Há algum tempo me registrei num mailing list legal chamado NetFuture
onde o editor, um cara bem interessante chamado Steve
Talbot, propõe um olhar além dos "riscos" geralmente
detectáveis no uso da rede, tais como violações de privacidade,
acesso desigual, censuras, etc. De fato, suas análises procuram alcançar
aqueles níveis mais profundos onde, de maneira subliminar, formatamos
a tecnologia e somos formatados por ela.
Na última edição, fiquei parado no artigo "Reflexões
sobre os insatisfeitos da Internet", e providenciei uma tradução
para o Ecologia Digital.
Vale à pena conferir, e para mim é especialmente pertinente a
especulação sobre algumas qualidades inerentes ao cenário
digital:
Sim, o mundo - o mundo Web, com suas indubitáveis e agora essenciais
maravilhas - nas pontas de nossos dedos. Mas estar a um click de distância
de todos lugares leva-nos a estar em nenhum lugar em particular, e isso significa
que tornar a Internet um lugar saudável para as crianças não
é uma meta realisticamente alcançável no presente momento.
Não há "lugar" para tornar saudável, nenhum
lugar onde as pessoas se relacionam, onde o desenho das casas com seus quartos
privados e comuns, o desenho das ruas, a localização dos negócios,
escolas, parques, a estrutura construída ao longo de anos dos relacionamentos
familiar e comunitário, os ritmos de trabalho, estudo, comércio,
jantar, recreação e conversação, a realidade terrena
do Sol, brisas, chuva e mosquitos - não há lugar onde estes
e outros milhares de fatores podem se juntar para dizer, 'Aqui está
você. Seu nome está escrito neste lugar. Você pertence
aqui, e está seguro.'"
Esta constatação me fez reavaliar algumas premissas sobre as
qualidades de permanência do ambiente digital, sobre identidade digital
e gerenciamento de reputação. E também gerou uma reavaliação
dos princípios que movem os projetos de inclusão digital, na base
do questionamento da equação EFICIÊNCIA X SIGNIFICADO.
"Assim é o "mundo" para o qual tantos têm
desejado transferir os locais de trabalho de nossa sociedade, prefeituras,
escolas, clubes de recreação. Não tenho dúvidas
de que alguma transferência de funções é inescapável
e adequada atualmente. Mas o equivalente a uma louca corrida por terra - neste
caso, encorajada pelo governo, com incentivos fiscais, corrida de consumidores
para terra nenhuma - será catastrófica, senão por outras,
pelo menos pelas duas causas que mencionei: o impacto destrutivo sobre os
casos de mecanismos cujas recomendações primordiais são
sua eficiência; e a desorientação resultante da
perda do lugar real, com seu complexo papel de nos firmar, estruturar e dar
significado a nossas vidas."
E o último parágrafo no artigo é contundente, pois imagina
a possibilidade de um futuro no qual, ao invés do ambiente digital promover
os princípios libertários e democráticos dos quais estavam
imbuídos seus idealizadores, vir a tranformar a sociedade num subproduto
da homogeinização perversa baseada na eficiência. Nada menos
ecológico do que isso, e por isso devemos estar alertas e ter muito CUIDADO.
"O problema com o idealismo exagerado da Net dos primeiros tempos
foi que ele estava vestido de poderes redentores da tecnologia. Isto estava
fadado ao desapontamento. Um idealismo puro ganha voz na expressão
de nossos próprios ideais quando encontramos dentro de nós mesmos
os recursos para colocá-los em prática, na Internet e em todos
os lugares. À medida que fazemos isso, podemos esperar descobrir um
caminho entre nossos insatisfações atuais e fazer da Internet
uma expressão valiosa, ainda que presumivelmente limitada, de uma sociedade
saudável. A alternativa é observar a sociedade tornando-se uma
expressão doentia da Internet."
Alguém tem algo a contribuir? Qual a sua idéia a respeito? Comente.
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