescente população de praticantes para quem o principal benefício do modelo está na gratuidade dos componentes, e para quem as motivações básicas das comunidades de desenvolvimento originais (liberdade, por exemplo) não têm muita importância. Estas não são divisões que se opõem - vejo-as como papéis simbióticos em um mercado que amadurece e prolifera, e no qual novas espécies, totalmente dependentes do open source, estão surgindo para dominar o ambiente comercial."
Adaptations - Doc Searls - Linux Journal


AVISO AOS LEITORES: Neste momento, muitas pendências têm impossibilitado qualquer atenção a este blog, o que não significa que eu esteja completamente fora de circuito. Por agora estarei postando neste endereço (Links Ecodigital)(XML) sobre o que estou observando no ambiente digital, e em breve voltarei a postar por aqui.

terça-feira, julho 13, 2004

Blogando esplanada à fora
- Da ciência e da tecnologia para a cultura

Desde a última blogada, no dia de São João, estive às voltas com minha transferência para o Ministério da Cultura, onde fui convidado a ocupar o cargo de Gerente de Informações Estratégicas - até então estava no Ministério da Ciência e Tecnologia, onde por algum tempo fui Coordenador de Informação e Difusão Científica. Nos últimos 12 meses porém, em meio à onda de nomeações políticas que varreu a esplanada no ano passado, estava meio que encostado no MCT, fora da esfera de decisão. Portanto, a mudança para o MinC dá novo impulso à minha atuação profissional, e este blog, como manifestação direta do que estou obervando e raciocinando, irá de certa forma refletir esta mudança, e por isto considerei melhor declará-la a quem acompanha as elocubrações da Ecologia Digital.

E também é motivo que justifica esta declaração o fato deste blog ter, de certa forma, contribuído para o acontecimento da nova colocação - ao dar visibilidade pertinente a uma nova forma de agregar e difundir informações. Ontem mesmo estava lendo a introdução do livro do colunista do San Jose Mercury News, Dan Gillmor, "We The Media", que apresenta a visão do jornalista assimilando a potencialidade das ferramentas de publicação pessoal. "As empresas e o mundo dos negócios inevitavelmente tentarão cooptar os blogs", afirma Gillmor em artigo da BusinessWeek ("Blogging With The Boss's Blessing"). A tendência observada mostra que as fronteiras que confinavam a influência e o significado dos blogs estão caindo uma após a outra. E então: nós somos a mídia? Enquanto tal, sou funcionário de governo.

De fato, experiências como a da Microsoft com o Scoble resultaram no lançamento do Channel9 (canal direto com desenvolvedores) e no recente portal de blogs(!) das "comunidades" de Redmond, com vasta utilização de RSS e OMPL. A Sun também não fica atrás, com Jonathan Schwartz (o presidente) puxando o carro. A Groove Networks, do Ray Ozzie, foi a primeira empresa a publicar sua política de blogs - Sun e Microsoft (via Scoble) também já exercitam alguma estrutura no processo. A novidade dos últimos dias é a entrada de Michael Powell (FCC) na blogosfera, o que inaugura o diálogo direto de agências governamentais com seus usuários através do modelo "post & comments", o que pode deixar muito lobista analógico sem emprego (veja os comentários do Tanglao à respeito, juntamente com um artigo instigante - "PR is dead").

De minha parte, penso que a cultura blog pode revolucionar a gestão da informação e da comunicação governamentais. No MCT consegui emplacar o primeiro site .gov brasileiro com a funcionalidade dos comentários (veja o post-it no fim da página), e a possibilidade de publicação de blogs temáticos, mas não houve espaço e circunstância para uma verdadeira apreciação da proposta. Minha alegria no momento vem da impressão de que é na cultura que esta idéia pode dar resultado mais rapidamente. Um projeto como o "Pontos de Cultura", concebido a partir da conversa de blogs, wikis e listas de discussão entre atores interessados, traz em sua essência o conceito de colaboração participativa, e convida (quase impõe) à adoção de novas tecnologias.

Bem, a alegria não é só minha, e surge da percepção de que é plenamente possível pensar política governamental no Brasil hoje e emplacar um belo sorriso no rosto, que significa a certeza de que podemos fazer um bom trabalho. Conto com toda a galera, e podem contar com a Ecologia Digital, agora na Cultura.





quinta-feira, junho 24, 2004

De olho no "Induce Act"
- A nova ameaça ao meio ambiente digital

Senadores americanos (Orrin Hatch and friends) estão colocando em votação lei que criminalizaria ações que "induzem" a infrações sobre copyrights - "Induce Act", o copywrong da vez.

Mesmo de longe, é bom acompanhar esta embrulhada e estar atento nas argumentações. A rede está cheia de impressões e manifestações. O Lessig indica como contactar os tais senadores, e o Public Knowledge se manifestou através de Art Brodsky:

"Ninguém mais irá desenvolver ou investir em tecnologias inovadoras se o simples fato de que as mesmas sejam utilizadas de forma "ilegal" seja suficiente para tornar inventores e investidores imputáveis da "culpa".
Public Knowledge Says "Inducing Infringement" Act is "Overbroad"

De quebra, e totalmente no clima, aí vai um trecho da apresentação do Cory Doctorow sobre DRM* na Microsoft(!). Difícil saber se ficção ou realidade (tem até áudio online), mas simplesmente super (veja a ótima tradução integral do Silvio Meira):

"Sistemas de DRM não funcionam
Sistemas de DRM são quebrados em minutos, ou dias. Raramente, meses. Não porque as pessoas que os criam são estúpidas, e não porque as pessoas que os quebram sejam espertas. Não também porque existem falhas nos algoritmos. Ao final do dia, todos os sistemas DRM compartilham de uma mesma vulnerabilidade: provêem a seus agressores o texto cifrado, o código e a chave. Neste ponto, o segredo não é mais segredo."

DRM é ruim para a sociedade
Aqui está a razão social porque DRM falha: promover a honestidade de um usuário honesto é como incentivar a altura de um usuário alto. Vendedores de DRM afirmam que sua tecnologia foi desenvolvida para ser uma defesa contra o usuário médio, e não gangues do crime organizado como os piratas ucranianos que desovam milhões de cópias de alta-qualidade. Não foi criado para ser uma defesa contra garotos sofisticados, ou contra qualquer um que saiba como editar seu registro, ou pressionar a tecla shift no momento certo, ou usar uma máquina de busca. Ao final do dia, o usuário de quem o DRM irá nos defender será o menos capaz no universo dos usuários."
Cory Doctorow - Microsoft Research DRM talk.

(*) DRM - Digital Rights Management - Gerenciamento de Direitos Digitais é um termo guarda-chuva para inúmeros arranjos pelos quais o uso de conteúdo sob a proteção de copyright pode ser restringido pelo proprietário dos direitos. As tratativas atuais detêm-se na discussão dos TPMs (Technical Protection Measures - Medidas Técnicas de Proteção) - ou seja, dispositivos instalados no hardware, por força de leis criadas pelo lobby da indústria de conteúdo, com a finalidade de mutilar as possibilidades inovadoras de seu computador pessoal. (Wikipedia) Exs.: "Broadcast Treaty", "Broadcast Flag", etc.

E Viva São João!!