Na rede

sábado, maio 06, 2006

Sobre a 'desconferência' da gangue da identidade digital

A delicada questão da identidade digital foi 'especialmente' debatida esta semana no Internet Identity Workshop 2006, que ocorreu no Computer Hisotry Museum em Mountain View - California. O evento teuniu luminares do tema - blogueiros da A-list, conhecidos figurões das grandes empresas e experts das fronteiras da inovação no campo do gerenciamento de identidade. Entretanto, e esta é a característica 'especial' do evento, nenhum deles estava lá para apresentar conferências, não havia palco - todos falaram, escutaram, tiraram dúvidas e responderam a questionamentos, numa configuração interativa com hierarquia plana.

O novo formato de interação é chamado 'Unconference' (desconferência?), e foi desenhado em sua forma atual por Dave Winer, o criador (entre outras coisas) do RSS. O workshop foi realizado no âmbito do coletivo 'Identity Gang', que é patrocinado pelo Berkman Center e reúne indivíduos e organizações que mobilizam esforços em torno de uma missão em comum: 'Apoiar a contínua conversação sobre o que é necessário para o desenvolvimento de um 'metassistema' de identidade que possa atender a todo o mercado, especialmente aos indivíduos'.

De acordo com a ampla e positiva cobertura que o evento alcançou na blogosfera, os sinais de que já estão ocorrendo as necessárias mudanças para a correta abordagem do tema foram claramente percebidos nas seções de 'desconferência' no evento. A principal responsável pelo sucesso da implementação do espaço aberto de debate foi a 'Identity Woman' Kaliya Hamlin (foto), que juntamente com Phill Wendley conseguiu criar o ambiente adequado para a inédita troca aberta de informações.

Parece não haver mais qualquer dúvida de que é necessária a adoção de uma meta-narrativa na condução dos debates sobre a identidade digital, e de que a missão neste momento é descobrir como convergir os vários projetos em desenvolvimento. Tais esforços partiram de variados contextos de uso e demanda, e foram iniciados com objetivos extremamente heterogêneos, o que vinha causando enorme divisão e competição até então. Mas desta vez foi perceptível a intenção coletiva de 'pular no barco', e o movimento de cada grupo em introduzir seus objetivos específicos na matriz cronológica e de especificações construída colaborativamente como resultado das 'desconferências'.Recentemente o Sílvio Meira(que finalmente! colocou RSS em seu blog) fez um bom diagnóstico do que vinha acontecendo no debate sobre o identidade na rede:

"... os atores apropriados não estão se sentando nas mesmas mesas e tendo as longas conversas que deveriam... o que os leva a disparar salvos contra os outros com muita freqüência, como se “um” lado fosse ganhar a disputa e o “outro”, desaparecer. A experiência da internet deveria ensinar que “o” lado que ganha a disputa é o do usuário, que está à procura de uma experiência simples, rica, eficiente, eficaz e, ainda por cima, que justifique os reais que custa. Simples. Mas até chegarmos, todos, a este entendimento, veremos muita gente boa vivendo, em público, a crise de identidade de não saberem o que são, num mundo convergente... simplesmente por não entenderem o que ele, de fato, é."
Crise de Identidade - Meira.com

Será que o clima está mudando? Estarei em Recife na próxima semana e espero re-encontrar o Sílvio e poder trocar boas idéias. Quem sabe gravar um podcast. Alô Síííllllvio!!

UPDATE: Tom Maddox disponibiliza em seu blog vários podcasts sobre o Internet Identity Workshop 2006. Os dois com Doc Searls são especialmente interessantes -- Doc indica que a junção da identidade digital com um mecanismo como o Creative Commons poderia criar um ambiente de mercado completamente revolucionário - a economia da intenção.

terça-feira, maio 02, 2006

O mundo pergunta: "Mídia da Crise ou Crise da Mídia?"

O Seminário 'Crise da Mídia ou Mídia da Crise?', realizado nos dias 26, 27 e 28 de abril pela Escola de Comunicação da UFRJ em parceria com a Rede Universidade Nômade e com o apoio da Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura e da RNP para a transmissão ao vivo pela web, terá uma oportuna continuidade no âmbito internacional.

Nos próximos dias 3 e 4 de maio acontecerá em Londres o evento 'We Media Global Forum', organizado pelo 'The Media Center' -- unidade do 'American Press Institute - API' dedicado à pesquisa sobre a mídia e seus novos formatos, e com o patrocínio das agências internacionais BBC e Reuters.

O evento irá reunir a vanguarda da sociedade conectada -- pensadores, inovadores, investidores, executivos e ativistas que buscam realizar o potencial das redes digitais em conectar todos, em todos os lugares. O objetivo principal será captar as perspectivas dos líderes da indústria e dos príncipais ativistas em relação à questão mobilizadora introduzida pela organização do fórum, e que é colocada tanto em relação à mídia tradicional como também frente ao nascente 'jornalismo cidadão':

Nós confiamos na mídia?
(Do we trust the media?)

O evento começa amanhã, mas pode ser acompanhado desde já no site específico, nos blogs do 'media center', da BBC e da Reuters, e em outros locais da blogosfera.

Como o tema do forum é 'confiança', os principais patrocinadores (BBC e Reuters) estão realizando uma pesquisa online para avaliar a 'atitude das pessoas em relação à confiança e mídia'. Os resultados da pesquisa só serão anunciados oficialmente no primeiro dia do forum, mas alguns indícios coletados já estão disponíveis online. Interessante observar em quais instituições os cidadãos depositam maior confiança no sentido de realizar as ações necessárias para a construção do bem comum (abaixo).


E, por falar em 'mídia' e 'confiança', não posso deixar de destacar uma passagem na recente apresentação de Paulo Henrique Amorim no seminário 'Mídia da Crise ou Crise da Mídia?', onde ele descreve a preleção de Carlos Augusto Montenegro, diretor do Ibope, no Fórum Empresarial realizado em Comandatuba no fim de semana anterior.

"...convocado para uma das preleções previstas pelo programa, falou de pesquisas e fez observações interessantes a respeito das próximas eleições, mas seu pronunciamento passou em branca nuvem nas páginas impressas e no vídeo. Arrisquemos um palpite: desta feita Montenegro não agradou à mídia e seus patrões. Exibiu números que confirmam o favoritismo de Lula e admitiu a chance de sua vitória já no primeiro turno, caso o PMDB não apresente candidato. E Montenegro dobrou a dose, e esclareceu que o próximo pleito se apresenta como confronto entre ricos e pobres, e estes estão, organicamente, com Lula."
Mino Carta - 'Os pobres contra os ricos' - Carta Capital

Ou seja, dados que anunciam o favoritismo e a radical mudança na composição do eleitorado de Lula para as eleições presidenciais de 2006 são apresentados para cerca de '320 CEOs de grandes empresas nacionais e multinacionais, dois Ministros de Estado, além de governadores, deputados e senadores' (composição do público em Comandatuba), entre eles certamente os principais dirigentes das maiores corporações de mídia, e mesmo assim tais informações continuam restritas ao comentário de Mino Carta e à cobertura universitária do 'mídia / crise'. Tenho que complementar o post com outro registro pertinente da fala de Paulo Henrique Amorim no seminário da UFRJ:

"95% da imprensa tenta abreviar ou desestabilizar o governo Lula; os outros 5% restantes se referem à revista Carta Capital."
Cobertura do 'Mídia da Crise ou Crise da Mídia?' - Felipe Musa

Vamos acompanhar o evento em Londres e seguir referenciando com o debate. Um diferencial importante a ser notado é que os patrocinadores do 'We Media Global Forum' são BBC e Reuters - duas das principais agências de notícias internacionais. E as nossas, o que estão fazendo?



