Na rede

sábado, junho 21, 2003

Colaboração: A chave da era da informação é o éter do ambiente digital

A Microsoft se deu conta de que algo mudou no Brasil, e saiu correndo atrás do prejuízo. A notícia da diretriz para que 80% de todos os computadores do governo brasileiro rodem software livre (open source) explodiu há uma semana no Slashdot (e no LinuxToday), e gerou um baita thread sobre a eficiência da obrigatoriedade. Não há como negar o princípio ideológico subjacente à decisão, mas também há que se considerar as características específicas do momento de transição da era industrial para a era da informação, que demanda visão ampla e coragem para a implementação de estratégias definidas. Compras governamentais são ferramentas cruciais para implementação de políticas.

"O que faz o Linux diferente não é só o aspecto técnico. O Linux é um produto da era da informação, onde a construção do conhecimento é feita sobre o conhecimento anterior. Liberdade para modificar, criar, aumentar e diminuir. O linux é a ponta do Iceberg de um novo mundo. Nosso projeto quer provocar a catalisação das inteligências, de forma descentralizada. Através da integração e interatividade provocada pela internet. Propomos uma aprendizagem transversal, e de baixo para cima e para os lados. Comunidades desenvolvendo seus conteúdos. Pessoas recriando suas próprias vozes."
"Hernani Dimantas - Marcketing Hacker"

A atuação das corporações neste novo espaço parece comprometida. A implosão da "nova economia" trouxe uma nova consciência sobre as particularidades do ambiente digital. "Linux é a ponta do iceberg", mas traz em si o significado da colaboração como princípio fundamental do novo contrato - "Ecologia Digital".

"A bolha das dotcom foi causada em grande parte pela crença idiota de que o mecanismo de "branding" iria continuar funcionando tão bem na Era da Informação quanto o fez na Era Industrial que a precedeu. O Venture Capital estava enebriado por "branding" quando depositou bilhões de dólares em companhias sem nenhum valor mandando-as queimar a grana no mercado. Queimando dinheiro, os VCs pensaram, era a única forma de criar "valor de
marca" (brand value).

Mas a Internet mudou o mundo completamente. Foi uma receita de asteróide a dinossauros. Mas ao invés de tirar proveito das novas condições criadas pelas rede, os VCs e seus beneficiários decidiram estimular a menos viável condição dos dinossauros: tamanho e dominância. Pior, pensaram que a Nova Economia significava o lado deles do mercado - que era uma questão de oferta e não de demanda. Então se tornaram obcecados com "desintermediação" e "cadeias de valor" mais curtas. Tomaram-se de luxúria pela preposição "to", e queimaram incontáveis bilhões de dólares em opções de empresas com um "2" no meio. Entretanto, os clientes se tornaram mais ariscos do que nunca. As escolhas continuaram a crescer ao ponto deles mesmos desenvolverem suas próprias "soluções" para todos os problemas que os fornecedores obcecados por "branding" falharam em solucionar.

Os tecnólogos estão na liderança deste movimento oferecendo, e escolhendo, mais coisas que simplesmente realizam o serviço melhor do que outras coisas - ou coisas que fazem o serviço tão bem e por menos dinheiro.

A bolha do "branding" está explodindo. Talvez, depois de tudo, o penguin vai merecer algum crédito"
"Doc Searls - Linux SuitWatch - June 19"

Update: "O conceito de éter na história da ciência"

quarta-feira, junho 18, 2003

O que só a rede faz
- Um festival de rock sem jabá

Se
alguém não sabe o que é... (jabá).
Rolou semana passada lá no Tennesse, em uma localidade 1 hora ao sul
de Nashville, o Bonnaroo
- um festival de rock tendo o Grateful Dead
e Neil Young & Crazy Horse (foto)
como principais atrações, e mais um desfile de ótimas
trilhas em diversos estilos
da música atual. O que a rede tem a ver
com isso? O fato é que os organizadores do evento venderam todos os 80.000
ingressos desta megaprodução
em apenas 18 dias, sem qualquer anúncio em rádio, tv ou jornal.


Logo no primeiro dia de vendas, com apenas um e-mail aos fã-clubes das
principais bandas, 12 mil ingressos já tinham ido. O movimento fez com
que os organizadores descartassem canais tradicionais de promoção
de eventos, tipo Tickemaster (o
aprendiz de vilão
) ou Clear
Channel
(o grande vilão).
O produtor, Ashley Capps, afirmou que já tinha ouvido sobre "a promessa
da Internet", mas que agora ele tinha tido a experiência direta e
concreta das possibilidades (ver
Nytimes
).


