Na rede

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Quem é que Pod-e?
- Reverberações do fenômeno Podcasting na ecologia digital

O que é Podcasting? O texto do Rodrigo Stulzer no Dicas-L tem as palavras mais bem colocadas para introduzir uma noção geral:

Podcasting, você ainda vai ouvir muito esta palavrinha.

Explicação técnica: rss de áudio.

Explicação normal: É uma espécie de rádio via Internet, mas não é ao vivo. E esta é a grande vantagem! Você escolhe o que quer escutar, instala um programa no seu computador e ele baixa automaticamente, todos os dias, os programas que você escolheu. Daí você escuta no próprio computador, mas se tiver um mp3player qualquer (iPod), pode escutar na rua, no trânsito, no ônibus, etc. ... Com o podcasting você terá não uma, mas centenas de "rádios" para escolher, sobre os mais diversos assuntos... E o que pode acontecer daqui para a frente? Milhares de "estações" de podcastings espalhadas pela Internet; cada um falando sobre o que gosta para uma audiência que compartilha das mesmas coisas. Programas mais fáceis de mexer e que comunicam diretamente com o seu telefone celular, que por acaso também pode tocar mp3. Você simplesmente seleciona os programas que gosta, pluga seu celular no computador (ou recebe tudo via bluetooth) e bingo! Horas e horas de áudio da maior qualidade, e o que é mais importante, do que te interessa!

Rodrigo Stulzer - Dicas-L (Unicamp)

O significado do Podcasting, esta nova modalidade(?) de mídia(?), pode ser dimensionado pela rapidez com que o termo se espalhou na rede. Em setembro do ano passado, quando Doc Searls publicou 'DIY radio with podcasting' ('Faça você mesmo o rádio com Podcasting'), o termo 'podcast' retornava 24 itens no Google; duas semanas depois já eram 53.200; hoje (20 semanas, ou 140 dias depois), está lá: 1.740.000 e subindo (veja como acompanhar estes índices). Deu até no NYTimes...

E tudo isso sem campanhas corporativas de marketing, nenhuma pesquisa tecnológica proprietária, e também nenhuma estratégia industrial. Não dá mesmo para imaginar reuniões departamentais discutindo o podcasting; equipes de TI brigando por ideologias da interoperabilidade, times de advogados explicando porque o conceito estaria infringindo esta ou aquela regulação internacional. Não daria certo, não seria viável.

'Geralmente, quando uma idéia tem grande significado, ela é, digamos, óbvia... e nem mesmo parece tão interessante à princípio. Não aparenta ser uma inovação, mas sim uma adaptação (um hack) de conceitos e tecnologias amplamente disponíveis, fáceis de entender e gratuitos. E quase sempre não foram concebidas em reuniões ou precisaram de qualquer planejamento para o seu desenvolvimento. Mas então, alguém observa aquele 'hack' e pensa à respeito. E então surge uma metáfora inspirada para descrevê-la. E então a onda começa. E é uma onda porque ninguém está no controle, exceto as pessoas que entendem como a metáfora funciona, e podem surfar a onda -- os 'experts' raramente captam estes significados, e quase nunca sabem surfar. '

Rex Hammock - 'The reason you've heard of podcasting'

Entretanto, este tsunami metafórico parece necessitar de alguns ajustes estratégicos para enfrentar o previsível contra-ataque das corporações da mídia tradicional (mainstream media). Quinze dias após publicar o manual do rádio "faça você mesmo", Doc declara abertamente que 'Podcasting não é rádio' (e não é 'webcasting', e também não é 'rádio pirata'):

'Há uma distinção a ser feita aqui, e é crítica se queremos manter o podcasting livre do regime regulatório que inviabilizou as Radios da Internet. Atenção: rádio é 'ao vivo'. Podcasting não é. No centro da questão está a definição de rádio na Internet -- 'streaming' -- como "performance" de uma "perfeita" cópia digital de conteúdos protegidos por direito autoral, e sujeita a regulamentações extremas que incluem extensivo (e caro) relatório de ouvintes e audições, de forma que as estações possam ser cobradas por stream, e por ouvinte, para cada música que eles venham a transmitir. E assim foi determinado o fim das rádios na Internet. Mas neste caso vocês estão falando de 'streaming', né? Podcasting é outra coisa.'