UPDATE - Veja os vídeos de dois dos painéis apresentados (Google Vídeo):

  • Midiocracia (imperdível) - Como a democracia se constitui em aliança, conflito e composição com os meios de Comunicação. Democracia pela mídia e governo dos meios de comunicação.

    Palestrantes
    : Wanderley Guilherme dos Santos - Cientista Político e Professor da UFRJ e da Universidade Cândido Mendes . José Dirceu - ex-ministro da Casa Civil . Paulo Henrique Amorin - Jornalista da TV Record . Ricardo Kotscho - Jornalista e representante da Rede Globo do Projeto Globo/ Universidade . Giuseppe Cocco - Professor da UFRJ e representante da Rede Universidade Nômade


  • Midiativismo - Os novos intelectuais e atores políticos que utilizam a mídia e suas linguagens como forma de ativismo político e estético. A política do simbólico.

    Palestrantes
    : Franco Berardi - Professor da Universidade de Bolonha (Itália) Raul Sanchez - Professor da Universidad Nomada de Madrid (Espanha) Wallace Hermann - representante das Rádios Comunitárias e PontoComSaúde Geo Brito - representante do Centro de Teatro do Oprimido e da Universidade Nômade Giuliano Bonorandi - representante da Ação Cultura Digital e Rádio Interferência

quarta-feira, abril 12, 2006

Rumo ao 'comum' digital global, no Rio


iSummit será no Rio de Janeiro, de 23 a 26 de junho de 2006

Lawrence Lessig explica em seu blog:


"O objetivo do iCommons vai muito além da infraestrutura que está sendo construída pelo Creative Commons. A proposta é reunir no Rio, além do crescente grupo de entusiastas do CC, uma ampla coleção de novas pessoas e grupos - incluíndo os Wikipedians, as turmas do Software Livre, os garotos da Cultura Livre, heróis do livre acesso ao conhecimento, e outros - para que possam "se inspirar e aprender uns dos outros, estabelecendo relações de trabalho mais próximas em torno de um conjunto de projetos incubados"

Ele segue explicando que o iCommons é uma empreitada distinta do Creative Commons, e também dirigido por outras pessoas - tem o blogueiro Joi Ito como presidente. A missão do iCommons será determinada pelas conversas que acontecerão em junho no Rio entre as várias correntes que compõem a comunidade internacional do conhecimento livre (‘free and open source software’, ‘open access’, ‘open content’ e ‘open science’, entre outros).

Além da presença de Jimmy Wales (fundador da Wikipedia) e James Boyle (criador do 'ambientalismo cultural'), está confirmada também a performance do ministro Gilberto Gil, que tem desempenhado papel importante no desenvolvimento e divulgação do modelo alternativo de gerenciamento de direitos autorais Creative Commons no Brasil, -- foi o idealizador da licença CC para sampleamento de conteúdo original.

No anúncio do evento, e da presença de Gil, Lessig destaca a pertinência e sintonia do programa 'Pontos de Cultura' , do MinC, com toda a movimentação em torno da cultura e do conhecimento livres, da qual é principal articulador:


"O projeto dos 'pontos de cultura' almeja construir mil locais distribuídos por todo o Brasil, onde ferramentas de software livre estejam disponíveis para que as pessoas possam criar e remixar a cultura. O foco é vídeo e áudio, ninguém está muito interessado em aplicações do tipo Office ou semelhantes. É um extraordinário movimento de base, devotado primeiramente a um ideal (o livre acesso à cultura) e também a uma prática (torná-lo(a) real)."
Lawrence Lessig - returning home (from Brazil)

Estão previstas diversas atividades (confira a programação), e no workshop 'Create', os participantes poderão experimentar algumas das ferramentas desenvolvidas pelos 'Pontos de Cultura', e mais um conjunto de outras soluções e projetos de outras organizações voltadas para o estabelecimento de 'pontos de criatividade' em 'coffe shops', centros comunitários e comerciais.

Para quem está na área, e no tema, não dá para perder.

sábado, março 25, 2006

A 'economia da atenção'


Há algum tempo venho acompanhando o movimento do conceito da "economia da atenção", tendo inclusive publicado um artigo ("O novo valor econômico: a ATENÇÃO") na seção 'cultura digital' que estou editando no site do MinC, e desde há muito me tornado membro da 'Attention Trust', a primeira organização criada para defender os direitos de indivíduos sobre seus dados de atenção, e que desenvolveu o primeiro 'attention recorder' (gravador de atenção).

Mas afinal, de que estamos falando?

"Quando você presta atenção a algo (e também quando você ignora alguma coisa), informação é criada. Estes dados de atenção são recursos valiosos, que refletem seus interesses, suas atividades e seus valores"
Attention Trust - About

Todo link que você visita, toda busca realizada, compras online... em síntese: todo movimento no ambiente digital pode ser registrado, armazenado, organizado e utilizado das mais variadas formas. O Google é a empresa que melhor utiliza este recurso até agora, coletando toda a informação de atenção (attention data) disponível e tratando-a de forma a posicionar anúncios de seus clientes à vista de usuários que, segundo as indicações, têm maiores chances de clicar 'naquele link'. O fato da empresa criada por Larry Page e Sergey Brin ter conseguido quadruplicar o valor de suas ações em apenas um ano e meio é indicador que ilustra como esta nova abordagem traz uma vantagem competitiva no estado atual da economia.

Entretanto, pelo rumor dos eventos específicos sobre o tema atenção (o'reilly's etech, pcforum e sdforum), e do debate na blogosfera na última semana, vemos que esta perspectiva pragmática da 'economia da atenção' é apenas uma dentre os possíveis desenvolvimentos. Doc Searls em seu artigo 'The Intention Economy' indica que o conceito de atenção, tratado dessa forma, continua colocando as empresas - o 'vendedor' - no centro. Em sua visão, o conceito de 'intenção' poderia ser mais apropriado ao colocar o foco no indivíduo, o 'comprador'. Tal abordagem poderia alavancar a construção de soluções técnicas baseadas em dados de atenção que auxiliem o indivíduo a conseguir o que deseja dos mercados, ao invés de auxiliar o 'vendedor' a capturar a atenção dos 'compradores'.