E
por aí vamos alardeando o que um ambiente digital bem cuidado (Ecologia
Digital
) pode proporcionar. A possibilidade de realizar um megaevento contando
apenas com o suporte da grande nação dos mochileiros, e tendo
como intermediários alguns fan-clubes de bandas, quebra o esquemão
que o jabá (payola)
proporciona à indústria da música em controlar o que as
pessoas ouvem e como a música deve evoluir. Isto tem MUITO significado.

terça-feira, junho 10, 2003

Internet X Big Mídia
- Quem sai ganhando com a desregulamentação sobre propriedade na mídia

Segunda-feira passada, dia 02 de junho, o FCC
(a Anatel dos EUA) votou
pelo relaxamento
de regulamentações federais que restringiam
o número de veículos de mídia a serem possuídos
por uma corporação numa mesma localidade, e também liberou
a propriedade cruzada, que vem a ser a propriedade, pelo mesmo grupo, de diferentes
mídias.


O principal responsável pela introdução da mudança,
o chairman Michael
Powell
, argumenta
que o fenômeno da web permitiria o florescimento da diversidade mesmo
que as corporações consolidassem seu controle sobre a TV e os
jornais. E garante
que o investimento necessário para a implementação da infra-estrutura
para as conexões de banda larga, que irá concretizar as potencialidades
das novas tecnologias, só acontecerá se o mercado de telecomunicações
for desregulamentado.


É um bom ponto de argumentação: é mais fácil
e barato hoje produzir arte e jornalismo, e a Internet provê aos criadores
potencial alcance global. Mas Gillmor
argumenta que a
decisão anterior
do FCC deu às companhias regionais de telefonia
o poder de controlar o acesso a seus condutos de dados de alta velocidade. Há
portanto o risco concreto da implementação de tecnologias que
favoreçam o trânsito de "conteúdos proprietários",
criando os chamados "walled
gardens
" (jardins murados).


O ambiente digital chiou
um bocado
sobre a questão (Gillmor,
Lessig,
Werbach), formou-se um
movimento
, e mais de 750 mil pessoas enviaram mensagens aos membros do FCC
para que votassem contra a desregulamentação (somente 11
mensagens de apoio
). Entretanto, Doc
apresenta uma visão interessante analisando o atual resultado do embate
da Web com a indústria do rádio em seu atual estado de (grande)
concentração:



"O Napster e seus sucessores são o atalho tomado pelos ouvintes
para evitar a falida indústria do rádio, que substituiu conhecedores
de música dignos da confiança do público por robôs
movidos a jabá que atuam como máquinas a serviço das
fábricas de música pop da indústria fonográfica.
"
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more...



Enquanto isso no Brasil, estudo
do Prof. Venício
Lima
demonstra "o fortalecimento e consolidação das
Organizações Globo, mediante expansão horizontal, vertical
e cruzada da propriedade e a conservação do histórico domínio
do setor por reduzidos grupos familiares e elites políticas locais ou
regionais.
" Em entrevista
ao Observatório, destaca a venda da Telebrás no próximo
dia 29 de julho como marco final para a configuração da política
do setor. Fica a pergunta de Silvio Meira:
e se a
Telebrás voltar?


Continuaremos levantando as questões, e quem tiver alguma dica sobre
o assunto pode usar os comentários para ativar a conversa.

quinta-feira, junho 05, 2003

E quanto ao software livre...
- IV Fórum Internacional em Porto Alegre confirma a tendência do governo

Está acontecendo em Porto Alegre o IV
Fórum Internacional de Software Livre
, e as notícias nos sites
independentes são sonoras:



O discurso é
o mesmo
da II Oficina
de Inclusão Digital
, e até o
Serpro
já aderiu - SL
dominará as diretrizes de governo em TI
. Mas a big mídia parece
não estar muito interessada no assunto, a não ser na matéria
do IDG
sobre o ComprasNet, cuja
transição para SL será anunciada no evento. E o atual governo
do RS indica estar no meio do caminho entre
a Microsoft
e a tendência de vanguarda que
representa
. No meio desta desinformação que interessa a muitos,
a Magnet está cobrindo
legal
.