Doc Searls - 'Why podcasting isn't radio'

Bem, para pegar o real sentido do que está acontecendo só botando a mão na massa. A comunidade 'podcasting' é vibrante e conectada, cheia de novas idéias, e não para de crescer. Ainda não temos muitos podcasters tupiniquins, mas isso certamente vai mudar nas próximas semanas, e aí pod-eremos avaliar melhor o alcance da idéia, e analisar como a mídia nacional irá lidar com a novidade. Aqui vão alguns links básicos para quem está se introduzindo no pedaço. Você também Pod-e! (horrível essa...):

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Tags e a gentenomia
- Classificação cooperativa e identidade digital

Caramba! Comecei este post depois de ver a página de tags do CCMixter, e sacando a boa idéia de visualmente escalar as tags na relação 'tamanho x itens' (inspirada no del.icio.us e nas famosas TechnoratiTags). Aí me toquei da proximidade fonética de "tag" e "taxonomia" (tagsonomia?). Rewinding... primeiro foi o del.icio.us e depois o flickr, e o gmail fez o mesmo mas chamou de "label". E de repente estamos todos "tageando" tudo que passa pelo firefox. O Joho descreve assim os elementos básicos do movimento de socialização da classificação:

"Graças ao del.icio.us e depois o flickr em particular, centenas de milhares de pessoas têm sido introduzidas ao tagueamento "de-baixo-para-cima": Apenas 'taque'(!) uma tag em algo, e este algo ganha um valor social, não apenas individual"

David Weinberger - "The tagging revolution continues..."

O movimento já tem nome: folksonomy, ou gentenomia - neologismo para definir a prática de categorização colaborativa utilizando tags. A criação de metadados (dados sobre dados) através da folksonomia / gentonomia vem a ser a terceira (revolucionária?) via no assunto:

"A definição de metadados tem sido abordada geralmente de duas formas: criação profissional e criação autoral. Em bibliotecas e outras organizações, definir metadados -- primariamente na forma de registros catalográficos -- é tradicionalmente o domínio de profissionais dedicados trabalhando com regras detalhadas e vocabulário complexo. O problema principal com esta abordagem é a escalabilidade, e a impossibilidade de ser utilizada em vastas quantidades de conteúdo sendo produzidas e acessadas, especialmente no caso da web."

- "Folksonomies - Cooperative Classification and Communication Through Shared Metadata"

Mas é o próprio Weinberger que linka para uma imperdível blogada da Shelley 'Burningbird' apresentando uma outra visão ao tema:

"Acredito que o interesse em folksonomias desaparecerá da mesma forma que a maioria dos memes, que são interessantes como brincadeira. Eventualmente estamos interessados em projetos que não racham, lascam, ou tropeçam no dia do lançamento.

... não importa quantos truques se criem com esta coisa de tags, você só pode retirar daí a quantidade de conteúdo que foi colocado.

... a web semâmtica será construída "pelas pessoas", mas não será construída no caos. Em outras palavras, 100 macacos digitando por tempo indeterminado NÃO irão escrever Shakespeare; e nem 100 milhões de pessoas formando associações de forma randômica irão criar a web semântica
".

in Joho - "Burningbird on why tagging can't violate the Second Law of Thermodynamics"

Nem tão , nem tão . Em frente a tanta especulação sobre o futuro de algo que surgiu agora (mês passado, ou meio século/web atrás), em termos práticos tenho a dizer que me importo fundamentalmente com a autoridade de quem está por trás das tags. Não deixo de valorizar a reputação e autoridades coletivas, mas no contexto da busca de informação, valorizo mais quando tenho a condição de saber e escolher "quem tagueou", ou conceituou. Isto nos remete à questão da identidade, autoridade e reputação na rede -- de novo. Mas a conversa continua.

Bônus links: Delicious Mind Map Maker, (para visualizar suas tags em MindMap), e Delicious Tag Stemmer (para debugar sua lista de tags).