Seth Goldstein, Steve Gillmor e Dave Sifry (Technorati) no SDForum SearchSig - 'The Search or Attention' -
Foto do flickr - usuário PrivateEye

Outro dia, escutando o 'Gillmor Gang' (um dos meus podcasts favoritos) sobre o debate "The Search for Attention" do SDForum Search Sig, pude perceber a força do meme 'atenção' entre os que compõem a vanguarda da web 2.0. Steve Gillmor está saindo da AttentionTrust (é um dos fundadores, mas declara que já estamos na era 'pós-atenção') para se dedicar ao desenvolvimento da idéia de 'Gestures' e a criação do GestureBank.
"Gestures (gestos). É a terceira perna do tripé, juntamente com a AttentionTrust e o gravador. Porque gestos? Com a AttentionTrust eu afirmo o direito de controlar os meus metadados, e o gravador é uma implementação de referência para que cada um de nós tome posse desses dados. Entretanto, aplicações precisam de um fluxo de dados para linkar as intenções do usuário em uma base agregada. E por sua vez, os usuários têm que ter uma maneira de guiar ou influenciar os serviços recolhidos do reservatório aberto de dados (open pool of data) de acordo com suas necessidades e perspectivas individuais. Separando os fluxos de atenção em dois canais, um de metadados agregados anônimos, e outro de gestos (gestures) e metadados privados, podemos criar uma ferramenta poderosa análoga aos fundamentos do software livre e dos padrões abertos. Isto é o GestureBank -- você pode utilizar seus serviços somente quando você contritui para o reservatório aberto de dados (open pool of data)"

Steve Gillmor - AttentionTrust and GestureBank

Outra aplicação com base no conceito de atenção já funcionando é o Root.net, projeto desenvolvido por Seth Goldstein (outro fundador da AttentionTrust) que capta 'dados de atenção' recolhidos pelo Attention Recorder e os disponibiliza de variadas formas. O plano é se transformar em um 'corretor de atenção' entre usuários que desejam compartilhar seus dados de atenção e entidades que tenham interesse pela informação. No outro evento da semana, o PC Forum, um dos temas foi também a retomada de controle, pelo usuário, de seus dados e identidade online. Mas na perspecitva das empresas, esta apropriação por parte dos usuários ainda é um longo caminho a ser percorrido.

"Existe muita ansiedade entre as empresas sobre o que fazer com os 'dados de atenção' dos usuários, porque está claro tal informação não lhes pertence para que seja usada de acordo com seus interesses. No PCForum, perguntei a representantes de Yahoo, Google e outras empresas se eu poderia obter e usar uma cópia de meu histórico de buscas. Suas respostas foram evasivas."
Seth Goldstein - SDForum's Search SIG: The Search for Attention

Diante de tantas perspectivas interessantes, este debate sobre a 'economia da atenção' poderia já estar esgotado. Entretanto, foi de Michael Goldhaber na Etech a conferência que trouxe uma visão mais radical e abrangente do conceito, a ponto de o levar a ser aclamado pelos colegas como o 'einstein da atenção'.

"Pense no mundo humano como um gigantesco jogo de rpg interativo (o que realmente é). Na medida em que as interações vão se transformando, vamos passando mudando de nível, algo que não acontece neste grau de profundidade há séculos. As regras, valores fundamentais, tudo está se transformando em relação ao que era familiar no nível caracterizado pela troca de Dinheiro, a prevalência dos Mercados, e a dominância da produção Industrial de bens padronizados (chamaremos este nível de DMI). O novo nível também se desenvolve em função dos desejos e habilidades humanas, mas agora o que mais importa são nossas habilidades estritamente limitadas de prestar atenção, e nosso muito maior (na média) desejo de receber atenção. A transição completa entre os níveis ainda vai durar algumas décadas, mas já estamos no caminho."
The real nature of emerging attention economy - Michael Goldhaber - Keynote on ETech 2006

Phill Windley estava lá e tomou algumas notas preciosas, já que a íntegra da apresentação deve permanecer fora da rede até o lançamento do livro que Goldhaber vem desenvolvendo desde os anos 90, e está próximo de lançar. Na conferência ele apresenta uma analogia entre modelos econômicos historicamente definidos e os diferentes níveis de um jogo mmporpg - o primeiro nível foi a economia feudal (800-1200), de onde emergiu o sistema DMI (dinheiro, mercados, industrialização) que funcionou de 1650 a 1980 (o intervalo é a transição). O próximo nível seria a economia da atenção, que não pode ser descrito ou explicado em termos do sistema DMI, da mesma forma que o mercado de ações não pode ser descrito nos termos da sociedade feudal.

A passagem do sistema feudal para o sistema DMI aconteceu porque a Europa ocidental sentiu-se segura o bastante para promover os espaços públicos nas cidades, viagens seguras, e a extinção do modelo de exploração do trabalho escravo. A ultrapassagem do sistema DMI acontece em função da abundância material em alguns extratos da sociedade moderna e, segundo Goldhaber, pela aberturas promovida por espaços onde acontece massiva troca de informações como as grandes escolas de segundo grau e universidades, a mídia de massa, e a Internet. As metas mudaram de lealdade para bens materiais, e então para atenção. Os papéis mudaram de cavaleiros, para proprietários, e então para astros e fãs.

O post acabou ficando gigante, mas para falar sobre a 'economia da atenção' e os desenvolvimentos pertinentes nesta altura do campeonato não dá para ser sintético. Espero podermos desenvolver um pouco mais nos comentários... alô alô!

quinta-feira, março 02, 2006

Ecodigital +10: Boyle e Lessig comemoram uma década de 'ambientalismo cultural'

Acontecerá nos dias 11 e 12 próximos, no 'Centro para Internet e Sociedade' da faculdade de direito de Stanford (San Francisco - California), o simpósio 'Cultural Environmentalism at 10' que marca 10 anos de criação da metáfora 'Ambientalismo Cultural'. Não poderíamos deixar de destacar o evento, já que o blog Ecologia Digital e o site correlato nasceram de minha perplexidade frente à pertinência e propriedade da abordagem elaborada por James Boyle há uma década.

O próprio Boyle, acompanhado de ninguém menos que Lawrence Lessig, estarão comandando o simpósio e recebendo os conferencistas selecionados: Molly Van Houweling irá explorar a manipulação voluntária da propriedade intelectual (ex.: licenças creative commons) como ferramenta de ambientalismo cultural; Susan Crawford irá ampliar a perspectiva de Boyle focando as especificidades do universo das redes; Rebecca Tushnet comentará sobre como a tendência generalizadora das leis pode inviabilizar o 'ambientalismo cultural'; e Madhavi Sunder aborda como a metáfora interfere na questão do conhecimento tradicional (este é quente!).

Em recente artigo no Financial Times, onde agora é colunista de 'new economy'(!), James Boyle relata que em 1996 tentou publicar um texto sobre propriedade intelectual, costurando os temas 'internet', 'liberdade de expressão' e 'acesso à informação', e o editor achava que o tema central seria pornografia e censura. Não era. Boyle tratava de patentes de software e regras para o direito autoral no ambiente digital. Já naquela época preocupava-se com regulações que responsabilizavam os provedores por qualquer coisa que um usuário fizesse online, e com as persistentes extensões do período de cobertura dos direitos autorais que resultaram no confinamento de toda a cultura do século XX (mesmo os conteúdos não disponíveis comercialmente). Tudo isso acontecendo exatamente no momento em que poderíamos sonhar em tornar tudo isso facilmente acessível por todos.

