O Suitwatch desta semana traz uma argumentação interessante do Doc Searls sobre o significado da Tecnologia da Informação no mundo dos negócios, frente ao paradigma apresentado pelo modelo open source. Inicia citando o artigo de Nicholas Carr publicado na Harvard Business Review (Maio, 2003), "IT doesn't matter" (Ti não importa), onde o autor faz um paralelo da tecnologia da informação com tecnologias como estradas de ferro e energia elétrica.
Nesta perspectiva, por um breve período enquanto estão sendo construídas na infraestrutura do comércio, estas "tecnologias infraestruturais" abrem oportunidades para empresas com bom planejamento alcançarem grandes vantagens competitivas. Na medida em que a disponibilidade da tecnologia aumenta e os custos diminuem, tornam-se commodities -- do ponto de vista estratégico, deixam de ser importantes.
Em aparente contraponto, Doc apresenta um artigo de Paul Graham (autor de "Hackers & Painters"), "What the Bubble Got Right", onde é colocada a importância crescente das "boas idéias" em nosso tempo.
"Aqueles garotos de 20 e poucos anos terão uma vantagem cada vez maior sobre os cinquentões 'bem-relacionados' no mercado. As pessoas serão mais recompensadas em proporção ao valor do que criam."
Paul Graham - "What the Bubble Got Right"
No caso, a palavra chave é "infra-estrutura": Carr está certo ao observar a natureza de commodity dos elementos de infraestrutura de TI no modelo open source, mas falha em perceber a natureza única destes elementos. Diferentemente dos metais -- oriundos da mineração e da metalurgia -- que produzem estradas de ferro e redes elétricas, os bens de TI são frutos da criatividade humana. Dada a natureza mental das fontes dos bens de infraestrutura de TI, estes evoluem muito mais rapidamente do que qualquer outra coisa que até hoje tenha recebido o rótulo de commodity. Neste sentido, nada pode importar mais do que TI.
Entretanto, empresas como Sun e Oracle, que se colocam como "amigas" do Linux e do modelo open source, também têm se manifestado de maneira sombria sobre as perpectivas do mercado. Qual seria a melhor forma de entender a questão? Doc:
"A melhor forma de esclarecer esta confusão é reconhecer que existem duas comunidades open source diferentes, mas que se sobrepõem. Uma produz os bens, a outra os coloca em uso. Podem ser chamados de desenvolvedores e implementadores. Temos que fazer a distinção porque na medida em que o modelo open source alacança sucesso no mercado, o segundo grupo crescerá muito mais rapidamente que o primeiro, mesmo permanecendo muito menos visível.
Desenvolvedores são mais visíveis que implementadores porque são eles que produzem os bens, e como tais são mais facilmente identificados por Microsofts e Suns e Oracles como competidores. O que estes revendedores não enxergam é que a comunidade open source que mais importa é aquela sobre a qual temos escutado menos. Para cada estrela do mundo do desenvolvimento open source, existem milhares de outros profissionais de TI que estão silenciosamente construíndo infraestrutura baseada no modelo open source.
Suas práticas, que estão todo dia sendo aperfeiçoadas e compartilhadas com seus colegas, são não menos importantes e muito mais estratégicas do que o trabalho ora desenvolvido pelas comunidades de desenvolvimento das quais dependem. Ambos são partes do mesmo movimento, e já é tempo de prestarmos atenção ao aspecto prático da coisa".
Doc Searls - "Shedding the Darkness" Linux Suitwatch
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