Enquanto isso, no Rio tem início o Mês
da Sociedade da Informação
, que começa meio
assim
(e também sem
nenhuma cobertura da big-mídia
) creio eu também por causa
da situação
política do casal garotinho
. Os atores principais desta primeira
semana são o ICA - Instituto
para a Conectividade das Américas
, uma ONG canadense que apóia
projetos de inclusão digital no continente, juntamente com as ongs VivaRio,
RITS, CDI,
Parceiros Voluntários,
e ainda o apoio técnico da RNP. Meio
bairrista, mas pode dar caldo.


Espera-se que todos os projetos, idéias e diretrizes em gestação
se encontrem e possam encontrar espaço para conversar em algum lugar
na rede.


UPDATE: Software
Livre Brasil: "Vamos Tropicalizar a Digitalização"

- Marcelo
Branco

segunda-feira, junho 02, 2003

Uma visita ao reino da alienação
- Os efeitos de um rápido contato com o broacasting global

Em minha estratégia de evitar a televisão, como laboratório
pessoal da hipótese de que usando apenas a web como fonte de informação
estamos alterando alguns parâmetros de configuração de nosso
aparelho cognitivo, há muito não via esta
coisa chamada Fantástico
. Foram apenas alguns instantes de exposição
à rede globo neste domingo à noite para ficar chocado com o absurdo
da nova campanha "anti-drogas", que
culpa os usuários de financiar o tráfico
. É do mesmo
naipe daquela outra campanha absurda que saiu nos EUA que tentava estigmatizar
os usuários por serem os financiadores do terrorismo
. Como pergunta
o NarcoNews, é
honesta uma estratégia direcionada a causar impacto numa sociedade fragilizada
pelo tema da violência?



"A questão das drogas é global e multidimensional.
Ela abrange temas igualmente complexos como tráfico de armas, desemprego
estrutural, falta de recursos na área de saúde e educação.
No entanto, o Estado prefere fazer vista grossa e tratar do tema de uma forma
mais simplista e burra. O governo de Fernando Henrique Cardoso, por exemplo,
não destinou verbas para educação e conscientização
do problema das drogas mas somente para repressão ao usuário,
baseado em modelo dos Estados Unidos. Infelizmente, nosso presidente atual,
Lula da Silva, continua com tal programa .


O que é preciso então? A resposta não é simples
e requer um esforço maior do que o atual, pois a busca de prazer por
meio de substâncias que alteram nosso psiquismo encontra-se na raiz
da própria história da humanidade e a sua repressão não
tem adiantado muito.


Assim sendo, faz-se necessário investir numa cidadania mais ampla
e menos coercitiva. Pois é, no mínimo, estranho que se invista
tanto em repressão e menos em cultura e educação. Afinal
o que queremos? Indivíduos conscientes de suas decisões ou miquinhos
amestrados que se contentem com Prozacs e Viagras e não questionem
porque usam tais substâncias lícitas?


Leitores, vamos abrir nossos olhos para uma questão muito mais
complexa do que a mídia e o Estado nos faz crer que é. Além
de uma melhor definição do que é droga, o que precisamos
é construir um espaço onde o trabalho não seja alienante
e nem tudo seja apenas capital. Um projeto revolucionário, mais trabalhoso
e, certamente, mais honesto."


Campanha
Brasileira Espelha-se em Modelo Gringo e Culpa Usuários pela Violência


A “Parceria Contra
Drogas
” é fiel a roteiro de Washington e ONG responsável
comprova ser uma grande farsa

Por Carola Mittrany

The Narco News Bulletin

30 de maio de 2003



Encerrando, aproveito para sugerir a todos este exercício de se abster
da tv, e tentar a Internet e suas várias ferramentas e serviços
gratuitos como fonte principal de informação e lazer. Muito interessante
os efeitos que começam a surgir logo nas primeiras semanas, uma sensação
de liberdade, de estar mais desplugado da cultura comercial e da estética
da mídia de massa. Entre inúmeras vantagens ficamos imunes às
mensagens emburrecedoras que se valem da assimetria da comunicação
broadcast para violentar o bom senso - como a desta
campanha idiota
. Isto é Ecologia
Digital
.


Na medida que vamos conhecendo o ambiente digital, mais e mais ferramentas
interessantes vão aparecendo. E por falar nisso, sugiro uma olhada no
Kartoo, uma máquina de meta-busca muito
charmosa - dica do Sílvio Meira.