Boyle percebeu claramente que, em 1996, o tema propriedade intelectual era árido o suficiente para só interessar a especialistas da indústria. Na prática, estavam sendo redigidas as regras básicas da 'era da informação', que iriam interferir dramaticamente na liberdade de expressão, na inovação, na ciência e na cultura do futuro próximo, e ninguém - exceto os players da indústria - estava prestando a devida atenção.

Foi aí que surgiu a analogia ao movimento ecológico que, de forma brilhante, tornou visível os efeitos de decisões sociais relativas ao meio ambiente, trazendo à luz do debate democrático um conjunto de assuntos que, até então, eram restritos a especialistas. Era urgente a formulação de um ambientalismo da mente, uma economia política para a era da informação - era necessária uma ecologia digital.

E tudo começa com o lançamento do livro "Shamans, Software and Spleens" (1996), enfocando uma decisão da Suprema Corte americana em 90 (Moore v. The Regents of the University of California) que regulamentou a possibilidade de se patentear DNA retirado do corpo de terceiros. Expandindo as idéias apresentadas na "Declaração de Bellagio" de 93, que contou com sua co-autoria, Boyle buscou construir uma teoria social da sociedade da informação.

De lá para cá, parece que a ecologia digital vem colecionando derrotas: os termos limite de copyright foram extendidos, alargaram-se os limites da lei de marcas, e a lei de patentes avança na cobertura de algoritmos e idéias básicas. Registre-se que em nenhum desses casos houve demonstração evidente de que a nova proteção seria necessária ou desejável.

Mas existem motivos para otimismo. A existência deste blog no Brasil pode ser um sinal, um reconhecimento de que estes são assuntos que merecem atenção e difusão pública, e sobre os quais cidadãos podem/devem debater. E já temos os nossos equivalentes do Greenpeace. Também a indústria, devagar, começa a compreender que seus interesses no assunto podem ser vistos sobre novas perspectivas. Boyle sugere as diferenças marcantes entre IBM e Microsoft, e entre a indústria de hardware e a da música como exemplos do novo quadro. Na medida em que a propriedade intelectual começa a interferir na vida de quem participa na criação da cultura digital, o cidadão comum começa a ter algo a dizer no assunto. Pode ser que no debate ainda não esteja equilibrado, mas pode-se dizer que hoje, trata-se de um debate - e não um monólogo da indústria do conteúdo.

Portanto temos o que comemorar, e vamos tentar acompanhar o simpósio para trazer as novidades pertinentes ao público da ecologia digital.

UPDATE 13/03/06 - Joe Gratz realizou ótimo liveblogging das conferências do evento, que linko abaixo:

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Ainda sobre a Cúpula, e o aviso de Dan Gillmor

Aqui vai mais uma tradução de artigo que considero importante para compor as informações que nos levarão a entender melhor a discussão que envolve a governança da Internet -- tema quente da recente Cúpula Mundial da Sociedade da Informação.

Chegou a haver algum barulho na rede sobre o fato da delegação brasileira estar aliando-se a interesses 'pouco democráticos' ao defender a descentralização da autoridade na rede conforme praticada hoje. Parece que a heresia causadora do ruído é o fato do Brasil ter ousado liderar um 'desafio o papel predominante exercido pelos Estados Unidos', o que poderia 'deformar a Internet'.

Sobre o tema podemos citar a avaliação de Gustavo Gindre, membro eleito do Comitê Gestor da Internet - CGIBr representando o terceiro setor, sobre a participação da delegação brasileira no evento:

"O Brasil teve atuação destacada nas negociações sobre a governança da Internet durante a CMSI. Liderou uma aliança com diversos países descontentes com a política norte-americana e ainda conseguiu anular a resistência de várias delegações (particularmente de governos totalitários) à participação da sociedade civil no Internet Governance Forum (IGF). Por fim, negociou uma aliança com a União Européia que terminou isolando os Estados Unidos."
Boletim Prometheus Especial - Tunis 2005, por Gustavo Gindre

Quanto ao risco de 'deformação' que a rede sofre hoje, me pareceu oportuno traduzir artigo do Dan Gillmor (referências? 01, 02, 03, 04) publicado recentemente no Financial Times, que ilustra o cenário atual de um dos fronts no qual os defensores da 'rede aberta' terão de batalhar para manter os princípios fundamentais da Internet. Penso que é especialmente importante para nós aqui no Brasil percebermos que o cenário descrito abaixo serve para ilustrar a movimentação das telecoms e de tellywood lá no norte, o que certamente é indicativo dos planos das corporações análogas por aqui.

De forma alguma indico que tenhamos que ver nos colegas norte-americanos a força precursora que busca 'deformar' a rede -- pelo contrário, sabemos que a turma lá está na ponta da inovação libertária que possibilitou tudo isso. Apenas demosntro que a postura brasileira no assunto é inteligente e sensível o bastante para considerar que, independentemente de qualquer bandeira, o que se defende é um modelo de governança (conforme o brasileiro) representativo para a rede, que além das representações de governos assegure também a participação da sociedade civil, do setor empresarial e da academia -- de todos os países. Esta é a rede da qual estamos falando.

Sobre o tema da Cúpula, também vale à pena ver:



Dan Gillmor: Levantem-se contra a opressão dos EUA
Financial Times - 22/11/2005

A 'Internet aberta' está sob ataque como nunca esteve antes, e os agressores são os suspeitos de sempre: governos e os gigantes das telecomunicações. Infelizmente a suspeita se aplica também aos Estados Unidos da America. Falando em 'Internet aberta' quero signigicar a rede onde usuários utilizam a banda de frequência da forma como bem entendem, e não como os oligopólios querem definir. É claro que o que os usuários desejam não é especialmente relevante
para os burocratas e executivos que estão trabalhando duro para recuperar o controle.

Não é surpresa ver governos autoritários e opressores, especialmente aqueles que controlam as operações de telecomunicações, atuar de forma a suprimir a vitalidade e espontaneidade do livre fluxo viabilizado por esta nova mídia.

O controle político não é a única dimensão em jogo -- empresas gigantescas e interesses bilionários complementam o cenário.

Entretanto, é desalentador observar os EUA caminhando nesta direção. A nação que concebeu e difundiu a Internet está renunciando a alguns valores básicos de todo o processo.

Considere, em particular, a recente entrevista na revista Newsweek, onde Ed Whitacre, chefe-executivo da SBC Communications, deixou claro sua preferência pelos dias quando as companhias telefônicas americanas eram monopólios. (Agora que a SBC está comprando a AT&T e deve assumir o novo nome, festeja juntamente com outras telecoms aquisidoras o início do retorno daqueles dias felizes -- para os monopolistas!).

Na entrevista, Whitacre anuncia sua intenção de favorecer determinados serviços que transitam informação nos cabos providos por sua companhia. Em certa altura ele reclama do Skype, a companhia de voz-sobre-IP, dizendo: "Eles usam nossa rede de graça"; e indicou fortemente que pretende forçar o Skype (ou seus usuários) a pagar para usar 'sua' rede. A arrogância contida nesta declaração apenas ilustra o equívoco essencial que a fundamenta. O que é provido pelo empresas é banda: mover pacotes de informação de lá para cá. Não cabe a estas empresas, ou não deveria caber, decidir o que é enviado, e em que ordem.

