Este é o título de uma entrevista que foi realizada comigo pela assessoria de comunicação social aqui do Ministério da Cultura. Para aqueles que aqui transitam e ainda não sabem (ou não lembram), trabalho na área que cuida da infra-estrutura de publicação web do MinC -- Gerência de Informações Estratégicas. Apesar do nome do setor levar alguns a me conectar com 'serviços de inteligência', seja lá o que isso possa significar, de fato cuidamos da contínua atualização das ferramentas (e procedimentos) de comunicação e interatividade web utilizados pela gestão Gilberto Gil no desempenho de seus programas e ações.
Ao aceitar conceder a entrevista, tive que convencer os colegas jornalistas a aceitarem as respostas por e-mail, argumentando que estaria recheando o texto com hiperlinks. O episódio me recordou do recente imbróglio entre Jason Calacanis, Dave Winer e o jornalista Fred Vogelstein da revista Wired, muito bem narrado pelo Jeff Jarvis ("The Obsolete Interview") e outros, e que acabou em um podcast -- uma conversa telefônica gravada entre Calacanis e Vogelstein. Tudo começou com a insistência de Calacanis em só conceder entrevista a Volgestein por e-mail, mas o debate evoluiu para análises sobre o formato entrevista no ambiente digital, e ainda recentemente foi destaque no "On the media" da NPR.
De minha parte só posso acompanhar a tendência e publicar aqui (abaixo) a 'entrevista original', que sofreu algumas edições por parte das colegas da Ascom -- as quais considerei úteis -- para chegar ao resultado final, mas é bastante ilustrativa sobre as movimentações que desenvolvemos aqui no ministério.
1) O MinC vem experimentando novas formas de promover, através da Internet, uma maior participação do público em suas ações. Como isso vem acontecendo?Encerro o post sugerindo visita aos blog-oficinas que estão aquecendo o debate que irá desembocar no "Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural: práticas e perspectivas". O evento pretende alargar nossa compreensão sobre a recém ratificada Convenção da Unesco sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais , e desenvolver linhas internacionais de ação a partir de seus "princípios fundamentais de diversidade e liberdade para o avanço da compreensão mútua".
Começou ainda em 2004, quando montamos a interface do 1. Concurso de Idéias Originais e Demos de Jogos Eletrônicos. A idéia do ministro foi promover a criação de games baseados em idéias originais de jovens brasileiros, e para isso criamos uma interface que convidava os participantes a abrirem suas criações à colaboração de outros, fomentando um processo de facilitação para o surgimento de narrativas emergentes e propondo um exercício de utilização dos então recém criados conceitos de licenciamento Creative Commons. Foi apenas o início, mas já contou com experimentações radicais nos conceitos de Cultura Digital.
Em 2005, o Seminário sobre Indústrias Criativas e o programa Cultura & Pensamento incorpororaram as idéias de utilização da web para alargar o alcance dos debates em que reuniu pensadores da cultura em torno de temas contemporâneos. Em 2006, além da re-edição do C&P, vários eventos como o Seminário sobre Mídia e o sobre Capitalismo Cognitivo também estiveram disponíveis em transmissão ao vivo pela Internet. Na sequência, já em 2007, o Fórum de TVs Públicas foi também contagiado pela utilização da web como efetivo instrumento de facilitação para o acompanhamento remoto e para o debate online em tempo real.
2) Quais os resultados obtidos até agora?
Webcast, publicação de conteúdo em áudio e vídeo, e a disponibilização de fórum para abrigar os debates não chegaram a alcançar o resultado desejado em termos de ativa participação online, entretanto propiciaram um eficiente modelo de documentação multimídia dos eventos, o que certamente vem multiplicando o efeito de tais reflexões na rede.
O que viemos perceber agora com a realização do Fórum de TVs Públicas, é a importância fundamental de se mobilizar efetivamente o público interessado no debate através da aglutinação abrangente de representações legítimas dos setores da sociedade pertinentes ao tema, e ao mesmo tempo facilitar a utilização das ferramentas de interatividade online por parte deste público.
3) Com a experiência adquirida, o que o MinC está propondo em termos de participação online para os próximos eventos?
Para o Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural estamos propondo a realização de oficinas temáticas online, as quais estão tomando o formato de blogs a serem lançados antecedendo o evento presencial. A idéia é que tais oficinas, que contam com um curador especialista para orientar o debate e um 'blogueiro' para pilotar o blog e facilitar a experiência de interatividade do público interessado, antecipem a mobilização dos atores pertinentes aos temas que serão debatidos no Seminário, tratando de aquecer o debate. A oficina do tema Cultura Digital está a 'pleno vapor'.
Acreditamos que os "oficineiros", incluídos ai todos os que se sentiram de alguma forma atraídos pelo tema e se engajaram no debate na rede, passam a ter um papel fundamental na oxigenação do evento presencial. Trata-se de uma variação do formato de ' desconferência' (unconference), que parte da premissa de que na audiência pode / deve existir pessoas mais interessantes para a qualidade do debate do que a suposta autoridade do conferencista. O sucesso de tal iniciativa pode transformar o evento presencial em mera etapa de um processo que ganha então impulso próprio. Mas isto é apenas o nosso desejo... No momento resta-nos trabalhar pelo sucesso do projeto.
4) De que forma esta estratégia se relaciona com o conceito de Cultura Digital como difundido pelo ministro Gil?
O ministro Gil costuma falar deste novo contexto no qual a convergência tecnológica torna-se fato cultural, onde capacitar e instrumentalizar a sociedade para o uso das tecnologias digitais livres é fundamental para a realização plena da cidadania. Os pontos de cultura vem cumprindo este objetivo ao propor modelos efetivos de apropriação comunitária de conteúdos e dispositivos digitais, ao mesmo tempo em que promove a autonomia dos criadores e a auto-gestão política de seus processos.
Mas Cultura Digital é também a possibilidade de se eliminar a exclusão ao acesso público à informação, à tecnologia, e à possibilidade de livre expressão. Estamos falando de uma verdadeira revolução. O debate sobre estas novas realidades deve ter lugar no ambiente governamental, e também na sociedade, e a Cultura Digital prospera na construção destas inúmeras novas interconexões. Temos trabalhado no desenvolvimento de procedimentos e aplicações que possam constituir ferramentas efetivas de alargamento do alcance e de facilitação do livre fluxo da comunicação neste debate, no qual todos nós somos potenciais interlocutores. Nisto estamos trabalhando.
Os nomes ao lado indicam respectivamente o curador / animador (blogueiro) de cada oficina:
- Cultura Digital - Sérgio Amadeu e Bianca Santana
- Conhecimentos Tradicionais - José Jorge de Carvalho e Marcela Bertelli
- Economia da Cultura - George Yúdice e Lala Deheinzelin
- Propriedade Intelectual - Ronaldo Lemos e Bruno Magrani
"Vemos as grandes indústrias, como a Hollywoodiana, por exemplo, que domina 85% do mercado global de filmes, tentando impor seus produtos para o restante do planeta. Por ısso que foi criado recentemente o acordo sobre diversidade cultural da UNESCO: para garantir que o poder de tais indústrias não aniquile outras culturas. Para garantir que a globalızação nao acabe com a riqueza da dıversidade cultural que aında existe no planeta. Para garantir que não sejamos massificados por uma única cultura. E para garantir que nem sempre as produções culturais sejam tratadas como produtos puramente comerciais."Vale à pena acompanhar!
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