Em função da lógica de Whitacre, que infelizmente é apoiada por nossas políticas públicas, a ele é permitido instalar 'quebra-molas', 'bloqueios' ou 'pedágios' no caminho de todos os provedores de conteúdo da rede.

A auto-imputação de autoridade do chefe-executivo da SBC sobre que tipo de informação pode passar por 'seus' cabos -- adquiridos inicialmente através de monopólios garantidos pelo governo -- tem um 'quê' de realidade, em parte por causa da atual política governamental. Reguladores federais, sem pensar nas implicações, estão incentivando os conglomerados das telecomunicações e da tv a cabo a pensar que não precisam compartilhar seus cabos com os competidores.

Tem havido também alguns murmúrios por parte de reguladores sobre requerer o que os partidários da competitividade denominam 'acesso aberto' (open access), que vem a ser a não discriminação sobre conteúdo que transita nos cabos da rede. Mas praticamente todas as regulações boicotam tal diretriz.

Em julho eu denunciei esta tendência nesta coluna, ao analisar uma decisão da Suprema Corte em um caso denominado 'BrandX' pelo fato do nome de um provedor de serviço a internet ter sido bloqueado por uma linha de companhia de cabo. Preocupou-me a decisão, que tornou-se aderente à lei vigente, como mais um passo no sentido de dar às telecoms controle absoluto sobre a informação que transita nos cabos que controla, além do serviço de provisão de acesso propriamente dito.

O congresso americando parece pronto para sacramentar o dano. A legislação que está sendo preparada para atualizar o marco legal de telecomunicações ameaça o princípio básico da Internet que valoriza 'as pontas da rede'. Segundo explica Vint Cerf, um dos 'founding fathers' da Internet, é este princípio que "permite que pessoas em todos os níveis da rede estejam livres para inovar, sem a possibilidade de um controle central".

Em carta remetida a um comitê do Congresso, Cerf (agora um contratado vip do Google) declarou que tal proposta de legislação, se entrar em vigor, "irá causar grande dano à Internet como a conhecemos". Conceber uma regulação que permita aos operadores da rede discriminar em favor de certos tipos de serviços, e potencialmente interferir com outros, irá colocar os provedores de banda no controle da atividade online.

Não é apenas o Google que está por trás destas manifestações. Também a Microsoft e outras empresas que não detém infra-estrutura de rede estão igualmente preocupadas.

Não deveríamos culpar Whitacre e seus colegas do mundo das telecoms, igulamente sedentos de poder, por buscar a retomada do poder que tinham e que a rede em tão pouco tempo desconstruiu. Está no DNA deles querer pautar quais serão as nossas escolhas, e quais inovações irão acontecer - e a que velocidade de implementação.

Mas o DNA da Internet é precisamente o oposto de tudo isso. A rede permite que as pessoas comuns, nas pontas da teia, produzam novas possibilidades e realizem as suas próprias escolhas. Este é o motivo pelo qual a rede têm crescido de forma tão poderosa, e razão também de ter se tornado este vibrante ecossistema que aos poucos vai se constituindo na plataforma para o futuro da comunicação humana. Ela é nossa, coletivamente, e não deles.


quinta-feira, novembro 17, 2005

O dia em que o 'broadcast' morreu

David Berlind fala sobre o casamento do protocolo de assinatura RSS com a programação de TV disponível na rede, que cria um cenário capaz de eliminar o que hoje conhecemos como distribuição de programação televisiva através de canais. E demonstra também como setores da indústrias estão se mobilizando para impedir esta evolução natural da rede.

"HOJE é o dia que as redes de TV e rádio em todo o mundo sempre temeram que chegasse. É o dia em que alguém casou o protocolo de assinatura RSS com Bittorrent, de tal forma que transforma a Internet em uma grande, enorme e grátis, máquina TiVo. Como anunciado
por Steve Rubel
ontem, "alguém encontrou uma forma de assinar shows de TV em Bittorrent e baixá-los como um feed RSS". Em outras palavras, uma vez que um show de TV tenha sido digitalizado e armazenado em Bittorrent, não somente as redes de broadcast de rádio e TV terão sido excluídas da intermediação, mas também todo o modelo de negócio baseado em publicidade. Da mesma forma como com o TiVo, podemos simplesmente avançar por sobre os anúncios. E muito melhor do que TV por satélite, a arquitetura da rede pavimenta o caminho
para o recebimento de conteúdo originária de qualquer parte do mundo.

Distribuição de programação de televisão pela Internet era inevitável. O problema é que este não é exatamente o caminho evolutivo planejado por aqueles que se prepararam para estar no topo do darwinismo da mídia. Neste caso, os donos de empresas como a Verizon com seus serviços de IPTV (vide Telemar), que requerem um intermediário; e os senhores do cartel do entretenimento ('Tellywood' - 'hoje televisão e estúdios de cinema (Hollywood - vide Globo) são essencialmente a mesma indústria'), que têm um modelo de negócio a defender. Eles tem planos diferentes, desenhados para controlar toda a experiência do usuário (o horizontal e o vertical). No entanto, em função dos princípios que norteiam a Internet (onde as pontas da rede é que detém o controle), este controle está escapando por seus dedos como areia.

Então, parece que é o triunfo da Internet afinal?

Talvez não. O homem gosta de interferir com a evolução, e esta situação específica não parece ser diferente. Tellywood não pretende deixar que uma coisa boba e pequena como a Internet lhe force a aceitar um caminho específico de evolução, não favorável. Em seu compromisso com a própria existência, Tellywood não está tentando interferir com a inovação trazida pela web de forma isolada, mas convocou seu poderoso lobby para compor estratégia de defesa em aliança com outros dois dinossauros: o FCC (Federal Communications Commission) e o congresso americano. Mas ainda há tempo para agir. Além de boicotar conteúdo e tecnologias que promovem a adoção de tecnologias de DRM (Digital Restrictions Management), aqui está o que pode ser feito agora (e rápido, pois há um prazo fatal em 01/12/2005)".

Longo hiato

Quase envergonhado ao observar a data do último post, venho por este argumentar que foram muitos os motivos pelos quais estive ausente deste blog. O primeiro motivo, ao mesmo tempo grande e pequeno (ou pequena - Elisa) está aí na foto ao lado. Quem já cuidou de bebê (mesmo sendo o 4º filho) sabe que poucos assuntos podem vencer em prioridade as demandas de um pequeno ser que depende da sua atenção. Neste ponto concordo inteiramente com os postulantes da 'Economia da atenção' - eis o bem realmente escasso em nosso presente século.

Outros projetos no MinC também estão tomando o resto de tempo disponível: a nova Intranet (xemelenta e jabberizada), a concretização do conceito dos Fóruns de Cultura no site institucional do ministério (especialmente Cultura e Pensamento, Indústrias Criativas, Capitalismo Cognitivo e Cultura Digital), e ainda a concepção de um layout totalmente novo para os sites do Ministério, do Programa Monumenta e da Fundação Palmares, para entramos o ano com uma boa proposta de integração web para todo o sistema MinC. Isto sem falar nas interfaces que estas propostas apresentam com os demais projetos...

Espero estar mais presente por aqui, já que a visitação teima em se manter constante mesmo com a minha inconstância. Saudações aos visitantes!

terça-feira, junho 28, 2005

Os juízes americanos querem matar o p2p
- o que temos nós com isso?

Para muitos de nós hoje é dia de lamentar a decisão da Suprema Corte americana dando vitória aos estúdios de hollywood no processo contra os desenvolvedores de aplicativos p2p para compartilhamento de arquivos, que diz basicamente o seguinte: os estúdios MGM podem processar a Grokster Co. se suas redes forem comprovadamente utilizadas para roubar música, filmes e outros conteúdos protegidos -- e houver evidência de intenções ilegais por parte dos desenvolvedores do software (esta parte da decisão é importante para entender a estratégia dos juízes). Para os criadores de tecnologia, e para os grupos de defesa dos usuários, esta é uma decisão que irá congelar a inovação e resultar em inúmeros processos legais análogos por parte das grandes corporações ('gargalos') de mídia para 'matar' novas idéias e possibilidades tecnológicas.

"Esta decisão dá aos detentores de conteúdo um tremendo poder de ditar o tipo de tecnologia que será permitida aos consumidores utilizar." declarou Jason Schutz, da EFF, na Wired.
Uma observação menos apaixonada da decisão, sugerida por John Palfrey, indica que os Juízes supremos deram uma tacada corporativista, ao mesmo tempo em que agradaram -- de certa forma -- os big players de ambas as partes (indústria dos entretenimento x indústria tecnológica). Os grandes da tecnologia tinham medo de ver revertida a decisão de 1989 do caso Sony, que foi mantida, e podem agora dormir tranquilos. Apenas terão que se perguntar, de agora em diante, se ao distribuir uma nova tecnologia estão agindo de forma razoável no que diz respeito à mensagem passada aos usuários sobre as possibilidades daquela inovação. Ou seja, advogados bem remunerados serão necessários para sabermos: será que o meu modelo de negócio induz terceiros a violar direitos autorais? que tipo de publicidade pode me causar problema? que fazer para impedir usos ilegais de minha tecnologia? Como diz o Lessig, sempre os advogados! Para os big players, com suas margens de lucro gordurosas nos mercados globais, contratar mais advogados não faz muita diferença -- afinal são cidadãos americanos que precisam trabalhar... Ou seja, uma grande decisão, onde todos (principalmente os advogados) saem felizes.

A notícia deu até no Jornal Nacional - uma chamada incompreensível (!) para quem não acompanha o assunto, mas um sinal de como o tema é caro nas trincheiras da 'big mídia' por aqui. De nossa parte, seguimos empunhando a bandeira da Ecologia Digital contra a influência das corporações, dos advogados, e de governos inescrupulosos no ambiente da rede. Sabemos que nossos garotos vão continuar inventando possibilidades neste ambiente open source tupiniquim, e certamente não terão que contratar os tais advogados para descobrirem se estão mal-intencionados -- pelo menos por enquanto. De fato, não vejo razão para que o Brasil coopere com a aplicação de leis que não condizem com o nosso contexto de desenvolvimento e com nossas interpretações e escolhas. Diante de tudo isso, parece que Richard Florida tem razão em seu livro 'The flight of the creative class', onde prevê que os EUA estão avançados no processo de deixar de ser o principal centro de inovação tecnológica no mundo. Por mim, tô nem aí.

Scoble tem ótimos links no tema, e vale conferir o debate interativo no WSJ.

update 28/06: Veja também Siva Vaidhyanathan na Salon; Mike Godwin na Reason; e também Mark Cuban; uma síntese geral da reação na blogosfera pelo Eric Goldmann; e a avaliação pós resultado do Fred von Lohmann (EFF).

sexta-feira, março 18, 2005

Novo site do MinC no ar
- Conceitos em prática

Foram alguns meses de ralação, mas finalmente lançamos o novo site do Ministério da Cultura!! Congratulações à turma da Gerência de Informações Estratégicas (eu mesmo, metal e dpádua) do MinC, e agradecimentos a todos os colaboradores (Letícia, Thati, Acco, Cadu, Hugo, Uirá, Claudio Prado, Ananias, Raquel, Clélia, Márcia, Sheila, Turiba, e daí por diante... até o Ministro Gil, pela oportunidade).

Começando pelo contato, ainda no ano passado, com o Maratimba (André Passamani) lá na Prefeitura de Sampa (gestão anterior), o projeto sempre procurou implementar os conceitos de liberdade e autonomia promovidos pela Ecologia Digital. Nos aliamos ao projeto Waram, cujo histórico credenciava-o como solução de acordo com o plano traçado: configurar um CMS (preferencialmente em PHP/MySQL, para aproveitar a base de desenvolvimento em ASP nativa na esplanada) em parceria com uma comunidade de desenvolvimento (preferencialmente com demandas parecidas às do MinC), de forma a criar condições de reponder às demandas do discurso hacker do ministro.

Era fundamental criar a capacidade interna de desenvolver e configurar novas possibilidades na plataforma de publicação selecionada, e que esta pudesse ser posteriormente implementada de forma fácil e com baixo custo nos sites das unidades vinculadas do ministério, criando assim o ambiente ideal para a integração das diferentes instâncias do projeto web do sistema MinC, e respectivos programas e ações. Tirando partido das conexões (eternamente vivas) originárias do Projeto Metáfora, conseguimos importar dois reforços de peso para o bunker da GIE/SE (sigla esplanádica) -- Daniel Pádua e Marcelo Metal.

Várias madrugadas, alguns fins-de-semana, disque-giraffas / habbibs colado no monitor, muitos cronogramas estourados, mas agora tá lá: www.cultura.gov.br. Páginas comentadas (Câmaras Setoriais), XML funcionante, e principalmente, engajamento do ministério na viabilização do site como instrumento de gestão / comunicação / diálogo. O site institucional como "superfície porosa" de contato entre o órgão e seus usuários, e não mais um gargalo restringido por ditaduras ténicas ou clichês defuntos de 'Public Relations'.

E isto é só o começo. A galera já está animada a partir prá cima da intranet (com jabber e blogs), waram 2.0 (alô Maratimba!), interfaces xemelentas com Conversê e Pontos de Cultura, e outras iniciativas de dinamização e democratização do acesso aos bens da cultura. E vamo que vamo.

Bônus Link: aproveito o ensejo e a oportunidade para divulgar uma outra ecologia inovadora, bem sacada pelo colega Elias Ulrich. Viva a Ecologia Cognitiva!! (via Psicotropicus). Saudações blogueiras!

E VIVA SÃO JOSÉ!!!

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Quem é que Pod-e?
- Reverberações do fenômeno Podcasting na ecologia digital

O que é Podcasting? O texto do Rodrigo Stulzer no Dicas-L tem as palavras mais bem colocadas para introduzir uma noção geral:

Podcasting, você ainda vai ouvir muito esta palavrinha.

Explicação técnica: rss de áudio.

Explicação normal: É uma espécie de rádio via Internet, mas não é ao vivo. E esta é a grande vantagem! Você escolhe o que quer escutar, instala um programa no seu computador e ele baixa automaticamente, todos os dias, os programas que você escolheu. Daí você escuta no próprio computador, mas se tiver um mp3player qualquer (iPod), pode escutar na rua, no trânsito, no ônibus, etc. ... Com o podcasting você terá não uma, mas centenas de "rádios" para escolher, sobre os mais diversos assuntos... E o que pode acontecer daqui para a frente? Milhares de "estações" de podcastings espalhadas pela Internet; cada um falando sobre o que gosta para uma audiência que compartilha das mesmas coisas. Programas mais fáceis de mexer e que comunicam diretamente com o seu telefone celular, que por acaso também pode tocar mp3. Você simplesmente seleciona os programas que gosta, pluga seu celular no computador (ou recebe tudo via bluetooth) e bingo! Horas e horas de áudio da maior qualidade, e o que é mais importante, do que te interessa!

Rodrigo Stulzer - Dicas-L (Unicamp)

O significado do Podcasting, esta nova modalidade(?) de mídia(?), pode ser dimensionado pela rapidez com que o termo se espalhou na rede. Em setembro do ano passado, quando Doc Searls publicou 'DIY radio with podcasting' ('Faça você mesmo o rádio com Podcasting'), o termo 'podcast' retornava 24 itens no Google; duas semanas depois já eram 53.200; hoje (20 semanas, ou 140 dias depois), está lá: 1.740.000 e subindo (veja como acompanhar estes índices). Deu até no NYTimes...

E tudo isso sem campanhas corporativas de marketing, nenhuma pesquisa tecnológica proprietária, e também nenhuma estratégia industrial. Não dá mesmo para imaginar reuniões departamentais discutindo o podcasting; equipes de TI brigando por ideologias da interoperabilidade, times de advogados explicando porque o conceito estaria infringindo esta ou aquela regulação internacional. Não daria certo, não seria viável.

'Geralmente, quando uma idéia tem grande significado, ela é, digamos, óbvia... e nem mesmo parece tão interessante à princípio. Não aparenta ser uma inovação, mas sim uma adaptação (um hack) de conceitos e tecnologias amplamente disponíveis, fáceis de entender e gratuitos. E quase sempre não foram concebidas em reuniões ou precisaram de qualquer planejamento para o seu desenvolvimento. Mas então, alguém observa aquele 'hack' e pensa à respeito. E então surge uma metáfora inspirada para descrevê-la. E então a onda começa. E é uma onda porque ninguém está no controle, exceto as pessoas que entendem como a metáfora funciona, e podem surfar a onda -- os 'experts' raramente captam estes significados, e quase nunca sabem surfar. '

Rex Hammock - 'The reason you've heard of podcasting'

Entretanto, este tsunami metafórico parece necessitar de alguns ajustes estratégicos para enfrentar o previsível contra-ataque das corporações da mídia tradicional (mainstream media). Quinze dias após publicar o manual do rádio "faça você mesmo", Doc declara abertamente que 'Podcasting não é rádio' (e não é 'webcasting', e também não é 'rádio pirata'):

'Há uma distinção a ser feita aqui, e é crítica se queremos manter o podcasting livre do regime regulatório que inviabilizou as Radios da Internet. Atenção: rádio é 'ao vivo'. Podcasting não é. No centro da questão está a definição de rádio na Internet -- 'streaming' -- como "performance" de uma "perfeita" cópia digital de conteúdos protegidos por direito autoral, e sujeita a regulamentações extremas que incluem extensivo (e caro) relatório de ouvintes e audições, de forma que as estações possam ser cobradas por stream, e por ouvinte, para cada música que eles venham a transmitir. E assim foi determinado o fim das rádios na Internet. Mas neste caso vocês estão falando de 'streaming', né? Podcasting é outra coisa.'

Doc Searls - 'Why podcasting isn't radio'

Bem, para pegar o real sentido do que está acontecendo só botando a mão na massa. A comunidade 'podcasting' é vibrante e conectada, cheia de novas idéias, e não para de crescer. Ainda não temos muitos podcasters tupiniquins, mas isso certamente vai mudar nas próximas semanas, e aí pod-eremos avaliar melhor o alcance da idéia, e analisar como a mídia nacional irá lidar com a novidade. Aqui vão alguns links básicos para quem está se introduzindo no pedaço. Você também Pod-e! (horrível essa...):

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Tags e a gentenomia
- Classificação cooperativa e identidade digital

Caramba! Comecei este post depois de ver a página de tags do CCMixter, e sacando a boa idéia de visualmente escalar as tags na relação 'tamanho x itens' (inspirada no del.icio.us e nas famosas TechnoratiTags). Aí me toquei da proximidade fonética de "tag" e "taxonomia" (tagsonomia?). Rewinding... primeiro foi o del.icio.us e depois o flickr, e o gmail fez o mesmo mas chamou de "label". E de repente estamos todos "tageando" tudo que passa pelo firefox. O Joho descreve assim os elementos básicos do movimento de socialização da classificação:

"Graças ao del.icio.us e depois o flickr em particular, centenas de milhares de pessoas têm sido introduzidas ao tagueamento "de-baixo-para-cima": Apenas 'taque'(!) uma tag em algo, e este algo ganha um valor social, não apenas individual"

David Weinberger - "The tagging revolution continues..."

O movimento já tem nome: folksonomy, ou gentenomia - neologismo para definir a prática de categorização colaborativa utilizando tags. A criação de metadados (dados sobre dados) através da folksonomia / gentonomia vem a ser a terceira (revolucionária?) via no assunto:

"A definição de metadados tem sido abordada geralmente de duas formas: criação profissional e criação autoral. Em bibliotecas e outras organizações, definir metadados -- primariamente na forma de registros catalográficos -- é tradicionalmente o domínio de profissionais dedicados trabalhando com regras detalhadas e vocabulário complexo. O problema principal com esta abordagem é a escalabilidade, e a impossibilidade de ser utilizada em vastas quantidades de conteúdo sendo produzidas e acessadas, especialmente no caso da web."

- "Folksonomies - Cooperative Classification and Communication Through Shared Metadata"

Mas é o próprio Weinberger que linka para uma imperdível blogada da Shelley 'Burningbird' apresentando uma outra visão ao tema:

"Acredito que o interesse em folksonomias desaparecerá da mesma forma que a maioria dos memes, que são interessantes como brincadeira. Eventualmente estamos interessados em projetos que não racham, lascam, ou tropeçam no dia do lançamento.

... não importa quantos truques se criem com esta coisa de tags, você só pode retirar daí a quantidade de conteúdo que foi colocado.

... a web semâmtica será construída "pelas pessoas", mas não será construída no caos. Em outras palavras, 100 macacos digitando por tempo indeterminado NÃO irão escrever Shakespeare; e nem 100 milhões de pessoas formando associações de forma randômica irão criar a web semântica
".

in Joho - "Burningbird on why tagging can't violate the Second Law of Thermodynamics"

Nem tão , nem tão . Em frente a tanta especulação sobre o futuro de algo que surgiu agora (mês passado, ou meio século/web atrás), em termos práticos tenho a dizer que me importo fundamentalmente com a autoridade de quem está por trás das tags. Não deixo de valorizar a reputação e autoridades coletivas, mas no contexto da busca de informação, valorizo mais quando tenho a condição de saber e escolher "quem tagueou", ou conceituou. Isto nos remete à questão da identidade, autoridade e reputação na rede -- de novo. Mas a conversa continua.

Bônus links: Delicious Mind Map Maker, (para visualizar suas tags em MindMap), e Delicious Tag Stemmer (para debugar sua lista de tags).

domingo, janeiro 30, 2005

Balanço do FSM: Referências e comentários

O Forum Social Mundial certamente não vai aparecer em sua TV, e portanto é necessário recolher os links que irão dar uma idéia mais aproximada do que ocorreu por lá.

Sobre o os painéis em destaque na Ecologia Digital, na V Ciranda encontram-se bons relatos (também do RITS). O texto apresentado pelo Manuel Castells ("Innovation, Information Technology and the Culture of Freedom") está no PSLBrasil. E o Lessig bloga novamente sobre Porto Alegre, sublinhando o que ele viu acontecendo na prática:

"Após o almoço visitei o Acampamento da Juventude do FSM, onde 50.000 barracas e 80.000 garotos participam dos eventos. No centro havia um laboratório de software livre com 50 máquinas rodando GNU/Linux, e aulas constantes sobre como configurar sistemas, como trabalhar com edição de áudio e vídeo, como participar em comunidades de software livre. O movimento era todo organizado pelos garotos -- máquinas em caixotes, o chão de barro e palha, cabos e caixas prá todo lado.

Tive a oportunidade de falar com um dos organizadores de uma parte do laboratório. Barlow e eu bombardeamos os garotos com perguntas enquanto descreviam os seus "mil pontos de cultura" -- projeto de criar mil locais espalhados pelo Brasil onde ferramentas de software livre estejam disponíveis para criar e remixar cultura. O foco é vídeo e áudio, e ninguém está muito interessado em aplicações Office ou coisas do tipo. É um extraordinário movimento de raiz devotado a um ideal (o software livre) e a uma prática (torná-lo real)."

Lessig Blog: "returning home"

E enquanto Lula em Davos recusava o convite de Gates para um encontro, no rescaldo do FSM Sérgio Amadeu (entrevista em áudio) e o ministro Gilberto Gil ("Convocação pela Liberdade Digital") dão o tom do discurso governamental na questão do conhecimento livre, onde se misturam software e cultura. O "encontro no acampamento" na visita surpresa do ministro e comitiva ao Laboratório de Conhecimentos Livres ficou famoso (veja o vídeo no CMI, e o relato via PlanetaPortoAlegre), recebendo eco no BoingBoing.

A questão do software livre no FSM chama a atenção do mundo. Foi destaque no vale do silício, em Seattle, no Canadá, na Turquia e na BBC.

UPDATE (31/01/2005): nossa valorosa NovaE também publica sobre o painel (aqui, e aqui), assim como o Intermezzo. Fora isso, a parada foi "slashdoted", mesmo porque já saiu na foxnews e gerou matéria (áudio) na NPR (National Public Radio) noticiando a "troca". ("The government of Brazil says it will switch 300,000 government computers from Microsoft's Windows operating system to open source software like Linux")

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Gil no FSM
- Lessig estava lá e viu

Lawrence Lessig reporta a passagem de Gil no acampamento da juventude do FSM:

"Nós chegamos no meio de um concerto. Pediram para Gil falar, e quando ele pegou no microfone, a tenda silenciou. Centenas de pessoas estavam apertadas em um espaço muito pequeno. Gil começou a descrever o trabalho do governo Lula em apoiar o software livre, e a cultura livre, quando o debate esquendou. Não falo português, mas um brasileiro traduziu para mim e Barlow. O garoto estava questionando sobre rádio livre. Após dois minutos de diálogo, 8 mascarados subiram em cadeiras desfraldando banners demandando rádios livres. Uma grande discussão explodiu, com o ministro Gil entrando em conversa direta com inúmeras pessoas. Após 20 minutos a discussão cessou. A banda tocou novamente, e então Gil foi convidado a cantar. Por mais outros 20 minutos, este estraordinário artista cantou sua música acompanhado por toda a audiência (exceto Barlow e eu)."

"Mas o mais incrível é a dinâmica desta democracia. Barlow tirou a foto acima, que em certo sentido captura tudo. Aqui está um ministro do governo, cara a cara com simpatizantes e oponentes. Ele fala, as pessoas protestam, e ele dialoga com o protesto. De forma passional e direta, o ministro se mantém no nível da argumentação. Não há distância. Não há uma "zona de livre manifestação". Ou melhor, o Brasil é a zona de livre manifestação. Gil pratica as regras desta zona."

(Lessig Blog: different worlds)

UPDATE: o Bica, e não deixa o Lessig falando sozinho.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Reativando: porque a rede está mesmo muito quente!

O blog adormeceu por algumas semanas, em meio a muito serviço, férias offline, meninos que não saem da frente do(s) teclado(s) - vide ao lado - e outras variáveis. Mas a frequência das vibrações na rede vêm subindo exponencialmente desde os abalos do tsunami -- que vieram demonstrar novamente que uma rede inteligente (ou 'citizen journalism', como queiram) excede em eficiência e alcance qualquer empreendimento proprietário em comunicação -- e a Ecologia Digital não poderia deixar de reportar.

O FSM é a bola da vez e os picos, além da movimentação da mídia alternativa com o Fórum Copyleft e o Laboratório de Conhecimentos Livres, são as mesas da Revolução Digital:

Em meio a tudo isso a VEJA ("o PT deixou o Brasil mais burro?") continua forçando a barra, e "ecoa a pretensa incultura do governo encabeçado por um ex-metalúrgico, quem sabe inclinado à revanche de deliberado sabor esquerdista em relação aos doutores". Em boa hora temos Mino Carta assinalando que "a mídia nativa tem sido muito eficaz na proposição de clichês, prontamente engolidos pela distinta platéia, mesmo porque os próprios mestres midiáticos acreditam no que dizem"("Quando Miami vira a Meca" - CartaCapital, 26 de Janeiro de 2005 - Ano XI - Número 326).

E o que a Ancinav tem a ver com isso? Tudo. Bônus link: "Estante Clandestina"

E depois das últimas ( ! ) ( ? ) de Bill Gates, não posso deixar de destacar (via HD) a nota do governo (ITI, como não?) afirmando que a "pirataria é incentivada pelo preço proibitivo" dos softwares. E também a cruzada do Marcelo Thompson (também ITI, claro), que resultou na posição da PGR (veja íntegra do parecer) em defesa da constitucionalidade da lei gaúcha sobre o uso preferencial de SL (suspensa pelo STF, para estranheza da AGU e todos nós).

Ao fim, a nota triste deste dia 26 de janeiro de 2005.

Às nove horas da manhã, no Céu do Mapiá (AM), a Madrinha Cristina Raulino da Silva fez a passagem para a dimensão espiritual, deixando toda a irmandade do Santo Daime saudosa de sua presença amorosa:"Nossa bem amada Madrinha viajou hoje, para se encontrar com nosso abençoado Padrinho Sebastião, Mestre Irineu e todos nossos queridos companheiros que neste momento devem estar festejando sua chegada.
hinodasemana